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Santiago Nazarian

4 de novembro de 2011

Escritor brasileiro, que está na Alemanha para leituras públicas de seus livros, fala à Deutsche Welle sobre sua obra, seu próximo livro e como é representar o Brasil no exterior.

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Nazarian: "Existe uma ligação minha com a Alemanha"Foto: Zare Ferragi

É a primeira vez que o escritor Santiago Nazarian, de 34 anos, viaja "sozinho" para divulgar sua obra, ou seja, fora de uma feira de livro ou de um festival literário. "Eu estava com medo", conta ele, que leu trechos de dois de seus livros na noite desta quarta-feira (3/11) na Biblioteca Central de Frankfurt.

O projeto, que se chama BrasiLesen, é uma iniciativa do Centro Cultural Brasileiro de Frankfurt (CCBF) e visa divulgar escritores brasileiros na Alemanha, em busca de editoras interessadas em traduzi-los até a Feira do Livro de 2013, quando o Brasil será o país homenageado em Frankfurt.

Apesar do medo, Santiago já é quase um veterano. Aos 34 anos, ele já tem seis livros publicados, alguns deles no exterior. Mastigando Humanos, por exemplo, já foi publicado na Itália, na Espanha, na Colômbia, no Peru, na Venezuela e na Argentina. Além disso, o escritor paulistano tem contos em antologias em italiano, inglês e húngaro.

Em 2003, ele recebeu o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Literatura por Olívio. Em 2007, foi eleito um dos autores jovens mais importantes da América Latina, nas comemorações do Hay Festival, em Bogotá, então escolhida Capital Mundial do Livro.

Na Alemanha, ele promove seu último livro, Pornofantasma, que é de contos, e o romance Feriado de Mim Mesmo, lançados no Brasil pela Editora Record e pela Planeta, respectivamente.

Nesta sexta-feira, a leitura acontece no Café Unopiù, às 19h30, em Munique. Depois, Santiago está de mudança para Helsinque, capital da Finlândia, onde pretende morar nos próximos meses, mas com a possibilidade de voltar em breve à Alemanha para continuar divulgando seus livros.

"Existe alguma ligação minha com a Alemanha. De alguma forma eu sempre acabo voltando", afirma ele, pela quarta vez no país. A seguir, confira a entrevista de Santiago Nazarian para a Deutsche Welle.

"Pornofantasma", o mais recente livro de Santiago
"Pornofantasma", o mais recente livro de SantiagoFoto: Record

Como foi a recepção do público em Frankfurt?

Foi bem melhor do que eu esperava. O público estava mesmo interessado e tinha pelo menos cem pessoas! Eu esperava meia dúzia. Metade era de brasileiros, mas achei muito legal eles terem interesse, não eram meus amigos (risos).

É sempre estranho apresentar o livro ou vir falar de sua obra em países que não leram e não conhecem sua obra. Mas já fiz isso outras vezes em festivais, a diferença é que aqui estou sozinho, fora de um festival ou feira literária. Foi surpreendentemente bom.

Que critério você usou na escolha dos livros para promover aqui?

A escolha dos livros foi feito por mim e pela minha agente, Nicole Witt. É sempre mais interessante promover o último livro, que no caso é Pornofantasma, mas um livro de contos é sempre mais complicado de vender no exterior, as editoras publicam mais romances, que têm sempre mais prestígio que contos.

Então escolhemos também Feriado de Mim Mesmo, que é um dos meus romances mais conhecidos e que tem mais aceitação. Achei que não faria muito sentido ler só um trecho porque se trata de um romance linear e só um trecho não representaria o que é o romance. Mas acabou sendo legal.

De Pornofantasama escolhi Piranheiras, que achei que representava melhor a obra, além de ser um conto curto que daria para ser lido inteiro, o que dá uma ideia melhor do que é o livro.

Qual é a importância de você, como escritor brasileiro, trazer sua literatura para a Alemanha?

