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Romances para ler e fumar

Karin Naundorf / av2 de junho de 2004

O cerco aos fumantes alemães aperta. Restrições à propaganda, cada vez menos lugares onde possam fumar, advertências alarmantes nos maços. Para contrabalançar, uma editora lança pacotes de cigarros com mini-romances.

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Saúde prejudica design dos maços de cigarroFoto: AP

"Quando Thomas e Melody se apaixonaram, fazia apenas dois meses que Iva falecera. Melody ligou para a Merryll-Johnson em Chicago, avisando que não retornaria de suas férias na Europa. Então eles seguiram para Paris e foram morar na Rue Céline."

Em apenas 58 linhas, Thomas e Melody se encontram, se separam e se reencontram. Bastam três minutos e meio para ler a história de Max Biller, para a qual outros autores haveriam precisado de 500 páginas ou mais. A idéia é da editora Blumenbar, de Munique, convencida de que um bom romance não precisa ser longo.

Adotando literalmente a máxima de que "tudo o que há para ser dito sobre o amor, a morte ou o desejo cabe na parte da frente e de trás de um maço de cigarros", a Blumenbar desenhou um estojo de papelão para os maços, que é o veículo para os mini-romances. A inovação tem um efeito colateral, muito simpático aos fumantes: ela encobre a advertência de que a cada cigarro eles estão mais próximos da doença e da morte.

Humor em vez de anúncios de morte

Por determinação da União Européia, desde 1º de outubro de 2003 as advertências quanto aos perigos do fumo têm que ocupar 30% da frente e 40% do verso dos maços de cigarro. Até mesmo o consolo de expressões como light ou mild foi negado aos fumantes. Ao invés disso, macabras etiquetas de morte, em letras negras e emoldurados da mesma cor, no estilo de anúncios de falecimento: "Fumar prejudica sua saúde", "Fumar envelhece sua pele", "Fumar causa impotência", "Fumar mata".

Mas parece que fumar não prejudica totalmente a inteligência ou o senso de humor. Pois fumantes e simpatizantes já encontraram alguns antídotos contra os desmancha-prazeres. Um deles, além de tudo, lucrativo, são as etiquetas pró-tabaco. Basta comprar prontas – ou baixar da internet e imprimir em casa –, aplicando-as sobre o maço, mensagens encorajadoras como: "Os ministros da Saúde da UE prejudicam o bom design de embalagens" ou "Condenados à morte vivem mais".

Mini-romance anti-tabaco

Bem, pode ser muito espirituoso, mas não é o que se possa chamar de literatura. Por isso, a Blumenbar desenvolveu outra forma criativa de ignorar o inevitável: uma jaqueta de papelão, que cobre o pacote original e contém um mini-romance. Até agora ela já conquistou quatro outros autores para seu projeto pró-tabagista, além de Biller: Joseph von Westphalen, Wladimir Kaminer, Helmut Krausser e Doris Dörrie (também cineasta, autora de Sou bonita?).

Fora o espaço restrito, sua liberdade de criação é ilimitada. A única condição é que nenhuma personagem dos romances fume. Doris Dörrie vai até mais longe: com sua história pretende impedir que o proprietário do maço acenda o próximo cigarro. Será que ela não está subestimando o fascínio químico do tabaco?

Concurso para novos autores

Os romances para fumantes já estão à venda nas livrarias alemãs, por dois euros, há algumas semanas. E a editora já planeja uma segunda coleção para o segundo semestre. Dessa vez não haverá autores conhecidos e os calouros terão uma chance. Para isso, lançou um concurso de textos, aberto a todas a idades, fumantes e não fumantes, até 9 de junho. Cada romance pode ter, no máximo, 2500 toques.