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Será que o ouvido aprende?

rw19 de janeiro de 2003

O barulho constante não faz mal para o ouvido, apenas quando é muito alto. Este é o polêmico resultado de um estudo apresentado pela Universidade de Giessen, realizado com mais de mil chineses do campo e da cidade.

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Caminhão especial para audiometria e testes de ouvido com fins estatísticosFoto: ag-hörforschung

O sistema auditivo humano aprende a proteger-se quando é exposto de forma constante ao mesmo tipo de ruído. Como no caso da discoteca, onde se dança com a música em altos decibéis, o ouvido reduz sua sensibilidade através de um processo de aprendizado. O ouvido é inteligente e executa um processo de treinamento como qualquer outro órgão.

Perigosos são, por exemplo, explosões e estampidos rápidos, que não dão tempo ao sistema auditivo para compreender o que aconteceu. Este é o resultado de uma pesquisa realizada pela equipe do professor Gerald Fleischer, da Universidade Justus Liebig, de Giessen, em conjunto com a Universidade de Xian.

Até aí, partia-se do princípio de que a melhor técnica de proteger os ouvidos é não submetê-los a muito barulho. Bobagem, diz Fleischer, baseando-se nos resultados da pesquisa feita durante dois meses com 1150 habitantes de uma região rural e de uma metrópole no centro da China, no ano passado. "Ninguém diria que ficar sentado é bom para os músculos", argumenta.

"Os agricultores e pastores ouviam pior que os moradores do centro urbano. Sabemos que no campo não há discotecas, carros, nem eletricidade. Isto é, faltam as fontes de ruído constante", salienta o pesquisador, especializado em fonoaudiologia.

Perigosa tradição de explodir rojões

Segundo o estudo, que já se tornou polêmico, freqüentar discotecas todas as noites não faz mal, desde que o volume da música seja suportável e, muito importante, as caixas de som devem ser fixadas no teto.

Fleischer constatou que, nas regiões tranqüilas, longe dos grandes centros urbanos, os problemas de audição são mais agudos que nas cidades, onde as pessoas ouvem melhor e têm menos problemas auditivos. No caso da população rural chinesa objeto do estudo, os problemas foram associados à tradição de explodir rojões no final do ano. Segundo os costumes locais, quanto mais alto o estampido, mais sorte trarão os rojões.

Em contraposição, os pilotos chineses ou o pessoal de bordo de antiquados aviões russos ouvem muito bem, garante o cientista, que em 1993 fundou, na clínica da Universidade de Giessen, um grupo de trabalho para pesquisar causas, propagação e prevenção de problemas auditivos causados pelo barulho.

Fleischer não descarta que o barulho em volume extremo prejudique o sistema auditivo, mas critica a tentativa da União Européia de impor leis para reduzir os níveis de ruído nos locais de trabalho: "A intensidade do barulho não é o que importa. O que faz mal é se ele é alto e dura apenas milésimos de segundo, como marteladas de metal ou tiros". O professor adverte ainda para os graves problemas que uma bofetada na orelha pode causar em crianças. Ou mesmo brinquedos estridentes.

A revolucionária teoria já tem seus primeiros críticos. Entre eles está Christian Maschke. O professor do Instituto de Acústica na Universidade Técnica de Berlim não contesta que os estampidos façam mal ao ouvido, mas adverte para os riscos do barulho constante. "Quem passa de seis a oito horas por semana numa discoteca, só pode prejudicar a audição por causa do barulho constante e excessivo", conclui.