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Discurso berlinense

24 de março de 2009

"Discursos berlinenses" são realizados regularmente há 12 anos: uma oportunidade para o presidente avaliar a situação alemã. Este ano, Horst Köhler centrou-se na crise econômica e em suas consequências para a sociedade.

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Köhler na Igreja de Santa ElisabeteFoto: picture-alliance/ dpa

Em discurso à nação, nesta terça-feira (24/03), o presidente alemão, Horst Köhler, alertou a população para que se prepare para tempos difíceis. O desemprego crescerá e será necessário pensar radicalmente diferente, para vencer a crise. Pois sozinho o mercado não determina a situação. "É preciso um Estado forte, que imponha regras ao mercado e faça com que sejam cumpridas", afirmou.

Na Igreja de Santa Elisabete, em Berlim, ele fez um apelo, a fim de que os cidadãos da Alemanha se imponham novas metas, atentando para a sustentabilidade e encarando um modo de vida econômico como expressão de decência. Segundo o chefe de Estado, nos próximos meses "nos sentiremos impotentes e indefesos e irados. Porém jamais houve uma época em que o nosso destino estivesse tanto em nossas mãos quanto hoje".

Para ele, a grande chance da crise é que todos podem reconhecer que "a humanidade está no mesmo barco". Faz-se necessária uma "revolução ecológica industrial", porém também uma nova forma de convivência, mais atenção, compaixão e cuidado, no sentido de reorientar "nossa busca de realização":

Advertência aos partidos da coalizão

Köhler – cuja formação é de economista – elogiou, no chamado "discurso berlinense" deste ano, o gerenciamento de crise da coalizão governamental, formada por conservadores cristãos (CDU/CSU) e social-democratas (SPD). "Nos últimos meses, governo federal e Parlamento provaram capacidade de ação e evitaram o ativismo de fôlego curto. Mesmo que atualemente não haja receitas prontas, os cidadãos podem ficar seguros de que "o caminho trilhado está correto".

Ao mesmo tempo, o presidente alemão advertiu os partidos políticos contra a instrumentalização da crise para fins eleitorais. Pois a luta pela melhor solução pertence à democracia. "Mesmo às vésperas de uma eleição parlamentar, não se tiram férias da responsabilidade de governar."

Justamente num momento de crise, a população tem direito de esperar que seu governo atue em frente unida, afirmou. "A crise não é um cenário para lutas de exibição. Ela é uma prova de fogo para a democracia como um todo."

Mercado moral

Em sua opinião, a Alemanha – na qualidade de maior economia da União Europeia – deveria assumir uma posição de liderança no combate à crise financeira. Isso requer uma nova ordem do mercado financeiro, melhores regras, supervisão eficaz e responsabilização efetiva. "O mercado precisa de regras e de moral."

O ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) não excluiu a possibilidade da participação estatal no salvamento de bancos. No tocante à Opel, foi mais cauteloso. Ele vê o futuro da montadora na qualidade de seus engenheiros, que haveriam trabalhado adiante de seu tempo. "Aqui eu vejo a esperança para a Opel", assim como "na prontidão dos empregados e da direção de conviver em confiança, para além de todos os estereótipos", declarou.

Economia social de mercado alemã como modelo

Köhler atribuiu à política parte da responsabilidade pela crise, por haver aumentado o endividamento público durante longo tempo, apesar da prosperidade crescente. Sua crítica se dirigiu igualmente ao mundo das finanças, para o qual erigir "pirâmides financeiras" tornou-se um fim que justifica os próprios meios. "Temos vivido acima de nossas possibilidades", condenou.

Justamente na crise se confirma o valor da economia social de mercado, que une liberdade e responsabilidade em prol do bem comum, observou. O fato de o presidente norte-americano, Barack Obama, também estar proprondo para seu país um modelo semelhante ao modelo alemão da economia social de mercado mostraria que "os alemães têm como contribuir para enfrentar a crise", afirmou o chefe de Estado.

O quarto "discurso berlinense" de Köhler foi intitulado "Credibilidade da liberdade".

"Discursos berlinenses"

Bundespräsident Herzog bei Berliner Rede
Roman Herzog no primeiro dos 'discursos berlinenses'Foto: picture-alliance / dpa

O então presidente alemão Roman Herzog fundou a tradição dos "discursos berlinenses" em abril 1997, apresentando no Hotel Adlon uma avaliação rigorosa da situação nacional. A iniciativa é da firma Berlin Partner, e a escolha do tema e do orador fica a cargo do chefe de Estado. Mas geralmente ele próprio toma a palavra.

Em 1998 e 1999 o então presidente finlandês Marti Ahtisaari e secretário-geral da ONU Kofi Annan foram os escolhidos, respectivamente. O sucessor de Herzog, Johannes Rau, falou em 2000 sobre a convivência entre alemães e estrangeiros e, até o fim de seu mandato, em 2004, sobre temas como engenharia genética e globalização.

Em 2005, o democrata cristão Horst Köhler renunciou à cerimônia, devido à campanha eleitoral. Seu primeiro discurso, no ano seguinte, trouxe o título "Educação para todos" e foi realizado no bairro de Neukölln, marcado por tensões sociais. Seguiu-se "A procura humana da felicidade muda o mundo", sobre a globalização.

Em 2008, na residência presidencial Bellevue, ele escolheu o lema "Trabalho, educação, integração" e pleiteou uma "Agenda 2020", com boas chances de formação para todos e uma economia de mercado sobre bases éticas.

AV/SM/ap/afp/epd