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Retórica pode definir vencedor do debate

André Möller /rw29 de setembro de 2004

Debates entre os candidatos já são parte integrante das campanhas eleitorais nos Estados Unidos desde 1960. DW-WORLD analisou fatores importantes na discussão e como os candidatos Bush e Kerry deverão se apresentar.

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Pouco espaço para individualidadeFoto: AP

A campanha eleitoral à presidência dos Estados Unidos está entrando numa nova fase. A cinco semanas da votação, o presidente George W. Bush e seu desafiante, John Kerry, estarão frente a frente nesta quinta-feira (30/9) no primeiro dos três debates que farão na televisão. Submetidos ao fogo cruzado dos jornalistas, ambos se esforçam por uma boa imagem para garantir, assim, o voto dos telespectadores.

No primeiro debate, que acontece na Universidade de Miami, na Flórida, o tema central será a política externa e de segurança. Ambos os rivais deverão estar muito bem preparados para a sabatina de 90 minutos, que deverá ser assistida por milhões de eleitores potenciais.

Retórica decide a campanha

Independente do conteúdo de suas respostas, os adversários terão que fazer o possível para que sua retórica não os deixe de costas para a parede. "É preciso levar em conta que os debates televisivos não são dominados pelo seu conteúdo, mas pela apresentação e a retórica dos candidatos", salienta Hans Vorländer, cientista político e perito em Comunicação da Universidade Técnica de Dresden. Os candidatos têm de convencer os telespectadores não só do conteúdo de seu programa, mas de si como um todo.

Kerry não terá chance alguma se não conseguir transmitir um pouco de carisma. "Ao contrário do presidente Bush, até agora Kerry não conseguiu se livrar da imagem de pessoa formal e indecisa, nem se aproximar do povo que pretende representar. E isto só aumenta a importância dos duelos na tevê, onde os candidatos ainda podem conquistar eleitores indecisos", acrescenta Vorländer.

Palavras mais usadas

Os congressos dos partidos Republicano e Democrata demonstraram que os candidatos à presidência parecem ter reconhecido a importância de sua retórica para definir o resultado da eleição. Enquanto as manchetes da imprensa eram dominadas por palavras como "guerra" e "terror", as expressões mais usadas por Bush, por exemplo, em seu pronunciamento foram "liberdade", "possibilidade" e "segurança". Ultimamente, o candidato à reeleição lançou mão de um tom muito mais ameno, parecendo seguir os conselhos de seus assessores, que o querem libertar da imagem de "guerreiro marcial de Deus".

No papel de comandante corajoso e príncipe da paz, Bush tenta justificar sua política com a histórica missão dos EUA, de difundir a paz e a liberdade no mundo. Kerry age de forma semelhante, ao usar, por um lado, expressões do vocabulário militar e "se apresenta ao serviço", mas por outro lado condena a guerra no Iraque como sendo um erro.

Divulgar o conto americano

"Ambos os candidatos usam o mesmo discurso em sua retórica eleitoral", analisa o cientista político alemão. "Eles apresentam fundamentos otimistas, 'maquiam' os problemas do cotidiano, e, acima de tudo, encaixam a situação atual num grande conto americano de liberdade e ascensão." Na opinião de Vorländer, o vencedor do debate será quem melhor conseguir posicionar sua retórica no grande conto americano. "E aí os adversários lançam mão de um discurso cívico-religioso. É evocada a imagem dos Estados Unidos como nação escolhida por Deus, aliado ao esforço de divulgar este sonho missionário americano pelo mundo", conta.

Bush costuma usar com frequência as alusões a Deus, especialmente em debates sobre a guerra ou quando o tema é o combate ao terror. Mas também aqui Bush está se tornando mais moderado e ambos os candidatos parecem se equiparar sob o ponto de vista da retórica.

O cientista político Vorländer constatou que "operações militares não são mais conceituadas como cruzadas e Bush começou a reduzir as alusões religiosas unilaterais". Por isso, conclui, a apresentação de cada candidato na televisão será fundamental para a decisão do eleitorado, embora as rígidas regras do debate deixem pouco espaço para a individualidade.