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Sarkozy

Claudia Deeg (sm)5 de outubro de 2007

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, diverge radicalmente da política externa de seu antecessor Jacques Chirac. Sua aproximação aos EUA é vista com reservas dentro e fora da França.

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Nicolas Sarkozy: venerador dos EUA?Foto: AP

Nicolas Sarkozy trata da política externa como da interna. Para o presidente da França, parece não haver diferença entre ambas. Se ele colocar algo na cabeça, fará tudo para realizar. E para ele, o que conta é o resultado.

A libertação das enfermeiras na Líbia faz jus ao gosto de Sarkozy, pois permitiu que ele computasse o êxito para si próprio. E para tal, ele se propôs a encarar até o mau humor de Berlim e Bruxelas.

Segundo Didier Billion, do Instituto de Relações Internacionais Iris, "o grau de autoconfiança de Sarkozy ficou muito claro no caso das enfermeiras, quando resolveu passar por cima da autoridade de outros europeus que já estavam se empenhando há meses por uma solução".

Billion acha que, mais cedo ou mais tarde, Sarkozy deverá aprender a se integrar melhor no exterior e na França. "Talvez ele venha a sofrer seus primeiros fracassos no exterior, com países que têm algo a dizer e cujas posições são pelo menos tão interessantes como as da França", comenta Billion.

Amante da clareza

O presidente francês ama clareza e não hesita em dizer o que pensa. Há meses, desde que se candidatou à presidência, ele não pára de maldizer os diplomatas do Ministério do Exterior, localizado no Quai d'Orsay, em Paris.

A escritora Yasmina Reza, que acompanhou a campanha eleitoral de Sarkozy, registrou as seguintes frases: "É importante se livrar do Quai d’Orsay. Desprezo essas figuras. São covardes".

Em um discurso sobre a política externa, proferido há pouco mais de um mês, Sarkozy foi bem claro. Para ele, o fato de o Irã possuir armas nucleares é absolutamente inaceitável. Essa declaração, e depois a retórica de guerra do ministro do Exterior Bernard Kouchner – tudo isso foi interpretado como uma nítida aproximação aos EUA.

O especialista Didier Billion lembra que Sarkozy ressaltou o combate ao terrorismo em seu discurso sobre política externa: "Não há como negar a importância da luta contra o terror. Mas se isso se tornar o centro das relações internacionais, estará se adentrando inevitavelmente o reduto do presidente Bush".

Sarkozy diverge da política de seu antecessor Chirac, que havia entrado em conflito com os EUA por sua oposição à Guerra do Iraque. A França está tentando apaziguar sua relação com os EUA, afirma Ernst Hillebrand, da Fundação Friedrich Ebert.

"Posicionar-se como antagonista dos Estados Unidos realmente não faz nenhum sentido para a França. Desta forma, é sensato tentar clarear as relações com Washington. Mas o fato de ele bancar o motor psicológico para os preparativos de guerra: isso é realmente muito difícil de entender."

França made in USA

São múltiplas as especulações sobre a motivação de Sarkozy. Ao contrário do que ocorre nos EUA, think tanks não têm nenhuma importância na França. Aconselhamento científico de fora é indesejado na diplomacia francesa. Não se deveria superestimar o papel dos conselheiros de Sarkozy ou de Jean-David Levitte, ex-embaixador francês em Washington. Sarkozy age por convicção pessoal: ele venera os EUA e é um pragmático que tenta fazer com que a França seja ouvida pela comunidade internacional.

Para Didier Billion, do Instituto Iris, Sarkozy está interessado "em criar uma relação sólida com a superpotência EUA, a fim de valorizar o papel da França no cenário internacional". No entanto, acrescenta Billion, o que sempre distinguiu os franceses foi justamente manter sua especificidade, sem conflitos supérfluos.

Um componente básico da política externa de Sarkozy também é sua campanha ativa a favor da energia nuclear para fins civis. Billion reconhece nisso interesses econômicos e estratégicos concretos. No geral, contudo, ainda seria cedo demais para fixar uma linha precisa para a política externa.

Provavelmente, a realidade vai acabar brecando o presidente francês. Fato é que a política externa da França se tornou menos previsível. Isso coloca em jogo a credibilidade do país, segundo escreveu recentemente no Le Monde a candidata socialista Ségolène Royal, derrotada por Sarkozy.