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Tecnologia alemã ajuda pequeno agricultor no Rio

Karina Gomes12 de março de 2014

Com ajuda da tecnologia, programa combina desenvolvimento econômico e sustentabilidade no campo. Mercado internacional de carbono é a principal estratégia para incrementar a renda do agricultor.

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Foto: S. Siciliano

A região serrana do Rio de Janeiro que, em janeiro de 2011, foi palco do maior desastre climático da história do país, desafia cientistas a pensar em tecnologias capazes de recuperar as imensas áreas degradadas. Unidos a pesquisadores brasileiros, profissionais de diferentes nacionalidades tentam adaptar tecnologias já em uso em outros países à realidade brasileira.

Em comunidades rurais do nordeste do Rio de Janeiro, a mexicana Berenice Quintana busca maneiras de aliar o aumento da renda de pequenos produtores com a conservação dos recursos naturais da região. A pesquisadora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Colônia, na Alemanha, desenvolve desde janeiro um software que irá reunir dados sobre as espécies nativas e as condições socioeconômicas dos produtores de gado.

As informações poderão ser utilizadas por agências governamentais para a criação de sistemas silvipastoris - alternativa para o manejo sustentável das pastagens. "Com o software, será possível avaliar a viabilidade da implantação desse modelo. Incluir árvores nas pastagens é um bom caminho para conservar o solo, a água, a biodiversidade e capturar carbono. E isso também pode proporcionar dinheiro para as famílias", explica.

A pesquisa é fruto de uma parceria entre a Secretaria de Agricultura e Pecuária do Rio de Janeiro e o governo da Alemanha. Orçado em 9,2 milhões de reais, o projeto Intecral - sigla para Integração de Eco-Tecnologias e Serviços para o Desenvolvimento Rural Sustentável no Rio de Janeiro - tem o objetivo de subsidiar o acesso de pequenos produtores rurais do estado a tecnologias sustentáveis num período inicial de três anos.

"O foco é adaptar as tecnologias alemãs à situação do pequeno agricultor nas condições ambientais das microbacias hidrográficas fluminenses", conta Juan Carlos Torrico, coordenador do projeto.

Outra tecnologia em fase de adaptação é um sistema de avaliação das condições da paisagem por meio de imagens de satélite. Ele vai agregar indicadores que possam dar base à tomada de decisões.

"As universidades alemãs têm experiência no trabalho de recuperação de áreas degradadas. Na Alemanha, o sistema é utilizado para acompanhar a revitalização dos rios e, agora, vai servir para o monitoramento da região serrana do Rio", afirma.

Sustentabilidade no campo

A parceria integra as universidade de Leipzig, Jena e Colônia, na Alemanha, e três instituições de ensino superior do Rio de Janeiro, entre elas a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal Fluminense (UFF).

Mitglieder des Projekts INTECRAL
Membro do projeto Intecral faz a coleta de água do rio Macabu para análise na região serrana do Rio de JaneiroFoto: F. Filgueiras

A iniciativa, em vigor desde novembro do ano passado, prevê a execução de quatro pacotes de trabalho, que abrangem desde soluções simples de saneamento básico para a região de Nova Friburgo, por exemplo, ao estudo de gargalos na comercialização de produtos cultivados pelos agricultores locais.

As plantações de cana-de-açúcar despertaram o interesse dos pesquisadores da Universidade de Colônia. O grupo desenvolve o protótipo de uma colheitadeira ecológica. O maquinário dispensa a queima da planta e foi testado com sucesso em plantações de milho na Alemanha. A intenção é adaptar o produto para ser utilizado pelo pequeno produtor do Rio de Janeiro. "Não é necessário queimar as folhas e os restos podem ser incorporados ao solo ou servir de alimento aos animais", destaca Torrico.

Em parceria com empresas privadas alemãs, os integrantes do projeto também testam a adaptação de um kit de monitoramento de qualidade da água. O equipamento contém um pequeno computador que armazena as informações sobre as substâncias presentes nas nascentes e nos rios. "Os dados são transmitidos e compartilhados automaticamente para os grupos de pesquisadores que estão no Brasil e na Alemanha."

Créditos de carbono

O mercado de carbono está inserido no projeto Intecral como uma forma de gerar renda extra aos agricultores. Conforme estabelecido pelo Protocolo de Quioto, quem promove a redução da emissão de gases poluentes pode vender os créditos de carbono a países que têm metas a cumprir.

Sabine Schlüter, vice-diretora executiva do Instituto de Tecnologia e Gestão de Recursos em Regiões Tropicais e Subtropicais da Universidade de Colônia, conheceu de perto as microbacias hidrográficas nas regiões norte, noroeste e serrana do Rio de Janeiro.

Mitglieder des Projekts INTECRAL
Pesquisadores discutem monitoramento dos recursos hídricos durante visita às zonas ruraisFoto: F. Filgueiras

"Visitando as zonas rurais, fizemos um trabalho de avaliação do potencial do sistema agroflorestal para o mercado de carbono", explica. "O trabalho envolve entender a situação da família, identificar potenciais e promover atividades que contribuam para a saúde da floresta e, ao mesmo tempo, dêem um retorno financeiro ao produtor."

Mais de 90 mil agricultores familiares vivem no Rio de Janeiro, número que vem caindo a cada ano. "O principal desafio é o pequeno produtor e os filhos se manterem na atividade, principalmente no Rio de Janeiro, que tem o PIB fortemente ligado à indústria", diz Marcelo Costa, coordenador de gestão de informação e monitoramento do programa Rio Rural.

O Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável em Microbacias Hidrográficas do Governo do Rio de Janeiro é o executor da parceria com a Alemanha no Brasil. Financiado pelo Banco Mundial, o Rio Rural tem o objetivo de incentivar práticas sustentáveis e técnicas produtivas mais eficientes nessas regiões.

"Se comprovarmos que o produtor trabalhando de forma sustentável pode gerar um serviço ambiental, será possível gerar um ganho muito grande para esses agricultores", destaca Costa.