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Queda de juros sem surpresa

5 de dezembro de 2002

Os mercados financeiros europeus estão à espera da medida há um ano. Agora, o Banco Central Europeu cedeu e concordou finalmente em baixar a taxa de juros na região do euro.

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Wim Duisenberg anunciou a queda dos juros de refinanciamento bancárioFoto: AP

Nas últimas semanas, a pressão tornou-se tão grande que até mesmo Wim Duisenberg, tido como cabeçudo, teve de concordar. Nesta quinta-feira (05/12), a taxa de juros foi reduzida pelo BCE em meio por cento – de 3,25% para 2,75% ao ano. No entanto, muitos especialistas têm dúvida de que a medida possa ser mais que um sinal psicológico. Para Ulrich Fritsche, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica de Berlim (DIW), por exemplo, a medida veio tarde demais para que possa ter um efeito marcante sobre o desenvolvimento da conjuntura econômica.

Entre maio e novembro de 2001, o BCE tinha baixado a taxa de refinanciamento bancário, em quatro fases, de 4,75% para os 3,25%, que vigoraram até esta quinta-feira. Depois disto, a diretoria do Banco Central, sediado em Frankfurt do Meno, recusou-se a aceitar novas reduções. O risco de uma inflação, principalmente em face do alto preço do petróleo e das atribulações com a introdução das moedas e cédulas do euro, mereceu maior atenção das autoridades monetárias que o fomento da conjuntura na chamada Eurolândia.

Definição de tarefas

Nos Estados Unidos, Alan Greenspan agiu de maneira inteiramente diferente. Quando estourou a bolha da especulação nos mercados financeiros, na primavera setentrional de 2000, o chefe do Fed – o banco central americano – derrubou as taxas de juros. O BCE em Frankfurt considera-se o guardião da estabilidade da moeda, ou seja, do euro. Ao contrário disso, para Alan Greenspan, a sua tarefa mais importante consiste em fomentar a conjuntura econômica. O Fed age dentro do princípio de que é melhor conviver com um pouco de inflação, se isto for necessário para impulsionar a economia. Em treze fases, os juros americanos foram reduzidos de 6,5% para a sua taxa atual de 1,25%.

A política de crédito barato dos Estados Unidos está surtindo efeito. Apesar dos efeitos catastróficos dos atentados de 11 de setembro de 2001, a economia americana retomou a tendência de um crescimento modesto, mas contínuo: os dados do terceiro trimestre deste ano acabam de ser corrigidos em 4% – para cima! "O experimento americano parece estar dando certo", afirma com otimismo o economista da DIW, Ulrich Fritsche. Contudo, a recuperação conjuntural nos EUA terá de ser bem rápida, pois o Fed já não dispõe mais de muitos recursos. Se ela não ocorrer, a situação poderá igualar-se à do Japão.

O exemplo japonês

O temor de uma situação comparável à do Japão é corrente nos Estados Unidos e ultimamente também na Alemanha. Isto significa: juros baixos, combinados com um crescimento econômico parco e um gigantesco endividamento estatal. Na década de 90, o Banco Central do Japão cometeu erros graves. Em dezembro de 1989, o índice Nikkei começou uma queda livre e o BC japonês decidiu esperar.

Quando decidiu, finalmente, baixar os juros, a economia do país já caíra em plena fase de deflação. Com a coragem dos desesperados, a taxa de juros foi reduzida a zero por cento e nem isto produziu o efeito desejado. Mas, com isto, o Banco Central do Japão perdeu todo o seu instrumentário de orientação do desenvolvimento econômico do país.

O exemplo serve de advertência. Mas são marcantes as diferenças entre os EUA e o Japão. Dois terços do desempenho da economia americana baseiam-se no consumo privado. E ele é muito robusto nos Estados Unidos, ao contrário do que ocorre no Japão e – por exemplo – na Alemanha, cuja população arca com enormes impostos e custos sociais.