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Revolta na Tunísia

13 de janeiro de 2011

Analistas políticos não acreditam que o poder do atual presidente tunisiano esteja ameaçado. Apesar do grande número de manifestantes, movimento carece de liderança e força de oposição.

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Manifestantes na capital, TúnisFoto: picture-alliance/dpa

Os protestos na Tunísia contra o desemprego, corrupção e injusta distribuição de riqueza do país já duram algumas semanas. O que começou como um protesto social, com a participação principalmente de jovens, se transformou claramente numa movimentação das massas, direcionada contra a repressão promovida pelo regime.

A cada dia, a situação se agrava: o número de mortos aumenta em diferentes partes do país, e a capital, Túnis, vive a maior instabilidade depois de décadas. Depois do confronto nas ruas entre policiais e manifestantes, o toque recolher foi imposto na cidade nesta quarta-feira (12/01), com soldados fazendo a patrulha das vias.

Autoridade e parceria

A revolta da juventude, e com isso da maioria dos tunisianos, traz desafios à estrutura de poder do presidente Zine el Abidine Ben Ali. Desde que assumiu o poder, há 23 anos, Ali governa com mãos de ferro e reprime a oposição. O presidente conta com o apoio tácito dos países ocidentais, que o vêem como um parceiro confiável e uma espécie de fortaleza contra o radicalismo islâmico na região.

A maneira como Ben Ali vem reagindo nesse meio tempo surpreendeu muitos observadores. Numa posição difícil, ele prometeu a criação de 300 mil novos empregos, demitiu o ministro do Interior e anunciou a libertação de muitos manifestantes.

Observadores políticos duvidam que o clima de revolta possa ameaçar seriamente o sistema autoritário do governo. "Seria audacioso dizer neste momento que o governo de Ben Ali esteja chegando ao fim", afirma Hardy Ostry, especialista da Fundação Konrad Adenauer. Ele ressalta que o líder da Tunísia, assim como os outros países da região do Magreb, já sobreviveu a muitos protestos sociais.

Falta oposição

É notório o fato de, até agora, uma personalidade com liderança não ter emergido dos protestos. Em meio ao turbilhão, a busca por um perfil tunisiano semelhante ao de Lech Walesa, primeiro presidente da Polônia após o fim do comunismo, parece ser em vão.

Graças a celulares e internet, os manifestantes conseguem se manter bem conectados, mas ainda não há uma estrutura ou organização visível de comando. "Não existe oposição, porque a oposição está marginalizada e dividida", lembra Ostry. Já houve, no passado, alianças de socialistas e islâmicos moderados. "Mas, como em toda região, essas alianças não duraram muito, elas foram ocasionais", ressalta o especialista.

O observador tunisiano Slim Boukhdhir também não consegue visualizar que a Tunísia esteja diante de uma grande mudança nas relações de poder. "Os protestos não são comandados por uma oposição, como foi o caso na maioria países do Leste europeu." Pelo contrário, metade dos opositores ao regime vive fora do país e, os que estão na Tunísia têm pouca influência sobre os acontecimentos locais.

"Com isso, o governo tem o controle da situação nas mãos", analisa Boukhdhir. Segundo o especialista, a oposição sofre com a falta de união. "Por isso, a oposição não tem possibilidade, de fato, de influenciar os protestos."

Apoio dos militares

Na visão de Hardy Ostry, Ben Ali ainda tem condições de controlar a situação. Afinal, o presidente e seu clã não regem o país sozinhos – pelo contrário, Ben Ali tem o apoio dos militares e do partido do governo.

Resta saber se, de dentro do sistema do poder, poderia surgir uma alternativa ao atual presidente – afinal, o general chegou ao comando há 23 anos por meio de intrigas políticas dentro do próprio sistema. Mas, até agora, ninguém dos partidos ou força militar se destacou como possível alternativa política a Ben Ali.

Autor: Loay Mudhoon (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer