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Thriller ou publicidade?

8 de fevereiro de 2011

O cineasta Cyril Tuschi vê no caso Khodorkovski um drama shakespeareano de ascensão e queda. Agora, seu documentário sobre o empresário perseguido pelo Kremlin o envolve numa trama digna de filme de suspense.

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Cyril Tuschi (e) e sócio Armin MeyFoto: Cascari

Criminalidade urbana ou thriller político na vida real?

O filme Khodorkovsky, do diretor alemão Cyril Tuschi está marcado para estrear no festival internacional de cinema Berlinale, que se inicia nesta quinta-feira (10/02). Trata-se de um documentário sobre o ex-empresário russo Mikhail Khodorkovski, que caiu em desgraça com o regime Putin e atualmente é o preso mais famoso do país.

Entretanto, na última sexta-feira – pouco mais de uma semana antes do dia marcado para a estreia mundial – ladrões entraram no escritório da firma de produções de Tuschi em Berlim, levando consigo justamente a versão (mais recente) final da película crítica ao governo da Rússia.

Embora a polícia fale de um "assalto clássico", não há como afastar totalmente a possibilidade de uma motivação política para o delito, que parece excessivamente direcionado: além da cópia do filme e de materiais de trabalho, os autores roubaram dois laptops e dois PCs da firma e devastaram o escritório, contudo deixando para trás outros objetos de valor.

"Conseguiram me pôr medo"

Khodorkovsky Film Berlinale Berlin
Cena de 'Khodorkovsky'Foto: Internationale Filmfestspiele Berlin

Apenas algumas semanas antes, um disco rígido contendo partes do documentário fora roubado do diretor de 42 anos num hotel em Bali, precisamente quando ele pretendia dar os últimos retoques na obra.

Mera coincidência? "Não posso dizer com certeza. Mas seria um acaso enorme o material ser roubado bem na fase final dos trabalhos de montagem", comentou Tuschi ao jornal Frankfurter Rundschau. Já o Süddeutsche Zeitung o citou com as seguintes palavras: "Querem me pôr medo. E, tenho que confessar, conseguiram".

No momento, o diretor foge da exposição pública, consta que está hospedado na casa de amigos. A porta-voz da firma alemã Farbfilm Verleih, encarregada da distribuição do documentário, recusa todos os pedidos de entrevistas por parte da imprensa. Segundo ela, jornalistas teriam sitiado as dependências da firma assaltada, o que "abalou" Tuschi. Também as entrevistas agendadas para antes da estreia estão canceladas.

"Circunstâncias felizes"

Assalto à parte, Cyril Tuschi já deveria estar contando com a agitação causada por seu documentário. Pois o destino de Mikhail Khodorkovski é manchete mundial desde que ele foi preso, em 2003. Acusado de crimes econômicos, em dezembro último teve sua pena prolongada até 2017. Observadores falam de um ajuste de contas político com o oligarca que enfrentou o Kremlin e financiava a oposição.

Há anos o caso fascina a Tuschi, cujo avô é natural de São Petersburgo. Em seu documentário, ele dá a palavra não só a políticos que foram companheiros de Khodorkovski, como também à família e ao próprio condenado.

Numa entrevista à agência de notícias à AFP, anterior ao assalto, o diretor afirmava dever a conversa com Khodorkovski a "circunstâncias felizes". No início do segundo processo contra o empresário, Tuschi se encontrava na sala do tribunal. "Por pressão dos advogados", a ministra alemã da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, recebeu permissão para falar com o acusado.

"Aí perguntei: por que ela, e nós, não?", contou o cineasta. Um dia mais tarde, após um requerimento por escrito, ele pôde fazer uma entrevista de dez minutos com Khodorkovski. Um guarda fazia a contagem regressiva, batendo a cada minuto no ombro do diretor com uma pistola automática.

Flash-Galerie Michail Chodorkowski
Caso Khodorkovski tem forte apelo públicoFoto: AP

Interesse garantido

Cyril Tuschi vê no caso Khodorkovski um "drama shakespeareano", que o fascina pela "lógica da queda de grandes alturas – como alguém poder estar lá no alto, e aí se espatifar lá embaixo".

Thriller político real ou golpe de publicidade?

Fato é que a ocorrência policial é um diferencial que faz o documentário se destacar na selva de quase 400 produções de todo o mundo, apresentadas no Festival de Cinema de Berlim de 2010.

E a boa notícia é que a estreia no dia 14 de fevereiro está garantida, pois a direção do evento já estava de posse da cópia de uma versão anterior da película. Khodorkovsky será apresentado quatro vezes durante a 61ª Berlinale, na seção Panorama Documents.

AV/afp/lusa
Revisão: Carlos Albuquerque