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Sites de carona são alternativa barata para viajar pela Europa

Carolina Nehring31 de maio de 2013

Iniciado na Alemanha, serviço é oferecido por páginas especializadas e, com preços mais acessíveis que passagens de trem, está se popularizando em outros países. Opção, no entanto, está mais sujeita a imprevistos.

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Foto: carpooling.com

O sistema de carona organizada é bastante utilizado na Alemanha e está se popularizando em outros países europeus, como França, Itália e Espanha. Mas não imagine alguém na estrada com uma plaquinha na mão: o conceito é muito mais planejado, seguro e feito através de sites especializados.

O funcionamento é simples: os usuários postam ofertas com os dados do trajeto da viagem, e os interessados entram em contato. Além de possibilitar a economia de dinheiro e oferecer a chance de passar a viagem conversando e conhecer novas pessoas, a alternativa reflete também responsabilidade ecológica, por evitar mais emissão de gás carbônico e engarrafamentos.

A infraestrutura de transporte alemã é famosa pela qualidade e pontualidade, mas viajar de trem é caro. Uma passagem de Colônia para Berlim, por exemplo, custa em torno de 120 euros, ou seja, mais de 300 reais por uma distância de menos de 600 quilômetros. O mesmo trecho sai apenas por 30 euros numa viagem de carona.

O valor é definido de acordo com a distância e custa, em média, 5 euros por cada 100 quilômetros, preço que geralmente cobre os custos de combustível do motorista. Um jeito mais barato e às vezes até mesmo mais rápido e confortável de viajar.

Symbolbild deutscher Reisepass EU Europa Reisefreiheit Deutschland
Viajar de carona é bem comum na EuropaFoto: Fotolia/m.schuckart

Grande parte das ofertas dos sites de caronas é de pessoas acostumadas a fazer sempre o mesmo trajeto, seja para ir ao trabalho ou visitar a família nos fins de semana. E foi por viver uma situação parecida que um estudante da Universidade de Würzburg, na Alemanha, decidiu criar o Mitfahrgelegenheit, site pioneiro de caronas na Europa.

Ele queria visitar sempre que possível a namorada que morava em outra cidade. Então, para reduzir as despesas, resolveu buscar estranhos para dividir os gastos com combustível. E, com outros dois colegas de classe, criou, há mais de dez anos, o site.

"Nós percebemos muito rapidamente que, com o aumento dos preços da gasolina e das passagens de trem, muitas pessoas foram à procura de outras soluções para reduzir o orçamento com transporte", explica Michael Reinicke, um dos fundadores do site.

O site cresceu e, na versão internacional, recebeu o nome Carpooling (www.carpooling.com). Hoje, é a maior rede de caronas da Europa, com 4,6 milhões de usuários registrados e um milhão de pessoas viajando por mês. A plataforma de busca engloba 40 países e está disponível em sete idiomas.

Como funciona

Os motoristas publicam as ofertas com detalhes como data, horário, preço, local de encontro, pontos intermediários no caminho, telefone e e-mail para contato. As pessoas que querem uma carona colocam no campo de busca a cidade de origem e destino e a data da viagem, então podem entrar em contato com os motoristas ou fazer uma reserva on-line. De modo geral, o pagamento é feito para o motorista quando se chega ao destino final da viagem.

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A carona é organizada com antecedência em websitesFoto: DW

O site de caronas francês Covoiturage adotou o nome Blablablacar na versão em outros idiomas, tem três milhões de usuários na Europa e já oferece ferramenta de busca em português. O site mostra dados detalhados, com foto do motorista, número de amigos no Facebook e depoimentos de outros passageiros. Há ainda um sistema de estrelas que indica a confiabilidade no condutor e o nível de conforto do automóvel.

São oferecidas ainda informações, como se é permitido fumar no carro, se o motorista gosta de ouvir música, de conversar e se é possível levar animal de estimação. Os sites de carona não costumam cobrar taxa de adesão ou mensalidade. Mas na Alemanha, por exemplo, o Carpooling já começa a cobrar uma pequena porcentagem daqueles que oferecem carona – exigência muitas vezes burlada. Os sites ganham dinheiro principalmente com publicidade e também com parcerias com empresas de ônibus e trem. Eles estabelecem deveres e direitos dos motoristas e caroneiros, código de boa conduta e dados sobre seguro do veículo. Mas não se responsabilizam por cancelamentos, imprevistos e acidentes.

