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Rússia a caminho de reeleger Putin novamente

Roman Goncharenko
17 de março de 2018

Todas as correntes, da extrema esquerda à direita, estão representadas no pleito. Mas fato é que o atual presidente não tem adversários. No seu império político, a vitória parece ser mera formalidade.

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Putin durante seu tradicional discurso anual à elite política russa
Putin durante seu tradicional discurso anual à elite política russaFoto: Reuters/A. Nikolskyi

Nada de novo na Rússia: Vladimir Putin está prestes a conquistar seu quarto mandato como presidente e deverá determinar o destino do país por mais seis anos. Sua vitória nas eleições deste domingo (18/03) é praticamente garantida, ele está à frente em todas as sondagens. Pesquisadores de opinião ligados ao governo profetizam que ele terá mais de 70% dos votos. Isso seria um recorde pessoal para o ex-agente da KGB de 65 anos, eleito presidente pela primeira vez em 2000.

No momento, o índice de aprovação de Putin está no ápice, lembra o sociólogo Lev Gudkov, diretor do Centro Levada, conceituado instituto de pesquisas de opinião. "A alta aprovação de sua política, independente da onda militar e patriótica, baseia-se na falta de alternativa e em ilusões de importância vital", afirma Gudkov. Uma dessas ilusões é que muitos russos acreditam que Putin garantiria a prosperidade que tiveram até agora.

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Oito candidatos participam das eleições. Entre eles, encontram-se experientes chefes de partido como o populista de direita Vladimir Zhirinovsky ou o oposicionista liberal Grigory Yavlinsky, mas também caras novas.

No lugar do antigo líder Guennadi Ziuganov, os comunistas apresentaram Pavel Grudinin, um político local e admirador de Josef Stálin. O candidato de 57 anos, que gere uma bem-sucedida empresa agrícola nas proximidades de Moscou, subiu para o segundo lugar nas sondagens. Ele alcança índices altos, muito atrás de Putin, porém à frente de Zhirinovsky.

Outra figura nova é a única mulher entre os candidatos, a apresentadora de TV de 36 anos Ksenia Sobchak, filha do ex-prefeito de São Petersburgo Anatoly Sobchak, cujo vice na década de 1990 era Putin. A autointitulada "candidata contra todos" procura angariar os votos de protesto dos liberais, ajudando o Kremlin, intencionalmente ou não, a aumentar a participação eleitoral.

À primeira vista, todas as correntes políticas, da extrema esquerda ou direita, estão representadas, e Putin se posiciona ao centro. Porém, as aparências enganam. Nas pesquisas, todos os candidatos, exceto Putin, têm menos de 10% das intenções de votos e não são concorrência séria para o favorito.

Alguns estão sob suspeita de funcionar como meros figurantes, de comum acordo com o Kremlin. Há debates televisivos nos quais também Putin é criticado, mas o evento normalmente descamba para um show de baixaria sem conteúdo. O próprio chefe do Kremlin nunca participa.

Navalny fica de fora

O líder da oposição Alexei Navalny, que se caracterizou como o desafiante número um de Putin, não foi aceito como candidato e convocou ao boicote das eleições. O político moscovita de 41 anos, engajado na luta contra a corrupção, foi acusado de crime econômico e condenado com suspensão condicional, mas está recorrendo da sentença.

Navalny é atualmente considerado o oposicionista mais influente na Rússia, tendo sido responsável pela organização de vários protestos de massa. Pesquisadores eleitorais acreditam que numa eleição justa ele não derrotaria Putin, mas conseguiria amortecer seus resultados.

A maior incógnita dessas eleições é se, após a previsível vitória de Putin, Navalny convocará novamente protestos de rua. "Penso que as pessoas têm fundamentalmente o direito a se revoltarem contra uma tirania", afirmou Navalny numa entrevista à repórter da DW Zhanna Nemtsova. "No entanto, o que acontece agora na Rússia são ações absolutamente pacíficas. A atitude dos manifestantes é bem mais pacífica do que a das autoridades, que acompanham cada manifestação com uma espécie de intervenção militar."

