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Pé na praia: Filosofia de rua

Thomas Fischermann
26 de abril de 2017

Na coluna desta semana, um monólogo de um homem para quem eu dei uma carona, recentemente, num longo passeio de carro numa BR no coração do Brasil.

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DW Brasilianisch Kolumne - Autor Thomas Fischermann
Foto: Dario de Dominicis

"Você é repórter? Alemão? Eles falam muita besteira para você? Tem que tomar cuidado. Há muita gente ruim aqui. Muita! Tem que saber.

Na vida, deixa eu te falar, tem dois tipos de pessoa. Tem puta boa e puta ruim. Tem um tipo, enquanto você tem dinheiro, enquanto você dá uma bolachinha, um cartucho para a espingarda dele, você é amigo dele. Você parou de dar isso, acabou, você não vale mais nada para ele. Aí vai chegar outro, vai começar a dar um litro de pinga, um anzol para ele pescar, e ele vai virar amigo do outro. Você já não presta mais.

Conheço os cabarés, conheço. Sei como é a puta boa e a puta ruim. Já fui preso dentro do cabaré, umas e outras ocasiões na minha vida. O homem é bandido, o homem branco é bandido. Eu não vou falar mal de ninguém aqui, só me deixa dizer uma coisa. Acho que quem é bandido tem que pagar. Você acha que eu fui preso por ser inocente? Para! Fui preso bebendo, brigando. Dando tiro. No Brasil é proibido arma, entendeu? Então a polícia encontra com um homem que dá tiros dentro do cabaré. Vai ser preso, né? Claro que vai ser preso. É justo.

A puta ruim é assim: enquanto você está pagando cerveja para ela, ela te abraça, chama você de 'meu amor'. Aí acabou seu dinheiro, ela vai para outro. Ela já não vai nem querer saber de você.

O que você perguntou? Quer saber o que é uma puta boa? Uma puta boa é aquela que... olha, você está bebendo com ela a noite toda. Entendeu? Aí está pagando para a noite inteira. Aí seu dinheiro acabou, mas ela ainda vai dar um picote com você. Coisa rápida, então, não muito demorada. 'Você bebeu, nós ficamos a noite toda aí, fui com a sua cara.' Entendeu? Isso é a puta boa.

Eu já encontrei umas dessas, até sem dinheiro. Chegava no cabaré assim, meio disfarçado. Olhando assim. A puta vinha falar: 'E aí, meu amor?' Né? Nunca tinha me visto, já me chamou de 'meu amor'. 'Vamos beber uma aí?' 'Não, hoje não, tá? Tô sem dinheiro'.

Aí começa a conversar, e então, rola um papo. Ela fala: 'Vamos lá para meu quarto, para tomar uma lá. Lá eu posso beber, eu te pago uma. Só não pode ficar aqui na frente, porque o dono do cabaré fica bravo'. Eu falei: beleza! É beleza, não é? Fomos pro quarto.

É igual gigolô de puta, né? Às vezes, a vida é até assim. Chega a hora de ser o gigolô de puta."

Thomas Fischermann é correspondente para o jornal alemão Die Zeit na América do Sul. Em sua coluna Pé na Praia, faz relatos sobre encontros, acontecimentos e mal-entendidos – no Rio de Janeiro e durante suas viagens. Pode-se segui-lo no Twitter e Instagram: @strandreporter.