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Sem ampla maioria, Bachelet terá de negociar reformas prometidas

Marc Koch, de Santiago (av)18 de novembro de 2013

Os ambiciosos planos de reformas prometidos por Michelle Bachelet ficaram mais distantes sem uma maioria que permita alterar a Constituição. Como se não bastasse, os chilenos ainda a mandaram para o segundo turno.

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Michelle Bachelet: em campanha até meados de dezembroFoto: Reuters

A revolução no Chile foi cancelada: nada de reforma do sistema, no máximo umas poucas pequenas mudanças. A julgar pelo resultado das eleições presidenciais deste fim de semana, para os chilenos é cedo demais para ir além disso.

O eleitorado não só mandou Michelle Bachelet, candidata favorita da coalizão eleitoral Nueva Mayoría, para o segundo turno, como também a privou de uma ampla maioria no Congresso, o que seria necessário para a provável nova presidente realizar seus ambiciosos planos.

Bachelet terá maioria: na Câmara dos Deputados são 68 dos 120 assentos. No Senado, 21 entre 38. Mas esses números não bastam para reformas profundas e muito menos para alterar a Constituição. Em vez disso, a socialista, que já governou de 2006 a 2010, terá que voltar a enfrentar, em meados de dezembro, sua adversária mais forte, Evelyn Matthei, da velha direita chilena.

Vitória esmagadora não se confirmou

E, no entanto, havia muitos indicadores de um desfecho bem diferente. Bachelet anunciara sua segunda candidatura após cumprir uma pausa prestando serviços para as Nações Unidas, em Nova York – a Constituição do Chile veda dois mandatos presidenciais seguidos.

Ela prometera aos cidadãos uma nova sociedade, justa e moderna, em que a considerável riqueza do país seria distribuída de forma mais justa; na qual todos tivessem acesso à educação gratuita e de qualidade; e na qual velhas injustiças teriam fim.

Os demais oito candidatos também prometeram mais ou menos o mesmo. Mas a pediatra de 62 anos aparentemente conseguiu passar a mensagem de forma mais convincente. Bachelet escutou seus interlocutores e explicou com clareza suas ousadas visões.

Para que o Chile finalmente chegue ao presente também no aspecto social e não apenas no econômico, não basta reformar apenas as estruturas de educação, afirmava a socialista, mas também rever o sistema tributário e a Constituição. Todas as pesquisas de intenção de voto previam uma vitória esmagadora já no primeiro turno.

Chile Wahlen Regierungspalast Moneda
Palácio presidencial chileno La Moneda, em SantiagoFoto: picture-alliance/dpa

Poucos eleitores, candidatos demais

Agora o país se pergunta como os institutos demográficos puderam se enganar tanto. Pois ninguém previra que a candidata conservadora, Evelyn Matthei, alcançaria mais de 25% dos votos.

Alguns especialistas atribuem os resultados surpreendentes à participação eleitoral extremamente modesta. Nas primeiras eleições presidenciais sem voto obrigatório, apenas 56% do eleitorado chileno compareceu às urnas. Para Eugenio Guzmán, do Instituto Libertad y Desarrollo, os demógrafos deveriam ter considerado esse fator.

"Eles fizeram os cálculos sem considerar que, há muito tempo, aquilo que as pessoas dizem não é necessariamente o que pretendem de verdade, e que os eleitores menos politizados se escondem", criticou o sociólogo.

Mas erros de cálculo não explicam inteiramente a surpresa com o resultado das eleições. Um papel considerável coube ao grande número de candidatos, que foi sem precedentes: nove mulheres e homens concorreram pelo posto no palácio La Moneda, a maioria de orientação esquerdista.

Assim o terceiro e o quarto colocados no pleito conquistaram, juntos, mais de 20% dos votos: entre estes provavelmente também aqueles que privaram Bachelet da maioria absoluta.

Chile Präsidentschaftswahl Bachelet und Matthei
Evelyn Matthei (d) representa a velha direita e será a adversária no segundo turnoFoto: picture alliance/AP Photo

Eleitorado socialista impaciente

Apesar de tudo, o segundo turno em dezembro não deverá ser mais do que um acidente de percurso para a candidata socialista. Ela provavelmente vencerá, enquanto a direita, que ainda festeja, deve amargar uma derrota. Isso porque, enquanto a coalizão de Michelet pode confiar nos numerosos votos dos candidatos agora excluídos, Matthei não conta com mais nenhum trunfo extra.

Menos reconfortante para a ex-presidente é o fato de ela não contar com maioria ampla nem na Câmara dos Deputados nem no Senado. Assim será obrigada a negociar suas reformas, em vez de impô-las com facilidade – como seguramente prefeririam seus impacientes adeptos.

Contudo, o analista especializado em assuntos eleitorais René Jofré afirma que a combinação pode funcionar. "As perspectivas não são tão ruins assim. Bachelet vai ter maioria nas duas câmaras. E o número de deputados que a apoiam me deixa muito otimista quanto à possibilidade futura de ela implementar seus planos."

Logo em seguida ao pleito do fim de semana, Bachelet recebeu um sinal de que não dispõe de tanto tempo assim para seus projetos. Trinta estudantes secundários invadiram a sede de sua campanha eleitoral, ocupando-a por algumas horas. Eles queriam mostrar à candidata preferencial que não vão se contentar com "reforminhas": querem a revolução prometida.