Shitstorm: a tempestade virtual de indignação
10 de julho de 2012“Prezada equipe Mietpark, para a nossa festa de conclusão do ensino secundário, procuramos um pula-pula inflável. (…) Como nosso orçamento não é muito alto, gostaríamos de conseguir o melhor preço possível. Vocês poderiam nos fazer uma oferta? (...) Maik Luu”
Quando o aluno recebeu a resposta ao seu e-mail, achou que tinha lido errado. O funcionário da empresa Mietpark aconselhou Maik a “esquecer desejos luxuosos” quando não tiver dinheiro, e acrescentou: “se você viu algum letreiro nosso dizendo 'loja de presentes', favor me avisar”.
O estudante enviou outro e-mail tentando cuidadosamente explicar ao funcionário pouco simpático que não teve a intenção de mendigar nada, pediu apenas uma promoção. A resposta foi ainda pior: o funcionário profetizou que os alunos não chegariam a lugar nenhum na vida, que 70% dos formandos acabam dependendo da ajuda social do governo. Disse também que eles nunca “jogariam no mesmo time” das pessoas que ganham bem.
Ajuda da mídia e da internet
A troca de e-mails acabou sendo publicada por um jornal local, que comentou o ocorrido como “inconcebível”, e embora Maik Luu não goste de polêmica na internet, decidiu tornar o assunto público e postou o trecho do jornal em seu perfil do Facebook. Em poucos dias, a publicação foi compartilhada por quase 10 mil pessoas e choveram comentários em sua página. As reações surgiram de todas as partes da Alemanha e até dos Estados Unidos. Além da atenção da mídia, a atitude do estudante deu resultado: outra empresa local disponibilizou o tão sonhado pula-pula inflável para a turma de graça.
A notícia foi divulgada na imprensa popular, na televisão e até em jornais nacionais. A empresa fechou rapidamente sua página de recados online, e o funcionário mal-educado retirou as fotos dele e da esposa do Facebook. Mas não é tão fácil barrar os internautas: as fotos foram achadas no Google e disponibilizadas na rede.
O ocorrido tomou tamanha proporção que Maik acabou sendo dominado pelas consequências. Ele tentou de certa forma apaziguar a situação, acalmando críticas indignadas, como um comentário de um internauta que sugeria tirar todo o dinheiro da empresa. Maik respondeu ao fã: "Fique tranquilo, não precisa levar a empresa à falência. O nosso recado está dado e é isso que conta”, respondeu o estudante.
Nesse tipo de campanha, é possível afirmar o que se quiser, pois qualquer um que lê a troca de e-mails sente certo prazer na desgraça da Mietpark. A empresa não irá à falência, pois é grande na região, mas o funcionário com certeza vai escolher melhor suas palavras da próxima vez que trocar e-mails com um cliente. Assim, o fenômeno "Shitstorm" tem, antes de tudo, caráter educativo, mas algumas vezes pode causar grandes danos.
As diferentes faces da Shitstorm
A primeira Shitstorm aconteceu em 2005 com a fabricante de computadores Dell. Um cliente reclamou do canal “serviço e suporte”, e milhares juntaram-se a ele. A rede de produtos alimentícios Nestlé, a empresa de telecomunicações O2 e a firma alemã Schlecker também já passaram pela tempestade de indignação.
Os motivos que desencadeiam uma Schitstorm podem ser os mais variados: um mau comportamento, um erro ou uma confusão. Outras vezes, pode se tratar de uma série direcionada de assédio moral pela internet. Em todo caso, o fenômeno já se tornou tão famoso, que linguistas escolheram a palavra Shitstorm como o “anglicismo do ano” em 2011.
Aguentar até a poeira abaixar
Especialistas em defesa do consumidor e consultores de empresas aconselham: não se importe tanto com a situação. Nenhum consumidor que chega ao nível de provocar um Shitstorm e responder com comentários irados vale a pena ser encarado. Outra dica: observe a rede, reaja apropriadamente, leve na esportiva e responsabilize-se pelos seus erros.
Um conselho eficaz é manter a calma e deixar o tempo passar, porque assim o interesse diminui. Assim aconteceu com o jogador da seleção alemã Mesut Özil. Sua descendência turca mostrou seu lado negativo quando um canal no twitter disse que, por Özil não ser alemão, ele e todos os jogadores com nomes estrangeiros deveriam sair da seleção. Enquanto a família do jogador fazia denúncia contra desconhecidos, Özil permaneceu calmo e deixou a tempestade passar sozinha.
Shitstorm racional
Campanha difamatória ou medida disciplinar, o fato é que não se pode mais ignorar esta tempestade de indignação. O fenômeno pertence ao mundo virtual assim como blogs, redes sociais, Twitter e Google e transformou-se numa forma moderna de expressar opinião.
O famoso blogueiro alemão Sascha Lobo considera a “Shitstorm” uma hipercorreção de grandes resultados. “O medo da Shitstorm pode ajudar pessoas públicas a repensarem suas próprias ações”, diz Lobo.
Autora: Silke Wünsch (gmf)
Revisão: Francis França