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Reality TV no tempo do onça

os / lk5 de dezembro de 2002

Na mais recente incursão pela "reality TV" na Alemanha, uma família de Berlim retorna voluntariamente às condições de vida numa propriedade rural da Floresta Negra no ano de 1902.

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Nada fácil para quem não está acostumadoFoto: swr

Poucas regiões correspondem tão perfeitamente à imagem do cartão-postal alemão como a Floresta Negra, com suas pastagens verdejantes, pinheiros majestosos e as casas de telhados inclinados. E foi para este cenário idílico que a emissora SWR, pertencente à rede nacional ARD, transportou sua reality TV, que se diferencia de outros programas de gênero. Os protagonistas são acompanhados pelas câmeras num ambiente e em condições de vida desconhecidos de grande parte dos espectadores de hoje: uma propriedade rural em que são reproduzidas as condições reinantes há exatamente 100 anos. As aventuras da família Boro, de Berlim, são o enredo de uma minissérie que está indo ao ar em quatro noites neste início de dezembro.

Agruras da vida rústica

O mais provável é que a família berlinense, acostumada ao conforto de um bairro de classe média, não tivesse nem idéia do que tinha pela frente, ao se candidatar para o programa. Durante dez semanas — oito no verão e duas no inverno — pai, mãe, duas filhas e um filho viveram numa propriedade rural em que tudo era igualzinho a 1902.

Sem luz elétrica e canalização, os Boro tinham que ir buscar água num riacho que passa por perto, pegar lenha no bosque para aquecer a casa. E, para escovar os dentes, utilizar uma rústica escova de cerdas de porco, com pasta feita de banha de porco. Até vestimentas da época foram confeccionadas especialmente para eles usarem durante o experimento. Foi aí que ficaram sabendo que, em 1902, ninguém usava roupa de baixo. O único apetrecho moderno que a equipe de produtores lhes concedeu foi um telefone vermelho. Mas ele estava lacrado dentro de uma caixa. Deveria ser utilizado só em caso de extrema emergência.

As regras para os cinco membros da família eram claríssimas: todos podiam movimentar-se à vontade — mas só a pé. Podiam comer de tudo, desde que fosse produção própria: ovos postos pelas galinhas criadas no quintal, leite das vacas que eles próprios tinham que ordenhar, pão e queijo feitos em casa. Das cinco da manhã, 18 horas seguidas sem parar, dia por dia. Enfim, nada de anormal para quem conhece a vida no campo em regiões em que as máquinas ainda não chegaram. Mas absolutamente desconhecido para quem está acostumado aos confortos da vida moderna.

"Como marcianos"

Foi por isso que os Boro bateram cabeça em várias ocasiões, durante as dez semanas. "Nos primeiros dias na fazenda, parecíamos marcianos caídos do céu", conta Ismael, o pai. Treinar como ordenhar vacas em tetas de borracha tinha sido muito divertido para Sera e Raya, de 17 e 19 anos, mas a realidade mostrou ser bem mais difícil. Como elas eram lerdas demais, as tetas da vaca se inflamaram. As galinhas pararam de botar ovos porque a ração estava errada. Quase toda a colheita de batata apodreceu.

Mas a família persistiu e superou todas as pequenas catástrofe do dia-a-dia. E os cinco dizem se sentir mais unidos depois da experiência de dez semanas. A verdade é que os jovens estão felizes de estar de volta a Berlim, onde Ismael, o pai, agora sente falta do sossego. E Marianne, a mãe, sonha com a vida de fazendeira num futuro próximo.