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Série de atentados marca 10º aniversário da invasão do Iraque

19 de março de 2013

Paralisia política, falta de infraestrutura e segurança frágil deixam país distante do modelo de democracia prometido por Bush quando, em 2003, iniciou um conflito que custaria 122 mil vidas e 1,7 trilhão de dólares.

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Foto: Reuters

Uma série de atentados deixou pelo menos 50 mortos nesta terça-feira (19/03) em Bagdá e arredores, numa espécie de lembrança de que o atual Iraque ainda tem pouco a ver com aquele modelo de democracia e segurança para o Oriente Médio prometido por George W. Bush há exatos dez anos, quando as tropas americanas invadiram o país.

Uma década, 122 mil mortos e 1,7 trilhão de dólares (gastos pelos EUA) depois, o Iraque não é nem aquele Estado falido ao qual os piores dias da guerra pareciam inevitavelmente conduzir, nem o modelo regional idealizado por Bush. O país se equilibra entre progresso e caos, enquanto coleciona uma série de problemas.

A questão da segurança ficou evidenciada nesta terça-feira, quando grande parte das mortes, ocorridas em sua maioria na capital, foi causada por carros-bomba. Quase um quinto dos 33 milhões de iraquianos vive em Bagdá. E, apesar de a capital continuar cercada por vários complexos de segurança e barreiras militares, seus moradores ainda são obrigados a conviver frequentemente com atentados.

Bildergalerie Irak 10 Jahre nach der US-Invasion
Dois jovens iraquianos num dos bairros mais pobres de Bagdá: falta de infraestrutura mina progresso do paísFoto: DW/K. Zurutuza

Corrupção e pobreza

Mas segurança não é o único problema. Mesmo com os bilhões investidos pelos EUA na reconstrução, o iraquiano ainda tem que lidar com falta de infraestrutura básica, corrupção, alto nível de pobreza e desemprego crescente.

O país que antes se orgulhava de ter a primeira premiê e a primeira juíza do Oriente Médio viu, por exemplo, a taxa de alfabetização feminina cair de quase 100% nos anos 1970 aos 40% atuais – queda, em grande parte, fruto de uma década de guerra.

Os dez anos de conflito levaram também a um êxodo de refugiados em massa. Segundo relatório de 2012, muitos estão retornando em virtude da crise na Síria, mas estima-se que ainda haja 1,2 milhão de iraquianos deslocados de guerra.

"Estamos esperando que vire realidade um sonho de mudança e de construir um Estado estável, baseado na lei, nas instituições e nos órgãos constitucionais", disse Yawad al-Bolany, ministro do Interior do Iraque entre 2006 e 2010. "Algumas dessas esperanças foram cumpridas, mas muitas ainda precisam de uma visão nova, com uma mente aberta."

Eleições adiadas

O atual modelo político foi construído às pressas, devido às frágeis condições durante a guerra. A maioria das forças partidárias tem sua origem em blocos sectários ou étnicos – ou seja, a maioria xiita ou as minorias de sunitas e curdos. O empate virtual nas últimas eleições forçou a formação de um gabinete de unidade nacional, que acabou jogando o país na completa inércia política.

Nesta terça-feira, o Gabinete decidiu adiar para daqui a seis meses as eleições nas províncias de Anbar e Ninevah, marcadas inicialmente para abril. Ambas as províncias são dominadas pelos sunitas e vivem momento de especial instabilidade devido aos protestos, que já duram três meses, contra o governo liderado pelos xiitas.

"A comunidade sunita se sente excluída. Alguns setores a comparam ao partido Baath, de Saddam Hussein, para afastá-la do comando do país", disse o presidente do parlamento, Osama al-Nujayfi, sunita de mais alto cargo político no Estado. "O premiê é responsável por isso. Os manifestantes pedem que os deixem participar do governo."

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Uma das várias barreiras militares espalhadas pela capital iraquianaFoto: DW/K. Zurutuza

As manifestações têm sido organizadas semanalmente para pedir o fim das detenções arbitrárias e a anulação das leis antiterroristas que, segundo os sunitas, os afetam de forma injusta. Até agora, o premiê Nouri al-Maliki conseguiu contornar os protestos, mas os temores são de que eles possam acabar levando o país à guerra civil, dez anos após a invasão norte-americana.

RPR/ap/rtr/dpa/afp