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8 de dezembro de 2009

A blogueira e apresentadora Rosana Hermann, gerente de criação e produto do R7, um dos maiores portais da internet brasileira, descreve através de sua própria história o desenvolvimento da blogosfera brasileira.

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Rosana Hermann é jurada do The BOBs para o portuguêsFoto: Rosana Hermann

No último ano do século 20, registrei um domínio na internet e abri um site chamado Farofa. A ideia do Farofa surgiu porque o site tinha como objetivo ser um complemento, não um prato principal. O Farofa cresceu, recebeu propostas comerciais e, em poucos meses, passei a escrever profissionalmente para a internet. Um dos canais do site era uma crônica diária chamada Querido diário, que logo foi renomeada para Querido Leitor.

Escrever no site era uma operação complexa. Para fazer as páginas era preciso ter programas específicos. Depois de prontas, as páginas tinham que ser enviadas para um servidor, através de um "upload". Esses programas ficavam no meu computador (Dreamweaver e FireFTP) e eu só podia atualizar o site quando estava em casa. Manter a "farofa" quentinha era uma missão quase impossível e exigia esforço hercúleo para fazer jus à promessa de oferecer não só a farinha como também garantir o "n'ovo" na web.

No começo do ano 2000 conheci uma nova ferramenta de publicação de páginas chamada blog. O termo "blog" veio de "weblog", o livro de registros (log book) da navegação pela web, numa analogia à navegação marítima e aos diários de bordo.

O blog, baseado na própria internet, permitia a atualização a partir de qualquer lugar. Bastava entrar na internet, fazer "login" e subir posts para o blog. Parecia um pergaminho eletrônico que se desenrolava diante dos nossos olhos. Aquilo parecia mágica, um grande progresso, tão importante quanto o surgimento do telefone celular, que deu mobilidade ao antigo telefone fixo. Aderi ao sistema de blogs carregando ainda a dúvida: um blog para o Farofa ou um blog para o Querido Leitor? Fiz dois. A farofa, o vento levou. Já o Querido Leitor fincou sua bandeira no território do meu coração. Entrei para o século 21 com a palavra blogueira cravada na testa. E tatuada no peito.

Aprendi a enviar mensagens de texto, áudio, vídeo e fazer streaming ao vivo, tudo pelo celular. Passei a levar meu netbook na bolsa, com wifi e modem 3G, tudo para ficar em contato permanente com o blog. Quase uma década fazendo o primeiro post do blog antes de tomar o café da manhã. Muitas vezes levantei da cama porque havia me esquecido de dizer boa noite aos leitores. Foi através dos blogs que conheci amigos, fiz viagens, aproveitei oportunidades, consegui trabalho, ganhei prêmios.

Além do meu espaço pessoal, conheci blogs de jornalistas, atores, cidadãos, ativistas, políticos, humoristas. Vi pessoas com mais de 80 anos redescobrindo a vida nos blogs. Conheci um motorista de táxi que fotografa a cidade para fazer posts. Acompanhei campanhas de doação de órgãos, apoiei movimentos ecológicos, participei de flashmobs. Adotei a Laika, minha cadela vira-lata querida, através de uma amiga que conheci na blogosfera. Recebi e enviei presentes. Criei promoções, dei prêmios, fiz uma biblioteca com livros doados para Maria, que trabalhava como caixa de um supermercado no bairro onde moro. Mais recentemente, fui a Bonn para receber o honroso prêmio The Bobs 2009 em nome do Querido Leitor, premiado como melhor weblog em língua portuguesa. Como diria Roberto Carlos, são tantas emoções.

Ao fechar a primeira década dos anos 2000, podemos dizer que a principal "revolução" dos blogs foi a reflexão ampla e irrestrita gerada a partir desse novo tipo de publicação cidadã, a informação direta e pública, sem intermediação. Os blogs mudaram a linguagem dos textos online, aproximaram-se dos leitores, desenvolveram o diálogo através dos comentários.

No Brasil, o papel das redes sociais é essencial. No Orkut, por exemplo, o Brasil está em primeiro lugar em número de usuários no mundo. O site, uma rede de relacionamentos, disputa com o Google o primeiro lugar como o mais acessado em nosso país. Se você entrar em qualquer LAN house, centro comunitário com acesso à web ou mesmo em ambientes de trabalho, escola, certamente você encontrará pessoas acessando o Orkut.

Os blogs também têm grande destaque. A blogosfera brasileira tem hoje poder equivalente a grandes portais de mídia. Hoje, um blog individual pode pautar grandes emissoras de televisão. Os exemplos são muitos e vão desde vídeos de humor que ganham destaque em redes de televisão nacionais até movimentos políticos que resultam em movimentos que chegam até as ruas.

Entre os blogs influentes eu citaria: Blog do Noblat, Blog do Milton Jung, Pensar Enlouquece, Contraditorium. No Brasil os blogs de humor são os recordistas de visitas, como é o caso do KibeLoco.

O processo está longe de se esgotar. Ao contrário. A cada dia, mais e mais artistas, políticos, ONGs, cidadãos comuns, aderem aos blogs. No ano de 2010, ano de eleições, vamos presenciar este novo fenômeno, a presença forte de candidatos e campanhas em blogs e redes sociais na internet.

Para nós, brasileiros, é um triunfo. Quanto mais informação e mais transparência, mais diálogo e, consequentemente, mais democracia.

Ao ver o final do ano de 2009, quase saudando a chegada de 2010, vejo a primeira geração de blogs chegando à puberdade, prontos para a idade adulta. Ainda há muito para ser vivido, aprendido e descoberto.

Hoje, sou blogueira profissional. Mas continuo sendo passional como antes. Postando antes do café, dizendo boa-noite antes de dormir, compartilhando descobertas e aprendendo com os leitores. Sempre mantive a mesma paixão. Porque sem paixão pelo blog não há publicação. Ou, para ser fiel a origem do termo weblog, sem paixão, não tem registro.

Rosana Hermann é escritora, roteirista, apresentadora de TV e uma das mais populares blogueiras brasileiras. Em 2008, ela ganhou o prêmio BOBs na categoria Melhor Blog em Português. Ela estudou física nuclear e jornalismo. Trabalhou paras as redes de TV SBT, Rede Globo e Band. Atualmente, ela é gerente de criação e produto do R7, um dos maiores portais da internet brasileira.