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Roberto Bolaños, o homem que nos fez rir

Diego Zúñiga (pv)29 de novembro de 2014

Humorista mexicano, também conhecido como Chespirito, foi um incansável produtor, ator, diretor e roteirista. Morto na sexta-feira, ele deixa uma marca indelével em várias gerações de latino-americanos.

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Foto: imago/Xinhua

Nas redes sociais circula desde a noite de sexta-feira (28/11) uma ilustração que mostra todos os super-heróis do mundo assistindo ao funeral de Chapolin Colorado. A morte do humorista mexicano Roberto Gómez Bolaños, aos 85 anos de idade, não é apenas a perda de um ícone do humor latino-americano, mas também é o simbólico enterro de uma dezena de personagens que seguirão presentes na memória de milhões de pessoas em toda a América Latina.

Mas a morte de Chespirito, como Roberto Bolaños era conhecido, não foi sentida apenas neste canto do mundo. Seus programas, que em seu auge eram mais vistos do que as propagandas publicitárias do Super Bowl (final do principal campeonato de futebol americano), chegaram a ser transmitidos em locais distantes do México, como Rússia, Austrália e Japão. Mas foi certamente na América Latina onde o conteúdo de suas criações fez mais sucesso e conquistou milhões de fãs.

São muitos os causos que comprovam isso. Em 1977, por exemplo, o elenco de Chaves visitou o Chile, tendo sido recebido no aeroporto e escoltado até o Estádio Nacional de Santiago por uma multidão, que ovacionou os atores no estádio lotado. Roberto Bolaños se recordava com muito carinho deste episódio e até o incluiu em sua autobiografia Sem Querer Querendo: Memórias, que também traz trechos que condena as violações dos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar de Augusto Pinochet.

Na Argentina, o ex-jogador e ícone do país Diego Maradona sempre declarou ter uma admiração profunda por Chespirito. Ele inclusive disse que, quando estava triste, esquecia suas mágoas assistindo a episódios de Chaves. Em Cali, na Colômbia, existe uma estátua gigante do personagem Chaves. E, no dia da morte de Bolaños, a torre Colpatria de Bogotá – um prédio empresarial – foi iluminada com as cores vermelho e amarelo de Chapolin Colorado.

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Em 2012, milhares de crianças fantasiadas de personagens criados por Bolaños participaram de um tributo pelos 40 anos de carreira do humoristaFoto: picture-alliance/EPA/M. Alipaz

Sempre que marcava um gol pelo seu ex-clube mexicano Atlante, o jogador de futebol chileno Sebastián González comemorava disfarçado de Chapolin, Quico, Chaves e até de Dona Florinda. E no Brasil, não se fala em outra coisa, nas redes sociais, que não seja a morte do criador de Chaves. A América Latina está mais triste.

Intelectuais criticam conteúdo

É curioso que justamente no México os intelectuais nunca viram com bons olhos o trabalho de Roberto Bolaños. Tramas bobas, conteúdo cafona e violento – era o que se dizia na época sobre o programa Chaves.

No entanto, o enorme alcance das criações de Chespirito faz levantar a questão se o seu legado deve ser analisado academicamente ou se simplesmente o seu sucesso junto aos telespectadores advém de razões puramente sentimentais. Para várias gerações, Chaves é uma tarde vendo televisão com os pais, um sorriso do avô, uma razão para deixar de estar triste. Alguém pode questionar a verdadeira felicidade de uma criança diante de uma travessura do Chaves aludindo à suposta pobreza argumentativa de um programa infantil?

Pode-se questionar a violência de algumas passagens de Chaves, mas também é preciso avaliar a profunda solidariedade de seus personagens, a compaixão de Seu Barriga sempre disposto a perdoar uma dívida e o espírito comunitário que, apesar da miséria, sempre superava os problemas. O episódio de Natal, onde Seu Madruga compartilha com Chaves a única coisa que tem, um sanduíche de presunto, vale por cem lições de respeito e fraternidade.

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Chaves foi o personagem mais famoso de ChespiritoFoto: picture-alliance/AP Photo/Televisa

Apesar das críticas, Chespirito foi capaz de ganhar um lugar no coração de seus telespectadores com humor, piadas repetidas, melodramas, acidentes e uma dose profunda de sensibilidade. Chaves é a criança pobre de qualquer lugar da América Latina, assim como Seu Madruga é o eterno desempregado de qualquer canto do planeta, Dona Florinda é a vizinha amarga que todos já tiveram e Chiquinha é aquela "pirralha" impertinente que irrita gregos e troianos.

Respeito e idolatria comove e alegra Chespirito

Em fevereiro de 2005, Chespirito foi ao Chile promover seu livro ... E Também Poemas. Uma enorme fila de fãs esperou por vários horas diante de um shopping center, ansiosos para obter o autógrafo do ídolo. Em um determinado momento, Bolaños saiu da livraria onde se realizava o evento, para ir ao banheiro. Em vez de se lançar sobre ele, a multidão armou um corredor para que Chespirito, com quase 80 anos na época, pudesse avançar a passos cansados. As pessoas o aplaudiam e agradeciam pelas risadas que ele havia lhes proporcionado. Bolaños sorria e lançava piadas.

Florinda Meza, eterna companheira e atriz da personagem Dona Florinda, comentou que o respeito e carinho que receberam no Chile se repetia em toda América Latina. E isso era um alimento para a alma dela e de seu marido.

Neste domingo (30/11), no Estádio Azteca na Cidade do México, haverá uma homenagem a Roberto Gómez Bolaños. No caixão estará seu corpo. Mas para milhões de pessoas, ali também descansam Chapolin, Chaves, Doutor Chapatín, Pancada Bonaparte e Chaveco para toda a eternidade.