Viajar com estranhos

Viajar de carona não é muito comum no Brasil, embora já haja sites especializados. Muitos brasileiros têm medo de viajar com estranhos e serem vítimas de golpes, assaltos e sequestros.

Para Luiz Trigo, coordenador do curso de Lazer e Turismo da USP, a segurança ainda é um empecilho para que o conceito de carona se popularize no país. Mas na Europa os índices de criminalidade são baixos e as possibilidades, trechos e horários de carona são muitos, algumas inclusive para longas distâncias. O geoecologista Daniel Kachelriess já viajou de carona de Freiburg, na Alemanha, até Alicante, na Espanha. O trajeto demorou 30 horas e o motorista ainda seguiu viagem até o Marrocos.

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Além de economizar, é uma chance de conhecer novas pessoas e passar a viagem conversandoFoto: Fotolia/imageegami

Os brasileiros Nicole Plauto e Pacelli Luckwu estudam economia em Berlim, umas das cidades com maior oferta de carona na Europa. Eles estão acostumados a viajar dessa forma.

"Nunca tivemos problemas, inclusive já viajei sozinha várias vezes", diz Nicole, que admite que teria medo de viajar assim no Brasil. "Não é só para economizar dinheiro, é muito legal até mesmo para praticar o idioma e fazer amigos."

Moritz Hermann acredita que os riscos de viajar de carona na Alemanha são muito pequenos. Ele faz mestrado em Colônia e viaja para visitar a família em Munique, quase sempre de carona.

"Numa dessas viagens passei pelo menos seis horas conversando com a motorista. Depois liguei para ela de novo e combinamos de sair juntos", conta.

O relacionamento de Moritz só durou meio ano, mas segundo estatísticas do Carpooling, foram contabilizados mais de dez casamentos entre pessoas que se conheceram numa das caronas agendadas pelo site.

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O Carpooling diz que mais de 10 casamentos começaram numa carona do siteFoto: Alexander Kuhr

A brasileira Lívia Aguiar também teve sorte. Ela estava viajando de bicicleta pela Europa e o plano era ir de Berlim a Copenhagen, mas, no caminho, machucou o joelho e teve que buscar uma alternativa. Lívia encontrou num site de caronas uma passagem de trem de grupo, e uma das passageiras ainda conseguiu uma casa para que ela se hospedasse na mesma noite.

Sem garantias

Por outro lado, a viagem de carona está mais sujeita a imprevistos e surpresas do que numa viagem de trem. A duração da viagem pode variar por causa de engarrafamentos, acidentes e reformas na estrada. Ainda é possível que o motorista ou outro passageiro atrasem ou que, por algum problema, cancele a carona de última hora.

Chiara Pianezzola e o namorado, Alberto Calovi, ambos italianos, tinham marcado uma carona de Siegen, na Alemanha, para Amsterdã. "Não tem como esquecer. Chegamos à estação às 5 horas da manha, esperamos 45 minutos na neve, a temperatura estava negativa, e o motorista não apareceu", lembra.

O casal ligou várias vezes para o celular indicado pelo motorista no site, mas ninguém atendeu. Por fim, desistiram e compraram uma passagem de trem, que custou mais do que o dobro do valor da carona.

Tourismus in Berlin
Mas a viagem de carona está mais sujeita a imprevistos, como atrasos e cancelamentosFoto: Getty Images

O motorista com quem a brasileira Nina Alves tinha combinado uma carona de Paris até Colônia, na Alemanha, também não apareceu. Ela ligou diversas vezes e, depois de meia hora, uma pessoa se aproximou das três meninas que esperavam e as ofereceu o mesmo trajeto num micro-ônibus, pelo mesmo preço.

"Eles têm um esquema, fazem isso para ganhar dinheiro. Enquanto não havia oito pessoas para encher a van, nós tivemos que esperar. Eu enviei uma reclamação para o site".