É muito estranho essa questão de representar o Brasil, já que eu não me considero um escritor tipicamente brasileiro. Mas ao mesmo tempo eu não posso me considerar porque eu acho que os traços que me fazem brasileiro devem ser identificados por quem não é brasileiro. Devo ter alguma coisa que os alemães olham e na hora falam "esse é brasileiro, ou latino".

Mas as coisas pelas quais o Brasil é conhecido, como samba e futebol, são coisas que nunca me interessaram. Mas ao mesmo tempo essas coisas fizeram parte da minha formação cultural. Tem uma crônica que eu escrevi no argentino Clarín em que eu falo sobre isso, que talvez o futebol tenha tido um papel mais importante pra minha formação de personalidade do que teve para os meninos que gostam. Futebol sempre foi sempre um problema pra mim, que não sabia jogar, que não gostava. Isso é tipicamente brasileiro, o peso que tem o futebol, seja positivo ou negativo.

Então é sempre estranho pra mim representar o Brasil, mas aos poucos eu fui fazendo as pazes com isso e agora não acho mais tão absurdo. Acho que tem essa diversidade no país e eu tenho, sim, traços bem brasileiros. O conto que eu li ontem, por exemplo, é um conto amazônico de rios, jacarés, piranhas e cobras. E algo brasileiro e algo muito do meu universo particular também. Escrevi Mastigando Humanos, que é narrado por um jacaré...

Talvez por ter uma vivência maior e ter morado no exterior já consigo identificar traços tipicamente brasileiros em mim e me sentir menos culpado por representar o Brasil (risos). Mas tenho orgulho, sim, de ser brasileiro, principalmente agora que estamos num momento de pujança, crescimento, o nosso país como bola da vez. Sinto orgulho de representar o Brasil.

Suas influências literárias também são brasileiras?

Sim. João Gilberto Noll, Caio Fernando Abreu, Marcelino Freire, que é meu amigo. Mas sim, também tenho muita influência de fora, desde a adolescência leio em inglês.

Quais são seus próximos planos?

Daqui estou indo morar na Finlândia. Estou meio em crise com São Paulo, voltei a morar lá depois de um ano em Florianópolis, mas que também não tem vida cultural e não me bastava. Mas não estou mais com a dinâmica da cidade, aquela coisa boêmia, acho uma cidade estressante, tem uma oferta cultural boa, mas é tudo muito caro, lotado, tudo leva muito tempo. Então aproveitei que já vim para as leituras e que no Brasil as coisas são meio paradas no final do ano. Os trabalhos que eu tenho posso fazer em qualquer lugar com meu notebook, então resolvi ficar.

Quando será lançado seu próximo livro, Garotos Malditos?

Julho do ano que vem. Aí estarei no Brasil de qualquer forma. É um romance juvenil, patrocinado pela Petrobras e destinando a adolescentes. Mas tem sexo e palavrões, é um livro para adolescentes reais, bem divertido, bem soltinho... (risos)

E dá para viver de literatura no Brasil?

Todos os escritores da nova geração que eu conheço no Brasil estão vivendo de literatura, não especificamente da venda dos livros, mas de coisas relacionadas à literatura, como eu mesmo. Eu faço traduções, faço matérias para jornais e revistas, escrevo crônicas. Todo este trabalho somado dá para viver razoavelmente bem. O que eu acho super positivo, traduzir me ensina muito como escritor, acho legal escrever sobre livros em jornais e já entrevistei várias pessoas que eu gostaria de conhecer, como Marina Lima, Cauby Peixoto, recentemente a Fafá de Belém. Então são coisas que agregam, não são coisas conflitantes com a atividade de escritor, são trabalhos relacionados à literatura.

Como surgiu o convite de vir divulgar sua obra na Alemanha?

Eu estive aqui no ano passado no jantar de abertura da Feira Internacional do Livro em Frankfurt já sabendo que o Brasil era convidado de honra para 2013. Aí este ano começaram os trabalhos para promover os autores brasileiros e até 2013 já ter os livros traduzidos e lançados. Então o consulado convidou escritores brasileiros, como o José Cuenca, que já veio, eu e o João Gilberto Noll, que vem em dezembro.

Autora: Bárbara Vieira
Revisão: Alexandre Schossler