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Que chance tem Angela Merkel de candidatar-se?

Augusto Valente8 de janeiro de 2002

O fato de a líder dos democratas-cristãos estar no páreo para a candidatura à Chancelaria Federal é, em si um fenômeno: a Alemanha governada por uma mulher. Contudo, suas reais perspectivas não são assim tão rosadas.

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Merkel x Stoiber: homem ou mulher, eis a questãoFoto: AP

As chances não são das melhores, porém o fato em si já é um marco: pela primeira vez na história da Alemanha uma mulher é cogitada para concorrer à chefia do governo. Trata-se de Angela Merkel, líder da União Democrata-Cristã (CDU), que compete com Edmund Stoiber, da União Social-Cristã (CSU), para ser a candidata dos partidos conservadores à Chancelaria Federal.

Um claro indicador das dificuldades que Merkel ainda terá que enfrentar é a sugestão de políticos de ponta da CDU, de que ela seria ideal para o cargo de presidenta da Alemanha. O aparente elogio implica, naturalmente, abandonar as ambições de chefe de governo e dedicar-se intensamente à candidatura para a Presidência. No sistema parlamentarista da Alemanha, o cargo de chefe de Estado é um cargo de representação, ou seja, seu ocupante é uma figura praticamente decorativa.

De sua parte, Stoiber prefere evitar o combate aberto. Ele acredita numa solução harmoniosa e prometeu "discutir tudo com a senhora Merkel". O líder da CSU exortou os partidos cristãos a agir no interesse comum, para conquistar os eleitores inseguros com a atual conjuntura. De seu ponto de vista, os erros da coalizão de governo na política econômica trazem à CDU/CSU a grande chance de apresentar alternativas.

Os homens temem as mulheres no poder

O conceituado psicanalista Horst-Eberhard Richter advertiu para o fato de as cartas de Merkel serem ruins por ela ser mulher: "Os homens querem a mulher amável, e não uma que concorra com eles pelo poder." Além disso, a CDU não parece confiar na capacidade de sua presidenta vencer, na rodada final, o grande adversário: o atual premiê alemão Gerhard Schröder.

Após o escândalo das doações, envolvendo o ex-chanceler e ex-presidente da CDU Helmut Kohl, Angela Merkel angariou considerável respeito nos quadros do partido, porém este bônus já se esgotou. Richter, que dirige o Instituto Sigmund Freud de Frankfurt, descreve os dois papéis bem distintos que ela representa: "Em crises morais, as mulheres desempenham uma função de redenção." Este fenômeno explica, por exemplo, a nomeação de Renate Künast como ministra da Agricultura, em decorrência da crise provocada pela "síndrome da vaca louca" (BSE). Entretanto, em questões de competição, os homens continuam temendo as mulheres dispostas a assumir o poder.

Na opinião pessoal do psicanalista, uma primeira-ministra tranqüila e com formação científica, como Merkel, faria bem aos alemães. Contudo admite que, enquanto político, Edmund Stoiber é taticamente superior a Angela Merkel.

Alemães não estão preparados

Por sua vez, a psicóloga Christa Rüssmann-Stöhr vê a situação da eventual candidata ao governo com olhos mais rigorosos. Ela considera a atitude de Merkel excessivamente defensiva. Mulheres como ela não transmitem capacidade de impor-se. Para piorar, ela vem recentemente reagindo com agressividade às pressões externas. E isso não combina com sua imagem, critica a psicóloga. Também desvantajoso seria o fato de Merkel vir do leste da Alemanha, assim como sua descendência política direta do ex-premiê Kohl. Em contrapartida, o concorrente Edmund Stoiber goza de "poder doméstico": aparentemente a população crê em sua maior capacidade de enfrentar o "labirinto de intrigas" dos meios políticos.

Na realidade, as mulheres possuem qualidades que fariam delas melhores políticas do que seus colegas masculinos. Elas são mais comunicativas e têm maior sensibilidade social: "Os acontecimentos as afetam mais intensamente e elas são bem mais honestas do que os homens", define Rüssmann-Stöhr. Só que esta é uma dessas qualidades que podem provar-se desvantajosas na dura prática política.

Na opinião de Christa Rüssmann-Stöhr, a Alemanha não está amadurecida para ter uma mulher no poder, uma situação que não se alterará nos próximos dez anos. A hora do "sexo frágil" só chegará mesmo quando o clima for outro, e conteúdo político passar a ser mais importante do que poder. Mas isso ela não viverá para ver, conclui pessimista a psicóloga de 53 anos de idade.