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Supermercados alemães entre medo e auxílio aos refugiados

Carla Bleiker (md)23 de setembro de 2015

Enquanto alguns gerentes de filiais doam alimentos para migrantes recém-chegados, outros contratam vigias para manter residentes de abrigos para refugiados distantes de suas lojas.

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Supermercado na cidade Heidenau tenta coibir boatos maldosos
Foto: DW/S. Hofmann

Um dono de supermercado na cidade alemã de Jüchen ofereceu espontaneamente sua ajuda quando um ônibus com refugiados chegou no meio da noite. Bombeiros que estavam organizando a logística para a chegada ligaram para Michael Ermer tarde da noite, dizendo que precisariam de muita comida para bebê e de produtos sanitários, como lenços umedecidos para crianças.

"Nós simplesmente dissemos 'claro, podemos ajudar', e esvaziamos as nossas prateleiras", lembra Ermer, que dirige a filial local da cadeia de supermercados Rewe. "Se a ajuda é necessária, você tem que ajudar."

E quando Ermer diz que esvaziou suas prateleiras, ele não está exagerando. Um aviso na prateleira diz que as mercadorias foram doadas numa "situação de emergência aguda" e pede compreensão aos fregueses.

Bola de neve na internet

Desde então, a decisão espontânea de ajudar se tornou uma grande bola de neve na internet. Meios de comunicação alemães como a edição online da revista semanal Stern publicaram a história, e a foto do recado para os fregueses e das prateleiras vazias se espalhou como fogo no Facebook e no Twitter.

A decisão de Ermer de doar os artigos de bebê urgentemente necessários repercutiu, provocando muitas manifestações de compreensão e gratidão. "As reações dos clientes com quem conversamos foram, em sua maioria, positivas", conta o gerente. "Nós também recebemos telefonemas de agradecimento de toda a Alemanha e de outros países europeus."

Mas o dono do supermercado na cidade de Jüchen também viu o outro lado. Ele diz ter recebido alguns e-mails agressivos, e alguns comentaristas na página do Rewe no Facebook também deixaram claro que não aprovam a iniciativa. Em alguns casos, contudo, a raiva parece ter prevalecido sobre a acuidade dos fatos.

"O Rewe doou todas as mercadorias de um supermercado aos refugiados", escreveu Bernd Stückrad no Facebook da rede de lojas. "Eu nunca ganhei nenhum presente deles. Nunca mais vou colocar o pé numa loja Rewe."

Ermer não se incomoda com a negatividade de alguns e diz que repetiria imediatamente a ação. E acrescenta que a clientela local não precisa se preocupar em ter onde comprar produtos para bebês, já que há nas proximidades uma outra loja com esse sortimento.

Vigias devido a medo de refugiados

Em outros lugares, a confrontação dos supermercados com as chegadas de refugiados não correram tão harmoniosamente. O gerente de um mercado da rede Edeka na cidade alemã de Calden decidiu contratar seguranças em agosto. Segundo Ewald Eckert, refugiados invadiram sua loja, roubando mercadorias e abrindo embalagens. Ele só permite que dois refugiados entrem por vez em seu estabelecimento, segundo reportagem publicada pelo jornal berlinense Der Tagesspiegel.

Eckert logo parou de falar com a imprensa, mas numa declaração anterior disse que se sentia "deixado sozinho" com o grande número de pessoas que acorriam à sua loja, vindas do abrigo para refugiados nas proximidades do aeroporto de Calden. Por isso, estaria tentando proteger seus funcionários, a maioria do sexo feminino.

A polícia garantiu que não tinha registro algum ou queixas oficiais por parte de Eckert. O chefe de polícia da cidade grande mais próxima, Kassel, disse ao Der Tagesspiegel que houvera problemas, mas não "tão sérios como os relatados".

Luta contra radicais de direita

Em Heidenau, a cadeia de supermercados Real teve problemas, mas não com os refugiados e sim com boatos maldosos sobre eles difundidos na internet. A cidade no leste da Alemanha ganhou notoriedade negativa em agosto, quando radicais de direita protestaram violentamente contra um abrigo para refugiados.

"Durante semanas, desconhecidos espalharam rumores maldosos nas mídias sociais", relatou à DW o porta-voz do Real, Markus Jablonski. Segundo ele, cerca de 100 supermercados da rede são vizinhos próximos de abrigos de refugiados, mas esses problemas só ocorreram em Heidenau e Erfurt, ambas no leste da Alemanha.

Para acabar com os boatos, o Real colocou em suas filiais cartazes esclarecendo que o número de incidentes de furtos não aumentou desde que refugiados se mudaram para as vizinhanças e que não é verdade que eles só estão autorizados a entrar nas lojas após as 20h.

O aviso também desmente que os refugiados recebam tratamento preferencial e que os funcionários façam vista grossa com os que roubem mercadorias de valor inferior a 50 euros. "Tivemos que reagir, para que nossos clientes não sejam influenciados pelas afirmativas falsas espalhadas pela internet", explica Jablonski.

Mídias sociais, como o Facebook, foram recentemente criticadas por não fazerem o suficiente contra conteúdos xenófobos ou incitando o ódio. Mas felizmente muitos internautas também gostam de compartilhar conteúdo positivo, como mostra a história do generoso supermercado em Jüchen.

No começo, Michael Ermer não tinha conhecimento de que a foto de suas prateleiras vazias com o aviso tivesse se espalhado pela internet. "Eu nem tenho Facebook", confessa, com uma risada. "Eu só soube da coisa alguns dias mais tarde, quando vieram os primeiros telefonemas."