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Quando o óbvio é contestável

Alessandra Andrade24 de janeiro de 2002

Como os alemães analisam a familiaridade das brasileiras com as cirurgias plásticas. Diferenças de valores entre culturas divergentes.

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Equipamento cirúrgico apresentado na feira Medica, em DüsseldorfFoto: AP

"Por que as brasileiras gostam tanto de fazer cirurgia plástica?" O título da reportagem do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) desta quinta-feira (25) levanta uma questão intrigante para os europeus, porém, sem muito fundamento para os brasileiros. A sua resposta está na ponta da língua de qualquer mulher de puro sangue verde-amarelo: Para ficar mais bonita, oras!?! O que não é selbstverständlich para os alemães ou óbvio para os latino-americanos é exatamente a diferença cultural, principalmente no que se refere a valores, para os cidadãos destas tão diferentes nações.

O culto ao corpo e a popularidade das plásticas entre as brasileiras são assuntos que já viraram capa de revista e artigo de jornal não só no Brasil como no exterior. Muitos deles consideram exagerada a procura pelas plásticas, mas a opinião a respeito dos especialistas do bisturi é unânime: "Cirurgiões brasileiros atuam internacionalmente e estão entre os melhores do mundo", confirma a reportagem do FAZ.

Para os alemães, mais intrigante do que a familiaridade dos brasileiros com o bisturi é o fato de estes fazerem questão de mostrar as beldades operadas. Quem é que não sabe que a Carla Peres já ganhou um novo nariz, maiores bustos e uma cinturinha mais fina? Na Alemanha, tudo é bem diferente. O cirurgião brasileiro Nelson Heller afirmou ao jornal alemão: "As alemãs preferem viajar para o exterior para esconder que fizeram plástica."

O Brasil é o primeiro da lista em números de cirurgias plásticas. No ano passado, foram feitas 350 mil operações – 207 para um grupo de 100 mil habitantes. Já os Estados Unidos, que ocupa o segundo lugar da lista, registrou uma relação de 185 plásticas para cada 100 mil pessoas. É por isso que personalidades, como Adriane Galisteu, se orgulham de dizer que nunca estiveram em uma mesa cirúrgica e são, mesmo, bonitas por natureza.

Conversando com Nelson Heller, o jornalista alemão Jens Soentgen do FAZ analisa as fotos das pacientes operadas e comenta os processos e os materiais cirúrgicos do especialista. Para explicar o formato e a textura de uma peça de silicone ele a compara com uma "medusa do mar do Norte" e com o material das solas de tênis. Além disso, ele se interessa exatamente pelo que, na verdade, ninguém se preocupa em saber quando procura um cirurgião plástico: o que é feito com os restos da cirurgias? "O lixo da clínica de Heller não é jogado fora, mas queimado" e – veja só – por uma empresa alemã. O artigo vai a fundo nos detalhes: "Todos os restos vermelhos e grudentos, incluindo gordura e cartilagens, produzem em média 20 sacos de lixo de 200 litros por semana." Um detalhe que soa um pouco estranho para uma reportagem que está se referindo a cirurgia plástica, estética e beleza. Parece que realmente os alemães não entendem muito desse assunto e, em matéria de beleza, o Brasil é o país desenvolvido.