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Boicote prossegue

Agências (sm)29 de maio de 2008

O aumento da produção européia de leite e a pressão das redes de supermercados baratos para baixar o preço levam pecuaristas a boicotar indústria de laticínios e exigir preço mínimo.

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Pecuária de leite, um setor ameaçado pelo excesso de produçãoFoto: AP

O boicote dos produtores de leite alemães, iniciado há três dias, ainda não esvaziou as prateleiras dos supermercados. A previsão da Confederação Alemã da Pecuária de Leite (BDM), segundo a qual a suspensão do fornecimento virá a afetar o consumidor a partir desta sexta-feira (30/05), é considerada improvável pelos distribuidores.

A BDM reivindica que a indústria de laticínios passe a pagar aos produtores pelo menos 0,40 euro por litro de leite. O atual preço oscila entre 0,27 e 0,35 euro, dependendo da região. Além disso, os produtores querem passar a negociar com a indústria um preço mínimo para o litro de leite, a ser fixado a cada ano.

Excesso de produção européia

A drástica queda do preço do leite pago aos produtores alemães, que em meados do ano passado ainda era de 0,43 euro por litro, foi motivada por uma nova regulamentação européia, mas também pela crescente pressão das cadeias de supermercado de produtos baratos sobre a indústria de laticínios.

Em início de abril passado, a União Européia elevou a cota de produção do leite em 2%, a fim de impedir a escassez de laticínios no mercado. Isso significa que os produtores podem produzir mais 2%, sem ter que pagar a multa de excesso de produção. Em decorrência disso, a produção aumentou em toda a Europa e fez os preços caírem.

Desde 1984, a UE regula o mercado de leite através da imposição de cotas, tendo reduzido dessa forma a produção ao longo dos anos. Os produtores interessados em ampliar sua produção têm que apelar para as bolsas de leite e adquirir cotas de outros que tenham reduzido ou encerrado sua produção. Esse sistema de cotas deverá ser revogado em toda a Europa até 2015.

Inciativa anticartel contra supermercados

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Boicote de produtores alemães tem o apoio de outros países europeusFoto: AP

O atual boicote dos produtores de leite alemães se dirige, no entanto, contra a indústria de laticínios, que passou a ceder cada vez mais à pressão de cadeias de supermecados baratos, como Aldi e Lidl.

O conflito entre os produtores e o comércio foi parar no Departamento Federal Anticartel, que está observando a situação. A Federação Alemã de Agricultores encaminhou sua reclamação, na expectativa de que o governo intervenha para regulamentar o mercado.

Na segunda-feira (26/05), três cadeias de supermercado baixaram o preço dos laticínios. Toda vez que os supermercados Aldi fazem um acerto com a indústria de laticínios, todo o setor de comércio alimentício adere, baixando os preços em todo o país. Os contratos dos produtores de leite com a indústria, que originariamente duravam um ano, passaram a valer apenas seis meses.

Pecuária intensiva é dispendiosa

Na Alemanha, a pecuária de leite – que inclui cerca de 100 mil empresas – produz anualmente 28 milhões de toneladas do produto. Cinco milhões de toneladas são processados como leite fresco, pasteurizado ou condensado. Outros cinco milhões de toneladas são destinados para a produção de manteiga.

O setor, cada vez mais instável depois que a União Européia deixou de intervir para sustentar o nível dos preços, sofre cada vez mais com a desvalorização do leite no mercado. A imprensa alemã relata casos de agricultores renanos que recebem 0,36 euro por litro de leite vendido à indústria de laticínios. Para eles, não vale mais a pena produzir por esse preço, considerando o alto custo da produção.

Uma vaca consome 50 quilos de capim, cevada e milho por dia, por exemplo. A fim de produzir 10 mil quilos de leite por ano, um desempenho máximo, a vaca deve ser alimentada com ração altamente protéica, que hoje custa o dobro do que há dois anos. Isso também se aplica ao adubo, ao diesel e a outras despesas, além do fato de a pecuária semi-intensiva ser em si mais dispendiosa do que a extensiva.

Os pecuaristas alemães receberam sinais de solidariedade por parte de produtores de leite de outros países europeus. Diversas associações pecuaristas demonstraram seu apoio ao boicote. Uma federação de produtores de leite dinamarquesa aventou até mesmo a suspensão da exportação para a Alemanha.