No fim de 2011 e início de 2012, Navalny foi um dos líderes dos protestos que ofuscaram o retorno de Putin ao Kremlin. A insatisfação da classe média urbana com o próprio Putin levou 10 mil manifestantes às ruas de Moscou, causando as primeiras fissuras em sua imagem de grande soberano.

Preocupação com a partição eleitoral

Após sua vitória, Putin reagiu com restrições à liberdade de reunião e opinião, e com a instituição da Rosgvardia, unidade de polícia diretamente subordinada a ele e pronta a derrubar qualquer revolta como a ocorrida na Ucrânia em 2014, por exemplo.

Para simbolizar um novo começo, houve a substituição do chefe eleitoral, caído em descrédito por acusações de falsificação. Uma das tarefas de sua sucessora, entre outras, é promover a participação eleitoral. A presença às urnas dos eleitores russos diminuiu constantemente nos últimos anos, principalmente nas grandes cidades como Moscou.

O Kremlin mostra-se preocupado, e as autoridades tentam de tudo para atrair os cidadãos, desde comerciais ridículos nas redes sociais, passando por propaganda eleitoral nas embalagens de leite, até a oferta de exames de prevenção de câncer no dia das eleições.

A própria data da eleição, coincidindo com o quarto aniversário da anexação da Crimeia, foi escolhida intencionalmente para reavivar a euforia de 2014. Não se percebe um clima de protestos, o que provavelmente se deve às medidas de política interna e, sobretudo, externa.

Herança do terceiro mandato

O terceiro mandato de Putin — previamente ampliado de quatro para seis anos, através de uma mudança constitucional — modificou fortemente a Rússia, mais do que os anteriores. A anexação da Crimeia é considerada uma virada que catapultou a então estagnada aceitação eleitoral de Putin, uniu a população e levou o país a uma rota de confronto com o Ocidente. Políticos e mídia atiçam os ânimos como numa fortificação sitiada, a retórica da guerra faz parte do dia a dia.

A espiral das sanções, inicialmente aplicadas com relutância pelo Ocidente, ganhou mais força com a suposta intromissão russa nas eleições presidenciais americanas de 2016. Até o momento, tais sanções causaram menos danos a Moscou do que a queda dos preços do petróleo e gás no mercado internacional em 2014.

Após o dramático retrocesso dos últimos anos, a economia russa volta a crescer lentamente, a inflação parece sob controle. No entanto os rendimentos reais da população caíram 1,7% em 2017, pelo quarto ano consecutivo. Por outro lado, foram mantidos altos os gastos em armamentos, em detrimento da cultura e da saúde.

Perspectivas sombrias?

Com a intervenção militar na guerra civil síria, do lado do presidente Bashar al-Assad, Moscou conseguiu pôr fim ao isolamento internacional parcial de Putin e estabelecer a Rússia como big player no Oriente Médio. Putin consolidou com ações sua ambição de elevar a Rússia novamente ao status de grande potência.

Em seu programático discurso sobre o estado da Nação no início de março, o chefe do Kremlin se colocou como soberano bem-sucedido, que conduz seu povo de uma vitória a outra. Surpreendente foi a apresentação das novas armas nucleares, dirigida ao grande inimigo, os Estados Unidos. A mensagem de Putin é: "Não se metam conosco!"

A política externa parece ser o tema central da campanha eleitoral de Putin. Quanto mais se aproxima o dia das eleições, mais ele apela para as ameaças atômicas. Num documentário intitulado Ordem mundial 2018, o presidente deixa claro que usará armas nucleares no caso de ataque ao país, mesmo que isso signifique o fim do mundo: "Para que precisamos de um mundo onde não exista a Rússia?"

Mesmo que ainda não seja a guerra atômica, os sinais são de tempestade. Os EUA preparam novas sanções contra a Rússia; Moscou, que até agora demorou a reagir, poderá revidar. A guerra de posições no Leste da Ucrânia pode escalar rapidamente. No Oriente-Médio paira a ameaça de um alastramento da guerra da Síria, podendo exigir um maior engajamento das tropas russas.

Nos últimos anos Putin investiu no fortalecimento militar da Rússia e em se desprender do Ocidente, seja para alimentos, bancos ou internet. Alguns observadores advertem contra o perigo de uma Rússia incontrolável, depois das eleições ou, o mais tardar, após a Copa do Mundo, em meados do ano.

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