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Quebrar tabus é o melhor contra o suicídio

Gudrun Heise / Clarissa Neher10 de setembro de 2014

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo. Prevenção é possível, mas tema precisa ser tratado mais abertamente.

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Foto: Fotolia/Kwest

O suicídio é um tema tabu, além de ser estigmatizado. Por isso, médicos, terapeutas e organizações de ajuda têm dificuldades em preveni-lo. Para mudar esse cenário, a Organização Mundial de Saúde (OMS) pretende, com o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, lembrado nesta quarta-feira (10/09), aumentar a compreensão para com pessoas em risco, também publicamente.

Os motivos que levam pessoas a acabar com a própria vida são bem diferentes de um país para o outro, afirma Matthis Muijen, da OMS. "Com frequência estão relacionados à pobreza em regiões rurais, pessoas que perderam sua base de vida, não sabem mais como continuar e acabam tomando pesticidas para morrer", diz o especialista.

Pesticidas usados na agricultura podem ser altamente tóxicos. "É muito trágico. Frequentemente, o veneno demora alguns dias para fazer efeito. Então não há mais como voltar atrás. Muitas vezes, pequenos agricultores têm muitas dívidas ou tiveram uma safra ruim e de, tão desesperados, tomam pesticidas", afirma Muijen.

Segundo o relatório de prevenção de suicídio da OMS, divulgado no início de setembro, em 2012 foram registrados mais de 800 mil casos no mundo, ou seja, a cada 40 segundo uma pessoa se mata, em média. Cerca de 75% desses casos aconteceu em países de baixa e média renda.

A maior taxa de suicídio foi registrada na Coreia do Norte, com 39,5 casos por 100 mil habitantes. As taxas também são altas na Coreia do Sul, com 36,6 casos por 100 mil habitantes. No leste da Europa, por exemplo na Rússia (22,4), os números também são alarmantes.

No Brasil, a média é de 6 casos para cada 100 mil habitantes, e homens com mais de 70 anos são o maior grupo de vítimas. A taxa de suicídio entre os homens é quase quatro vezes maior do que entre as mulheres.

Prevenir é possível

Fatores culturais, sociais, religiosos e também a situação econômica são aspectos que levam ao suicídio. Em alguns países ele é ilegal, em outros é aceito pela sociedade.

Segundo o relatório, governos podem tomar medidas preventivas para tentar reduzir os casos. Uma das medidas possíveis é dificultar o acesso a medicamentos vendidos sem receita, como acontece na Inglaterra. Outra possibilidade é construir grades de proteção em construções perigosas e pontes.

"Muitos pensam que as pessoas que querem se suicidar procurarão outro lugar. Mas, com frequência, esse não é o caso. Quando alguém não consegue se matar como planejou, a ação é repensada e no fim, a pessoa desiste", diz Muijen.

Infografik Selbstmordraten 2012 weltweit BRA

Suicídio é a segunda causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos, antes mesmo de acidentes de carro e uso de drogas. E é principalmente uma ação impulsiva, comenta o psicólogo Georg Fiedler, da Sociedade Alemã de Prevenção de Suicídio.

Mais dramática é a situação de pessoas com mais de 65 anos. Elas estão no topo das estatísticas de taxas de suicídio. Elas sofrem com doenças físicas e também depressão. "Muitos se sentem sozinhos. Uma em cada duas mulheres que se matam tem mais de 60 anos, e entre 40% e 60% delas sofrem de alguma doença depressiva, como psicose", afirma o psicólogo. Independentemente da idade, suicídio está presente em todas as classes sociais, acrescenta Fiedler.

Uma medida de prevenção importante é a aumentar a conscientização sobre a problemática e sobre os atingidos. "Trata-se do sentimento de não estar sozinho, de não que não é anormal ser depressivo ou estar farto da vida. É preciso ser oferecida ajuda, como serviços de atendimento telefônico, com pessoas compreensivas que ajudam a procurar saídas", explica Muijen, acrescentando que raramente os problemas percebidos como irreversíveis de fato o são.

Tema discutido abertamente

Outra medida preventiva são campanhas em pontos de ônibus e lugares públicos, acrescenta Muijen. O esclarecimento no âmbito clínico também precisa ser melhorado. "Muitas pessoas que se matam foram ao médico, que não reconheceu os sinais", comenta. São necessários ainda folhetos explicativos para esclarecer os pacientes sobre os riscos e apresentar saídas e soluções, acrescenta o especialista.

Fiedler lembra ainda notícias veiculadas na mídia, que ele considera frequentemente inapropriadas. Como exemplo, o psicólogo cita a morte do jogador de futebol alemão Robert Enke, em novembro de 2009, que se suicidou nos trilhos do trem. Durante muito tempo, essa foi a principal notícia. "O número de suicídios em trilhos de trens quadriplicou nos dias seguintes", assegura.