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Sob fogo cruzado

Marcio Weichert12 de fevereiro de 2003

Schröder enfrenta dias difíceis. Não bastasse a crise econômica, o desgaste de seu governo no cenário externo com sua postura antibelicista incentiva a oposição. Até dentro da coalizão, ele enfrenta atritos.

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Trapalhada de Schröder enfraquece êxitos diplomáticosFoto: AP

Apesar de 70% da população alemã e Gerhard Schröder estarem unidos contra uma guerra no Iraque, a popularidade do chefe de governo alemão segue ladeira abaixo. Tanto no plano nacional, quanto externo. Seu empenho em no mínimo retardar um já quase inevitável ataque americano ao país de Saddam Hussein ganhou significativo apoio em Paris, Moscou, Pequim e Bruxelas, desmanchando a imagem de isolamento que Washington e a oposição alemã se esforçavam em pintar. Mas os seus desacertos sobre a suposta iniciativa teuto-francesa para uma nova resolução da ONU aniquilaram os ganhos de credibilidade.

Após o governo francês desmentir e Berlim ter de remendar sua postura, a oposição conservadora recarregou a metralhadora com calibre ainda mais grosso. "Acho que está na hora de eles saírem, a qualquer preço democrático", disparou o deputado Michael Glos, no Bundestag. Para o líder da União Social-Cristã (CSU), o melhor caminho seriam novas eleições, o que Schröder descarta: "Renunciar numa situação difícil seria fugir da responsabilidade".

Apesar de Schröder repetir seu discurso antibelicista, ele não se reflete, entretanto, em suas decisões de ordem prática. Ao contrário da França e da Bélgica, a Alemanha não apresentou veto formal a uma resolução da Otan para preparar ajuda ao aliado euro-asiático. Além disto, Berlim já autorizou o empréstimo à Holanda dos mísseis antiaéreos Patriot, requisitados pela Turquia. A Holanda servirá assim de intermediária para que a contribuição alemã chegue ao único país da Otan vizinho do Iraque. E, por fim, o chefe de governo alemão garante que Washington e Londres poderão utilizar livremente suas bases militares no país para uma eventual intervenção militar no Iraque, mesmo sem mandato da ONU.

Desafinação com o ministro do Exterior

Enquanto o chanceler morde e assopra, seu ministro do Exterior corre o mundo tentando costurar apoios contra uma guerra. No fim de semana, Joschka Fischer quase caiu do cavalo. Pouco após o ministro travar um duelo verbal com o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, na Conferência Internacional de Segurança em Munique, a revista Der Spiegel divulgava, a partir de fontes do governo, a suposta proposta teuto-francesa de ampliar o número de inspetores da ONU no Iraque e enviar uma tropa de capacetes azuis para protegê-los.

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Em mais de quatro anos de governo, Fischer e Schröder (observados na foto pelo ex-ministro Riester) mostraram-se quase sempre bem afinadosFoto: AP

As pistas indicam que as informações saíram da Chancelaria Federal, ou seja, da chefia de governo. A desafinada não estremeceu apenas o dueto Berlim-Paris, mas também as relações entre Schröder e Fischer. Ao tomar conhecimento da divulgação da "iniciativa", o ministro teria ligado para Schröder e protestado pelo anúncio sem seu conhecimento. O político verde sentiu-se ofendido, à margem da situação. Claro que tanto o gabinete do social-democrata quanto do verde negaram o bate-boca entre os dois parceiros de coalizão. Para a oposição conservadora e liberal, foi mais um prato cheio. Na Grã-Bretanha, questionou-se a seriedade e o profissionalismo da política externa alemã.

Problemas também na casa social-democrata

Schröder enfrenta problemas também dentro das próprias fileiras social-democratas (SPD). O nó porém é outro: a demora de soluções para a crise econômica. A voz mais forte no momento é da governadora Heide Simonis, de Schleswig-Holstein. Nos últimos dias, a social-democrata tem repetido seu apelo para que Schröder assuma para valer as rédeas da política alemã e enfrente os sindicatos.

"Temos de tratar de temas que os sindicatos se recusarão por instinto. Mas temos de falar claro sobre eles, dizer o que tem de ser feito e quem vai pagar a conta. Somente assim poderemos sair do poço. A maior parte das pessoas na Alemanha já sabe há muito tempo que estamos enfrentando tempos difíceis. Não temos de ter medo de atritos", cobra Simonis.

A ala esquerdista do SPD também anda para lá de insatisfeita com o governo, em especial com o novo ministro da Economia, Wolfgang Clement, cujas propostas seriam "neoliberais". No entanto, diante da pressão internacional a que Schröder está submetido, os esquerdistas arriaram por enquanto as armas. Esta semana, iriam apresentar para votação no diretório nacional do Partido Social Democrático uma resolução a favor de mais investimentos estatais. Além de adiarem a estocada, desistiram de reivindicar uma convenção nacional extraordinária. Segundo Andrea Nahles, líder dos esquerdistas, sua ala está solidária a Schröder neste momento histórico da política externa alemã.