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Relatório pede "choque" para recuperar competitividade da economia francesa

5 de novembro de 2012

Sugestões incluem desoneração de 30 bilhões de euros na folha de pagamentos e aumento na jornada de trabalho. FMI elogia ideias. Presidente Hollande promete "decisões difíceis" para esta terça-feira.

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Foto: AP

O presidente francês, François Hollande, prometeu nesta segunda-feira (05/11) "decisões difíceis", após um relatório recomendar um "choque" de 30 bilhões de euros na redução dos custos trabalhistas franceses para aumentar a competitividade industrial do país.

O documento, com 22 medidas, foi encomendado pelo governo francês a Louis Gallois, ex-presidente do consórcio aeroespacial e de defesa EADS, que controla a Airbus. "Amanhã, o governo vai tirar conclusões a partir do relatório Gallois e decisões difíceis serão tomadas", afirmou Hollande na capital do Laos, Vientiane, onde participa na cúpula União Europeia-Ásia.

O presidente francês ressaltou a necessidade de uma "política global" para melhorar a competitividade industrial da França, num período em que o país enfrenta desafios como sobrecarga nas finanças públicas, estagnação do crescimento econômico e deficit comercial.

"Pacto social"

Ao entregar o relatório ao primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, Gallois disse que a França necessita de "uma espécie de pacto social entre todos os parceiros", acrescentando ser necessária uma redução drástica nos custos trabalhistas para alavancar a economia. "Os franceses devem fazer este esforço coletivo", disse ele, apelando para o "patriotismo".

Belgien EU Gipfel Finanzkrise Francois Hollande
Hollande promete tirar conclusões ainda esta semanaFoto: dapd

O estudo propõe uma desoneração de 20 bilhões de euros na folha de pagamento para os empregadores e de 10 bilhões de euros para os empregados, ao longo de dois ou três anos. Isso significaria transferir parte da carga fiscal para contribuintes e consumidores, através do aumento de taxas para financiamento do sistema de segurança social ou do aumento do imposto sobre o valor acrescentado (IVA), que recai sobre vendas de bens ou serviços. O relatório inclui, ainda, recomendações para aquecer as exportações, reduzir a burocracia e incentivar a pesquisa e a inovação.

FMI elogia relatório

O Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia o relatório de Gallois como uma "oportunidade única para amplas reformas", acrescentando que a falta de competitividade é o maior desafio da economia francesa.

Ao divulgar seu próprio relatório sobre a economia francesa, o FMI ressaltou que a perda de competitividade é anterior à crise econômica que tomou conta de grande parte da Europa. O fundo alertou que os riscos poderão se tornar ainda mais graves, se a economia francesa não se adaptar, como fazem atualmente Itália e Espanha, que realizam reformas profundas em seus mercados de trabalho e setor de serviços.

A segunda maior potência industrial da UE tem perdido muito de sua competitividade nos últimos anos, especialmente em comparação com sua eterna rival, Alemanha. A participação da França no comércio global caiu quase pela metade desde 1990. Os custos horários de produção franceses estão hoje cerca de 20% acima da média da zona do euro, segundo o Departamento de Estatísticas da União Europeia (Eurostat). 

Taxa de desemprego de mais de 10%

As consequências dessa perda de competitividade ficam cada vez mais claras na atual crise. Desde outubro de 2011 não há crescimento econômico na França. A taxa de desemprego, de mais de 10%, é a mais alta dos últimos 13 anos.

A França está sob severa observação das grandes agências de classificação de risco, já tendo perdido sua melhor nota na avaliação da Standard & Poors. Analistas aguardam uma decisão do governo para a difícil questão dos custos trabalhistas nas próximas semanas ou meses. 

EADS Louis Gallois
Loius Gallois sugere desoneração da folha de pagamentosFoto: AP

Um assunto tabu continua sendo a famosa "semana de 35 horas" francesa. O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, assegurou no Parlamento que "enquanto a esquerda estiver no poder" tudo fica como está.

Indignados, representantes da indústria citam um estudo do instituto francês de pesquisas econômicas COE-Rexecode, segundo o qual os empregados franceses trabalham em média 1.679 horas por ano. A carga é menor do que em quase todos os outros países da UE. Na Alemanha, trabalha-se 225 horas a mais do que na França, o que equivale a cerca de seis semanas de trabalho por ano.

MD/afp/dpa/rtr
Revisão: Francis França