Short Cuts traça perfil da produção de curtas
14 de setembro de 2002A única restrição do Short Cuts Cologne, que termina neste domingo (15), é o limite de tempo: o festival é aberto a todos os formatos - película, vídeo analógico ou digital -, contanto que estes não ultrapassem os 30 minutos. Para um "curta", isso já é mais que suficiente. O leque escolhido não estabelece linhas estéticas, nem delineia preferências temáticas. Em uma verdadeira salada de gêneros, o festival só não abre mão de um critério: a originalidade de boa parte das produções.
Os curtas metragens, uma espécie de porta de entrada no mercado cinematográfico para diretores iniciantes, acabam muitas vezes relegados a segundo plano. Alguns dos filmes mostrados em Colônia, por exemplo, só são vistos pelo público do festival. Entre as centenas de inscritos, os que perdem a chance de participar da mostra competitiva, contam com um consolo: podem entrar para algum dos ciclos paralelos.
Colônia, Bélgica e Áustria –
Nas sessões paralelas, o Short Cuts segue uma tradição: curtas produzidos na própria cidade e na vizinha Bélgica ganham uma vitrine especial. Na versão 2002 da cena local, destaca-se, por exemplo, Inscrições Antes de Deixar a Terra, de Marit Mondorf, uma homenagem de 12 minutos a Al Hausen, um dos principais representantes do Fluxus (um dos movimentos artísticos mais significativos do século 20, precursor da concept art).Além da Bélgica, o foco especial deste ano está voltado para a produção austríaca, dividida em três blocos: "vanguarda clássica", "luz/velocidade" e "lados/olhares". Enquanto o primeiro traz experimentais de todos os gêneros, reunindo um grande número de cortes rápidos, câmera na mão e tomadas irregulares, no segundo estão presentes filmes ou vídeos que não apenas brincam com o espectador no uso da câmera e na mesa de edição, mas que trazem, ao mesmo, tempo, uma história convincente.
Experimentais -
A competição, dividida em oito blocos, vai desde o registro de olhares inusitados sobre o dia-a-dia, passando por rápidos documentários até curtos ensaios que se ocupam simplesmente de dar vazão à fantasia dos diretores. O lírico e experimental Promenaux (co-produção ítalo-francesa), de Stefano Canapa, por exemplo, é um passeio cinematográfico que oscila entre documento e diário.Entre as produções do leste europeu, destaca-se o russo Férias em Novembro, de Pavel Medvedev, um documentário de 20 minutos sobre o cotidiano de operários nas minas do norte do país. Dez Minutos, de Ahmed Imamovic (Bósnia-Herzegóvina), contrapõe imagens simultâneas de Roma e Sarajevo durante dez minutos.
Cenários urbanos -
Na corrida aos três prêmios distribuídos pelo festival, os temas urbanos parecem dominar o universo dos curtas, talvez um reflexo de que o ritmo da cidade venha a inspirar também a rapidez no celulóide. Cenários urbanos, o ruído da metrópole e histórias passadas em subúrbios de grandes cidades permeiam várias das contribuições presentes.Síndrome de Estocolmo
, por exemplo, do sueco Carl Johan de Geer, é a história tragicômica de como "uma cidade pode devorar a alma de uma pessoa e o que essa pessoa faz para se livrar das próprias obsessões". Já o canandense Na Cidade, de Mike Hodlbroom, mostra, em ordem alfabética, a lista de restaurantes nos quais relações amorosas chegaram ao fim.Comes e bebes -
Além disso, o festival tem uma sessão dedicada a curtas infantis e um ciclo especial sobre o "comer e beber". Deste, participam títulos como Churrasco para Um, O Último Caso da Cerveja, Jantar, Cabeças de Tomate ou A Dieta do Croissant. O hilário Ovo, dos portugueses José Miguel e Pierre Ribeiro, narra a história de um ovo que se recusa a ser comido.Os países de língua portuguesa e espanhola estão pouco representados no Short Cuts de 2002. Além do português Ovo, participam apenas o El Fondo de las Cosas, da chilena Marcela Catalan, e Upside Down, do espanhol Guillem Morales. Neste, um acidente de carro quase destrói a relação de um casal. Tudo isso em apenas 13 minutos.