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Sem dinheiro

9 de junho de 2010

O início das obras de reconstrução do antigo Palácio dos Hohenzollern, no centro histórico de Berlim, foi adiado para 2014 pelo governo alemão, como parte do pacote de redução de gastos públicos anunciado recentemente.

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Projeto do arquiteto italiano Francesco StellaFoto: AP

Ao menos uma versão do Palácio dos Hohenzollern poderá ser admirada no final de 2010, quando o parque temático Legoland, na praça Potsdamer Platz, inaugurar seu modelo do futuro Palácio de Berlim, composto de 250 mil das populares peças de encaixar na escala de 1:60.

Quem quiser admirar o verdadeiro palácio terá de esperar mais alguns anos, já que o governo da coalizão entre conservadores e liberais adiou o início das obras de reconstrução para 2014, como parte do pacote de redução de custos apresentado nesta semana. São tempos graves e difíceis, justificou a chanceler federal, Angela Merkel: a Alemanha não tem dinheiro e precisa economizar.

Para o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, trata-se de uma "reação de pânico" do governo federal, que torna completamente incerto o futuro "desse importante projeto". A decisão de reconstruir o antigo Palácio dos Hohenzollern havia sido tomada em julho de 2002 pelo Bundestag, a câmara baixa do Parlamento.

A pomposa construção em estilo barroco, com suas extensas suítes e seus suntuosos salões, foi quase totalmente destruída durante a Segunda Guerra Mundial. O que restou foi derrubado em 1950 pelo governo da então Alemanha Oriental.

Uma parte do terreno foi utilizada para a construção do Palácio da República, construção modernista que era, ao mesmo tempo, centro cultural e sede da Câmara do Povo do país comunista. O palácio que lá existira parecia ser definitivamente coisa do passado. Mas o regime ruiu, a Alemanha foi reunificada e reconstrução do prédio voltou à ordem do dia. Como consequência, foi vez de o Palácio da República ser demolido.

O novo palácio

A reconstrução foi orçada em 552 milhões de euros, dos quais 440 milhões virão dos cofres do governo federal, 32 milhões serão bancados pela cidade de Berlim e 80 milhões foram prometidos pela Associação de Amigos do Palácio de Berlim.

A escolha do projeto arquitetônico causou controvérsia e debates intensos, até que um júri de arquitetos e políticos optou pela proposta do italiano Francesco Stella. Ela se baseia na planta histórica do Palácio dos Hohenzollern e prevê a reconstrução exata da fachada barroca na frente e nas laterais do edifício, assim como no pátio interno, pretendendo atualizar e ampliar com novas perspectivas o interior do modelo histórico.

Berliner Schloss
O palácio original

A imponente construção deverá preencher uma lacuna no centro histórico de Berlim a abrigar o Fórum Humboldt, que abrigará instituições culturais, de pesquisa e educação. Também a coleção berlinense de culturas não europeias, hoje instalada no bairro de Dahlem, deverá ser transferida para o novo palácio.

A ideia é estabelecer uma espécie de diálogo com os acervos europeus expostos nos edifícios da vizinha Ilha dos Museus. A execução dessa ideia humboldtiana está agora em risco, avalia o vice-presidente do Bundestag, Wolfgang Thierse. Ele teme pelo futuro deste que ele considera o maior e mais emocionante projeto cultural da história da República.

Vencedores e perdedores

Por enquanto, o adiamento das obras só trouxe benefícios para o orçamento do Ministério dos Transportes, da Construção e do Desenvolvimento Urbano, chefiado pelo ministro Peter Ramsauer, da União Social Cristã (CSU).

Já o secretário da Cultura de Berlim, André Schmitz, disse que a "economia simbólica" representada pelo adiamento da construção não trará vantagens financeiras. Se o palácio não estiver pronto no prazo inicialmente previsto, será necessário sanear os museus de Dahlem, que abrigam a coleção de culturas não europeias, o que poderá custar até 300 milhões de euros.

Segundo o presidente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, Hermann Parzinger, só os trabalhos preparativos da reconstrução já consumiram somas vultosas. "O adiamento vai devorar mais recursos. Não sei se depois disso ainda vamos poder falar em economia", critica.

Também o presidente da Associação de Amigos, Wilhelm von Boddien, criticou a decisão do governo. "A confiança depositada pelos doadores e a credibilidade são questões que agora se colocam."

Já o diretor da Fundação Bauhaus, Philipp Oswalt, um crítico de longa data do projeto, reagiu com satisfação ao anúncio do adiamento da obra. Para ele, trata-se de um reconhecimento tardio de que "um projeto desejado pela política não encontrou apoio na população". Uma recente pesquisa apontou que 80% dos berlinenses são a favor do completo cancelamento da reconstrução. Mas, para isso, seria preciso uma nova e pouco provável aprovação pelo Bundestag.

Autora: Silke Bartlick (as)
Revisão: Rodrigo Rimon