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Nova tentativa de união

DW (jp)3 de setembro de 2008

Os líderes das duas comunidades do Chipre recomeçaram negociações pela reunificação. Apesar do ceticismo em torno da disputa, acredita-se que o esforço possa ser bem sucedido.

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Talat (e) e Christofias (d) querem a ilha unidaFoto: AP

Os representantes das duas partes do país se encontraram nesta quarta-feira (03/09) na zona de segurança controlada pela ONU. De um lado o greco-cipriota Demetris Christofias, presidente do Chipre de maioria grega, Estado-membro da União Européia desde 2004. Do outro, o turco-cipriota Mehmet Ali Talat, líder da República Turca do Norte do Chipre, reconhecida apenas pela Turquia.

O otimismo manifestado por alguns observadores em relação ao recomeço das negociações pela reunificação deve-se, em parte, ao fato de Christofias e Talat terem um bom relacionamento. Além disso, a política moderada de ambos também indica que uma solução seja possível, acabando com uma disputa que há muito tempo desafia esforços internacionais e ameaça as aspirações da Turquia a ingressar na União Européia.

Como principal resultado do encontro, os líderes dos dois grupos cipriotas decidiram se reunir semanalmente, e anunciaram que o próximo encontro será no dia 11 de setembro.

Solução à moda suíça

Um diplomata ligado às negociações, falando sob condição de anonimato, disse à agência de notícias Reuters ser esta a melhor chance de reunificação que o Chipre já teve em décadas. "Ambos os líderes estão genuinamente comprometidos na busca de um acordo, e isto era o que faltava antes", disse.

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População turca concentra-se no norte, maioria grega, no sul da ilhaFoto: AP GraphicsBank/DW

Inúmeros mediadores já tentaram apresentar uma solução para a maior ilha do Mediterrâneo, mas todas falharam. Ambos os lados vislumbram uma resposta federativa ao problema, já que a opção por uma república única está fora de questão. O país seria composto de duas comunidades, duas regiões, e administrado desta maneira, levando os dois grupos em consideração, como no exemplo da Suíça.

Esforços de reunificação neste sentido já foram realizados em 2004. Ao final das conversas foi realizado um plebiscito, organizado pelas Nações Unidas, para que os dois grupos se manifestassem a respeito da solução federativa. Os turcos aceitaram, mas os gregos rejeitaram.

As divergências se referem à administração dessa suposta federação, sendo a soberania da região turca uma questão complexa. Para os turco-cipriotas, o ideal seria a parceria de dois Estados soberanos. No entanto, os greco-cipriotas, que administram o governo da ilha, internacionalmente reconhecido, até agora têm sido irredutíveis em sua recusa de conceder qualquer tipo de soberania aos turcos.

Localização estratégica

Gregos e turcos vêm tendo que dividir o território desde que o país conquistou a independência em relação ao Reino Unido. Como ponto estratégico no Mediterrâneo oriental, o Chipre sempre foi território muito disputado. Os britânicos, que receberam o poder de administrar a ilha em 1878 após a guerra Russo-Turca, usaram o país como base naval durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1925 a ilha foi declarada colônia da coroa britânica. Embora a Turquia esteja mais próxima ao Chipre, há muito tempo a maioria da população da ilha é de origem grega. Mesmo assim, os britânicos colocaram a minoria turca no poder, aumentando a rixa entre os dois grupos étnicos.

Laços gregos

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Demetris Christofias foi eleito presidente do Chipre em fevereiroFoto: AP

A população grega viu sua salvação na enosis – a desejada anexação pela Grécia. Com esse objetivo, o grupo clandestino EOKA foi criado para lutar contra os britânicos e seus colaboradores turcos.

Londres abriu mão do controle da ilha em 1960. Para proteger a minoria turca, foi esboçada uma constituição, garantindo que contratações em repartições públicas e cargos de confiança seriam feitas respeitando um sistema de cotas étnicas e dando aos turco-cipriotas o direito de veto permanente. Em 1963 houve um período violento entre as duas comunidades, aplacado somente com o envio de missões de paz da ONU.

Em 1974, o governo militar da Grécia organizou um golpe de Estado na ilha, colocando Nikos Sampson na presidência do Chipre. Em retaliação, a Turquia o invadiu, sob o pretexto de restaurar a ordem constitucional.

Cipriotas divididos

Mesmo com uma história tão conturbada, o país ainda inspira otimismo a analistas políticos. Hugh Pope, membro do International Crisis Group (ICG), baseado em Istambul, disse à agência de notícias Reuters que a entrada do Chipre na União Européia em 2004 ofereceu aos ilhéus um elemento de segurança que faltava nas negociações até então.

Mas, para alguns habitantes da ilha, somente um milagre poderia fazer com que as presentes negociações, reabertas, tenham sucesso.

"Não tenho certeza se quero voltar a viver com os turco-cipriotas", disse Stella Stavrides, uma greco-cipriota. "Gostaria de ver uma solução, mas será muito difícil. Não tenho certeza se posso confiar nos turcos", acrescentou.

O turco-cipriota Emine Hussein tenta ter esperança, mas duvida que as conversas chegarão a alguma conclusão. "Fizemos a nossa parte, votamos 'sim' (no plebiscito realizado em 2004, rejeitado pelos greco-cipriotas) e ficamos muito desapontados", disse.