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Refugiados sírios representam um risco para a Europa?

Carla Bleiker (fc)23 de novembro de 2015

Especialistas dizem que o "Estado Islâmico" pode infiltrar terroristas entre os refugiados, mas afirmam que o verdadeiro perigo está nos islamistas europeus que se radicalizaram no Oriente Médio.

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Foto: Reuters/O.Teofilovski

O temor de que terroristas do "Estado Islâmico" (EI) usem a rota de refugiados para entrar na Europa cresceu depois de a polícia parisiense ter encontrado o passaporte de um refugiado sírio ao lado dos restos mortais de um dos homens-bomba do estádio Stade de France.

Dias depois, investigadores franceses disseram que um segundo terrorista também teria entrado na Europa pela Grécia, no mesmo dia que o primeiro, e também fazendo-se passar por um refugiado em fuga da guerra civil na Síria.

Não está claro, até agora, se os dois homens-bomba são mesmo os dois sírios identificados nos passaportes ou se os documentos pertencem a outras pessoas.

O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, cogitou que os terroristas poderiam ter plantado o documento ao lado dos restos mortais do homem-bomba para criar um clima de desconfiança em relação aos refugiados que fogem do "Estado Islâmico".

Ainda assim, a atitude de muitos europeus em relação aos refugiados mudou. O ministro das Finanças da Baviera, Markus Söder, do partido conservador União Social Cristã (CSU), afirmou em entrevista ao jornal Welt am Sonntag que os ataques em Paris marcaram o início de uma nova era na política de refugiados e que "o tempo da migração descontrolada" deveria chegar ao fim.

Mas os refugiados oriundos da Síria realmente representam algum risco? E esse risco é comparável ao perigo representando por extremistas europeus que se unem aos extremistas na Síria e depois retornam à Europa?

Não há conexão entre refugiados e terroristas

"Estaríamos realmente subestimando o EI se não acreditássemos que ele possa instrumentalizar a crise dos refugiados", afirma o especialista em terrorismo Rolf Tophoven.

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Abdelhamid Abaaoud, o suposto cérebro dos atentados de Paris, nasceu em Bruxelas e passou um tempo na SíriaFoto: picture-alliance/dpa

Ele não exclui a possibilidade de que a organização terrorista esteja enviando combatentes para a Europa junto com os milhares de refugiados que chegam ao continente todos os dias, mas também lembra que as autoridades alemãs ainda não identificaram uma única pessoa que tenha entrado no país como refugiado e depois tenha sido relacionada a uma investigação sobre terrorismo.

As informações disponíveis não confirmam a tese de que os refugiados sejam terroristas em potencial, razão pela qual Tophoven afirma não fazer sentido mudar a política migratória só porque dois refugiados, num grupo de centenas de milhares de pessoas, possam ser assassinos. "Você não pode tomar uma decisão como essa com base em hipóteses", afirma.

O perigo que vem de dentro

Existe um outro grupo, porém, que é considerado muito mais perigoso pelos especialistas: o dos islamistas que cresceram na Alemanha (ou na França ou na Bélgica), uniram-se às fileiras do EI na Síria ou no Iraque e depois retornaram para a Europa.

Segundo alguns cálculos, mais de 1.200 europeus que se uniram à luta de extremistas islâmicos no Oriente Médio já regressaram a seus países de origem nos últimos dois anos. Entre eles estão alguns dos cinco cidadãos franceses ligados aos ataques em Paris, bem como o suposto cérebro dos atentados, Abdelhamid Abaaoud, que nasceu na região de Bruxelas e esteve na Síria.

Cidadãos franceses, e não refugiados recém-chegados, são responsáveis por outros dois massacres recentes: em janeiro de 2015, 17 pessoas foram mortas na redação do jornal satírico Charlie Hebdo e num supermercado judaico. E, em maio de 2014, quatro pessoas morreram quando um atirador abriu fogo no Museu Judaico da Bélgica, em Bruxelas.

Bomba-relógio

As pessoas que deixam seus países de origem para lutar com o EI representam um problema especialmente difícil para as autoridades. Depois de passar um tempo na Síria ou no Iraque, elas se transformam numa espécie de bomba-relógio, já que, em muitos casos, impedir o seu retorno à Europa não é possível.

De acordo com serviços secretos alemães, cerca de 60% dos combatentes que viajam da Alemanha para a Síria são cidadãos alemães, e o retorno a seu país de origem não pode ser negado a eles.

Até agora, a Alemanha registrou cerca de 250 pessoas que retornaram da Síria. Em países como França, Bélgica ou Reino Unido, esse número também é elevado. O presidente francês, François Hollande, chamou a Síria de "a maior fábrica de terroristas que o mundo já viu".

Propaganda do extremismo

As autoridades também temem que as pessoas que regressam à Europa possam influenciar negativamente jovens muçulmanos que vivem no continente.

"Temos que assegurar que não vamos perder esses jovens para incitadores do ódio, mas que vamos convencê-los dos nossos valores – valores que foram atacados em Paris", afirma o chefe do Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA), Holger Münch.

Tophoven também diz se preocupar com o problema dos extremistas que lutaram na Síria e depois tentam convencer jovens muçulmanos na Europa a optar pela violência. Segundo ele, mesmo que os terroristas do EI possam infiltrar extremistas entre os refugiados, eles não precisam necessariamente fazê-lo.

"Extremistas que já estão na Europa podem abordar os refugiados que chegam e tentar radicalizá-los", afirma Tophoven. "Isso é muito mais fácil do que tentar enviar terroristas da Síria para a Europa."