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Salvos pelas águas

(sv)23 de agosto de 2002

A um mês das eleições na Alemanha, social-democratas passam à frente de democratas-cristãos nas pesquisas de intenção de voto. As enchentes que assolaram o país provocaram a mudança de curso no cenário político.

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Os candidatos Edmund Stoiber e Gerhard Schröder em fotomontagem

Se o chefe de governo na Alemanha fosse eleito diretamente, o resultado das urnas já estaria certo. Segundo uma pesquisa realizada para o canal de televisão ZDF, o atual chanceler federal, Gerhard Schöder, tem a simpatia de 59% dos eleitores, o que não acontece necessariamente com seu Partido Social Democrata (SPD). A facção do governo conseguiu somente esta semana, pela primeira vez durante a campanha eleitoral, ultrapassar a oposição democrata-cristã (CDU).

Em aberto -

Que a corrida é árdua, praticamente às beiras de um empate técnico, não restam dúvidas. Enquanto o SPD registra 40% das intenções de voto, a CDU abocanha 39% do eleitorado. "A decisão está em aberto", comenta o secretário-geral do partido do governo, Franz Münterfering. Além das controvérsias sobre o financiamento da reconstrução das áreas inundadas no país, temas como o mercado de trabalho, o meio ambiente e os benefícios sociais continuam na pauta da campanha eleitoral.

Analistas apontam para a "hora do executivo" no momento. Está provado que os recentes estragos feitos no país pelas enchentes tomaram o lugar de temas como as altas taxas de desemprego entre a opinião pública. A postura de Schröder no controle da situação foi bem vista por boa parte da população, principalmente no leste do país, região mais atingida pelas águas.

Nas últimas eleições de 1998, no entanto, os social-democratas foram às urnas com trunfos mais fortes. Além de terem sido a forma de dar fim aos 16 anos do envelhecido governo de Helmut Kohl, o leque do partido tinha, além de Schröder, Oskar Lafontaine e Rudolf Scharping como estrelas. Enquanto o primeiro renunciou de súbito ao posto de ministro das Finanças ainda no início da gestão social-democrata, o segundo foi há pouco afastado em função de escândalos envolvendo subornos.

Minorias -

Os verdes, que participam da atual coalizão de governo, mantêm, segundo as últimas pesquisas, os 8% de intenção de voto. Para o presidente do partido, Fritz Kuhn, "nas próximas quatro semanas o SPD e os verdes devem ganhar ainda mais pontos".

Kuhn acusa os democrata-cristãos de subestimarem temas relacionados à ecologia e ao meio ambiente, além de acreditar que o candidato Stoiber "fracassou completamente" em suas sugestões sobre a reconstrução das regiões afetadas pelas enchentes. "E isso os eleitores percebem agora", completa Kuhn.

Os Liberais subiram um ponto nas pesquisas, passando a atrair 10% de eleitores. Os neocomunistas dão sinais de recuperação da ressaca que provocou a saída da estrela do partido, Gregor Gysi. A facção remanescente do partido único da ex-Alemanha Oriental subiu um ponto nas pesquisas, atingindo agora 3% das intenções de voto.

História -

O cenário político da "República de Berlim" é hoje bem diverso do que o dos tempos em que o governo tinha sede em Bonn, numa Alemanha dividida entre capitalistas e comunistas. A constelação de partidos, por mais homogênea que seja - se comparada a outros países - tornou-se nos últimos anos multifacetada ou "assimétrica", segundo a nomenclatura do diário Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Na anos 50, ainda na rebarba do pós-guerra, percebia-se no país o claro domínio de um partido: a União Democrata Cristã. Durante as três décadas que se seguiram, o universo político alemão foi então formado por três facções, que "dividiam o bolo". Democrata-cristãos e social-democratas alternavam-se no poder, atraindo juntos 90% dos votos no país, enquanto Liberais desempenhavam um papel-chave, flutuando entre as ideologias de um outro, num misto de pragmatismo e oportunismo.

Pluralidade -

Nos anos 80, surgiram os Verdes e os 90 trouxeram o PDS (Partido do Socialismo Democrático). Dispostos a expor os ressentimentos dos alemães orientais em relação aos ocidentais, os neocomunistas do PDS cumpriram o papel de chorar as mágoas pela falência da ex-Alemanha Oriental. A partir de então, a simetria parlamentar das décadas anteriores foi substituída pela instabilidade de um sistema de cinco partidos, trazendo à tona a pluralidade de interesses da sociedade pós-queda do Muro de Berlim. Ainda assim, CDU e SPD, as facções mais fortes, continuam arrebatando juntas 75% do eleitorado, enquanto os três partidos minoritários - Verdes, Liberais e PDS - lutam para manter o mínimo de 5% de votos, necessário para garantir a presença no Bundestag.

Identificação -

Na "República de Berlim", no entanto, cada vez menos eleitores se identificam com um partido específico a longo prazo. Uma tendência, que, aliás, pode ser observada em todos os países no oeste europeu. No ano de 2001, por exemplo, um terço dos eleitores alemães afirmaram que não têm um partido preferido por princípio. Dependendo das circunstâncias, como mostraram as inundações no momento, a balança eleitoral pode pender tanto para um lado quanto para outro.

Debate -

Dois debates televisivos devem contribuir para a decisão do eleitor no 22 de setembro. O primeiro deles acontece no próximo domingo (25). "Não se deve subestimar ou superestimar o confronto, pois este não deve influenciar o eleitor de forma radical. O debate ajuda a formar a opinião, não mais que isso", comenta Schröder. Alguns pontos a mais nas pesquisas de opinião, no entanto, o chefe de governo espera ganhar após o duelo frente às câmeras de TV.