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Soros: crédito do FMI não salvará o Brasil

(ns)14 de agosto de 2002

O milionário George Soros, que fez sua fortuna com negócios nas bolsas, agora exige uma instância de controle para os mercados financeiros e aponta soluções para crises como a do Brasil.

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Foto de Soros na capa de seu livro sobre a globalização

"Distorções no sistema financeiro" é o título de um artigo que o milionário húngaro-americano George Soros publicou na edição alemã do Financial Times de terça-feira (13/08). Nele, Soros diz que o Brasil não tem culpa pelos problemas atuais, mas que o crédito bilionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) não irá preservar o país da insolvência. Somente o apoio dos bancos centrais do mundo industrializado poderia restabelecer a confiança na economia brasileira.

George Soros começa dizendo que o crédito foi maior do que se esperava, mas o alívio foi muito passageiro. "Logo os juros voltaram a subir, e tendo-se que pagar, pelo cálculo em dólar, 22% pelos C-Bonds, a longo prazo o país irá à bancarrota", profetiza. Isso porque o superávit orçamentário primário de 3,75%, fixado pelo FMI, não será suficiente para equilibrar as contas. Para evitar que as dívidas continuem aumentando em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), o superávit teria que ser, no mínimo, de 4%.

Compensação pelas bobagens de O'Neill

"Provavelmente o Fundo teria exigido tanto, não fosse o fato de ter que compensar de alguma forma as desastrosas declarações do secretário do Tesouro Paul O'Neill", observa o investidor que ficou rico à base de especulação. Se um crédito de montante tão alto não provocou alívio, é porque tem alguma coisa errada com o sistema financeiro internacional, deduz Soros, para quem o Brasil não tem culpa no cartório.

Provavelmente o Brasil irá eleger um presidente que não é apreciado nos mercados financeiros internacionais, constata, acrescentando a seguir uma frase notável: "Quando os interesses dos investidores internacionais acabam pesando mais do que os princípios da democracia, tem algo de errado com o sistema". O principal é a grande disponibilidade de capitais voláteis além das fronteiras, sem nenhum controle.

Soros exige regras para regulamentar os mercados financeiros internacionais, a exemplo do que já existe em nível nacional. "O atual sistema tem uma grave distorção, ao concentrar-se somente na estabilidade dos mercados de capitais, relegando a um plano secundário a estabilidade dos países periféricos. É por isso que os investimentos em países emergentes são de alto risco."

BCs do primeiro mundo e política de crescimento

Em vez de tentar controlar a dívida externa através de uma determinada relação entre os juros e o superávit orçamentário, Soros propõe outra coisa: "Em vez disso, se deveria pensar quais taxas de juros seriam compatíveis com um crescimento razoável". O milionário sugere 10% de taxa e 3,75% de superávit como máximo, com o que restaria saber onde obter garantias internacionais ou linhas de crédito adicionais.

"Em vez de resolver os problemas a curto prazo com um pacote do FMI, os bancos centrais dos países desenvolvidos deveriam abrir suas transações de desconto cambial para os títulos da dívida brasileira. Isso estabeleceria confiança e levaria à valorização dos títulos. A fim de limitar o risco, a concessão de créditos através dos bancos centrais não deveria subir mais do que os títulos." Os bancos, por sua vez, voltariam a conceder créditos, e assim, "poderia recomeçar o crescimento sob o impulso das exportações".

George Soros, que agora se dedica a pesquisas sobre a globalização, está convicto de que sua proposta conseguiria o que o pacote do FMI não conseguirá: acabar com a crise sem muitos custos. Além do mais, "o novo presidente não teria motivo para questionar o serviço da dívida", conclui.