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Sociedade civil iraniana é forte e ativa, diz especialista em Irã

Thomas Latschan (md)28 de maio de 2013

Apesar da repressão política, iranianos participam de organizações assistenciais e debatem ideias críticas em grupos informais, longe dos olhos do Estado, afirma o cientista político Adnan Tabatabai, em entrevista à DW.

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Foto: Farhad Rajabali

Deutsche Welle: Até que ponto a sociedade civil iraniana tem força hoje e qual é a influência política dela?

Tabatabai: Em princípio, é importante destacar que, se alguém pensa em sociedade civil no Irã, não só pense nas organizações que surgiram na era de reformas sob Mohammad Khatami. Há também uma série de atores da sociedade civil que não são promotores da democracia no sentido que entendemos, mas na verdade fazem um trabalho consolidado para o Estado ou para o regime, seja no setor cultural, assistencial, organizando peregrinações religiosas, na guarda de costumes ou coisas semelhantes. Esses atores da sociedade civil são irrelevantes para as decisões políticas atuais, mas desempenham tarefas muito importantes no cotidiano da sociedade iraniana.

Em que áreas essas organizações são especialmente ativas?

Por exemplo, no setor do bem-estar social, na ajuda a tratamentos contra o câncer, no combate às drogas, na assistência aos refugiados. Há muitas organizações que, embora financiadas com recursos do Estado, assumem, por assim dizer, as tarefas do Estado, prestando assistência local para atender às necessidades do povo.

Bildergalerie "Verbotene Soziale in Iran"
Iranianos se engajam em atividades de assistência, como as dedicadas a criançasFoto: hamshahrionline

É claro que há também o movimento feminista, o movimento operário ou algo semelhante. Mas também há áreas que são politicamente de menor destaque, como o cuidado de crianças doentes ou instalações para as pessoas com deficiência. E estas são áreas em que as ONGs também podem trabalhar como de costume, sem temer represálias. Pelo contrário, estas organizações podem até trabalhar na consolidação do regime. Então, sociedade civil também pode reforçar o regime, mesmo dentro de um contexto autoritário.

Há também atores da sociedade civil que são críticos a respeito do regime, embora de forma camuflada?

Claro. Talvez você não veja mais hoje em dia as ONGs que ainda foram registradas na época das reformas, no início dos anos 2000. Mas talvez eles hoje se encontrem em uma sala privada em pequenos grupos e organizem lá várias atividades. Isso pode começar por uma espécie de círculo literário, que lida com textos socialmente críticos, para promover a consciência social crítica. Muito ocorre através de redes informais.

Se considerarmos o tempo desde que Ahmadinejad assumiu, como mudou o clima político para os atores da sociedade civil mais críticos no últimos oito anos?

O contexto autoritário tem se intensificado desde que Ahmadinejad assumiu o poder. Isso começou no final da presidência de Khatami e depois foi ficando mais repressivo. Antes da eleição de 2009, o clima, de repente, melhorou bastante para, em seguida, novamente piorar. Era como se alguém tivesse tomado fôlego para poder, então, apertar realmente a repressão. No entanto, os atores continuam firmes, trabalhando e se encontrando de maneiras informais, reunindo-se em salas de estar.

Até que ponto o chamado Movimento Verde, que surgiu após as eleições de 2009, foi formado a partir desses atores da sociedade civil? Ou ele é uma associação informal de pessoas que têm objetivos diferentes e só estão unidas porque se sentiram enganadas nas urnas?

É muito difícil verificar se os atores que se formaram no período da reforma também se encontram no movimento de protesto, pois o Movimento Verde foi relativamente anônimo. Se considerarmos apenas os atores políticos mais barulhentos do movimento, então vemos que eles vieram, claro, do campo reformista. Mas, no geral, também foi formada uma aliança com outras partes da população que estavam a favor de mudanças, mesmo que tenhamos de perguntar se essa mudança que eles querem é de governo ou de sistema. Havia uma união, mas os protestos foram abafados de forma relativamente rápida.

O que aconteceu com o Movimento Verde? Ele ainda existe? E será que pode desempenhar um papel também nas eleições deste ano?

Grüne Bewegung in Iran
Movimento Verde protesta nas ruasFoto: picture-alliance/dpa

Acredito que as ideias políticas que foram articuladas no curso deste movimento de protesto permanecem. Só porque elas não são mais cantadas nas ruas, isso não significa que as pessoas não continuam querendo mudar algo, através de seu voto nas eleições presidenciais. Outras reivindicações, como o enfraquecimento do Conselho dos Guardiães na filtragem dos candidatos presidenciais, não desapareceram enquanto ideias. E qualquer movimento social também cria um patrimônio cultural, seja ele música, seja arte, e que, naturalmente, ainda está por aí.

Ao mesmo tempo, um desenvolvimento dessas ideias foi impedido quando os líderes deste movimento foram presos ou isolados. No final, as principais figuras foram colocadas em prisão domiciliar, mas muitas outras pessoas, mais jovens, estão na prisão ou foram intimidadas e silenciadas por outros métodos.

No entanto, este Movimento Verde continuará sendo importante no Irã para os desenvolvimentos políticos futuros, pelo menos no nível do discurso, uma vez que as pessoas sempre vão se lembrar dele. E o fato de os atores do centro do regime exigirem que os reformistas Hussein Musavi e Mehdi Karoubi sejam finalmente libertados mostra que ele ainda hoje influencia a realidade política. Portanto, o movimento foi desligado apenas no que diz respeito a suas atividades. Os ideais ainda estão por aí e não vão se perder tão rapidamente.