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Reaberta exposição sobre crimes de guerra nazistas

Soraia Vilela27 de novembro de 2001

Após desencadear uma série de polêmicas, volta a Berlim mostra sobre as atrocidades cometidas pelas Forças Armadas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial.

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Exército regular alemão executa civis em Pancevo, na Iugoslávia, no ano de 1941Foto: AP

A mostra Crimes do Exército Alemão. Dimensões da Guerra de Extermínio entre 1941 e 1944, que já passou por 33 cidades da Alemanha e da Áustria entre 1995 e 1999, foi reaberta nesta terça-feira em Berlim, em sua versão reformulada.

A exposição passou pelas mãos de uma comissão especial de historiadores, que redefiniu o uso do material utilizado para documentar os crimes cometidos pelas Forças Armadas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial.

Inaugurada pelo magnata e diretor do Instituto de Pesquisa Social de Hamburgo, Jan Philipp Reemtsma, a mostra estará aberta ao público a partir desta quinta-feira. Cerca de 1.400 fotos documentam as atrocidades cometidas por soldados alemães contra civis no Leste Europeu, contrariando a versão propagada no pós-guerra que defendia a integridade do exército comum do país em oposição às barbaridades cometidas pela Gestapo e pelas tropas da SS.

Versão ampliada -

Segundo Reemtsma, a nova versão da exposição é bem mais ampla e detalhada do que a primeira, já vista por 900 mil espectadores. O novo conceito procura diferenciar a atitude de soldados em relação aos comandos de seus superiores. A mostra documenta, por exemplo, a reação de três comandantes alemães na Bielorússia, frente às ordens de executar a população judia nas localidades onde estavam postados. Enquanto o primeiro deles cumpriu as ordens sem resistência, o segundo pediu que o comando fosse enviado por escrito, e então executou-o, e o terceiro deles recusou-se a participar do genocídio.

Segundo o historiador Hans Mommsen, presidente do conselho científico que preparou a nova concepção da mostra, os organizadores continuam defendendo a tese de que o exército alemão "participou amplamente" do planejamento e da execução da guerra racial e de extermínio liderada por Hitler. Segundo Mommsen, a versão reformulada da exposição conseguiu reunir ainda mais provas da participação ativa e sistemática da Wehrmacht no Holocausto.

Após examinar o conteúdo da exposição original, a comissão de historiadores concluiu que apesar de alguns erros concretos – como por exemplo ter creditado alguns crimes de guerra cometidos por tropas soviéticas a soldados alemães –, a mostra inicial "estava correta em suas afirmações básicas". De acordo com Ulrike Jureit, porta-voz da nova equipe organizadora da exposição, a Wehrmacht foi "uma instituição decisiva" no genocídio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial.

Neonazistas -

Mesmo frente à provas concretas, como fotos das atrocidades, grupos conservadores e de direita alimentam a idéia de um "Exército alemão limpo". Além das várias passeatas organizadas por extremistas contra a mostra, um atentado a bomba em Saarbrücken, em março de 1998, tentou destruir o material exposto. Em 1999, cerca de 600 skinheads organizaram em Hamburgo uma marcha neonazista de protesto contra a exposição.

Até mesmo parte da literatura e do cinema alemães do pós-guerra contribuíram para que o ideal de integridade dos soldados da Wehrmacht fosse mantido, ao reconstruírem heróis trágicos, que vêem-se encurralados entre duas únicas possibilidades: matar ou morrer.

A facção de extrema direita NPD (Partido Nacional Democrático da Alemanha) anunciou para o próximo sábado protestos de rua pelo centro de Berlim contra a reabertura da mostra. Skinheads de várias regiões da Europa, como França, Bélgica, Espanha e dos países escandinavos, estão sendo esperados na cidade.

Grupos de ativistas antifascistas anunciaram que pretendem evitar a qualquer custo a manifestação dos extremistas. A polícia berlinense teme que possa haver confrontos entre manifestantes das duas passeatas.

A administração da cidade pretende ainda proibir qualquer "referência positiva" ao Terceiro Reich durante a manifestação de neonazistas e deve evitar que os extremistas passem pela região próxima à maior sinagoga de Berlim, reformada após a queda do Muro e situada no bairro Mitte, a região central da cidade.