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Surto de adrenalina

Ludger Schadomsky (ef)28 de agosto de 2003

Reto Walther ficou seis meses no cativeiro, no Saara argelino e do Mali, junto com outros reféns europeus. Em entrevista à Deutsche Welle, o suíço de 31 anos fala das conseqüências do seqüestro e seus motivos.

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Reto Walther ao retornar do cativeiroFoto: AP

Senhor Walther, como vai o senhor depois desse longo cativeiro?

Até eu mesmo me admiro de como estou bem sob vários aspectos. Estou contente por estar em casa. Ainda continuo sob surto de adrenalina, mas estou feliz com a minha esposa e isso me dá forças maravilhosas.

O senhor vai procurar ajuda psicológica profissional depois desse drama? O senhor faz parte do grupo que teve de enterrar Michaela Spitzer (alemã que morreu de fadiga no cativeiro) no meio da noite. O senhor pronunciou algumas palavras à beira do túmulo. Como o senhor lidou com este drama?

Eu me sinto forte, talvez forte demais para algumas pessoas. Mas eu também me deixei convencer de que preciso de ajuda profissional.

Os seqüestradores lhe deram um aparelho de rádio, em 19 de março. Pela primeira vez, o senhor e os outros reféns puderam ouvir, na Deutsche Welle, informações sobre os esforços para a sua libertação. Esta espécie de cordão umbilical o ajudou ou aumentou ainda mais a sua sensação de impotência. O senhor ouviu sobre equipes de buscas que possivelmente andavam por perto mas não podia se comunicar.

Foi isso mesmo. Foi uma situação muitíssimo difícil para todo o grupo. Eu me lembro de uma noite, cuja data esqueci, em que ouvi que a opinião pública questionava se nós nos tínhamos perdido no deserto ou sido vítimas de um crime. Eu lembro que naquela noite a nossa disposição desceu para um nível baixíssimo. Como mais tarde a rádio Deutsche Welle anunciou que as equipes de busca estavam a caminho, que estavam nos procurando a partir do ar, nossa motivação aumentou e, naturalmente, também as nossas expectativas.

Ankunft der befreiten Geiseln in Köln
Chegada dos ex-reféns a solo alemãoFoto: AP

Todos nós estávamos contentes por possuir um aparelho de rádio. Com ele ficamos sabendo da guerra no Iraque. Ouvimos também sobre outro grupo de turistas europeus seqüestrados e libertados a seguir. Nos alegramos com isso, mas também ficamos decepcionados porque outro grupo foi libertado e nós não. Só existiam duas emissoras que nós e nossos seqüestradores confiávamos. Era a Deutsche Welle e uma rádio que transmite em francês. Acho que era marroquina ou francesa. Estávamos contentes em poder ouvir a DW, pois seus noticiários eram realmente objetivos e bons.

O rádio foi tomado de vocês três meses depois. Os seqüestradores disseram o motivo?

Não. A ordem partiu do líder máximo do grupo. Eu acho que foi por motivo de segurança.

Especulou-se muito e especula-se ainda sobre os motivos dos seqüestradores. Eles estavam divididos em dois grupos. Os radicais e os que lhe deram alimento às escondidas e se desculparam com o senhor pelo seqüestro. O motivo do seqüestro foi político ou eles só queriam dinheiro de resgate?

Esta é uma pergunta difícil que eu realmente não posso responder. A minha impressão é de que se tratava de um grupo com motivos políticos, que quis obter dinheiro com esse crime para comprar alguma coisa, a fim de se mobilizar melhor. Acho que no final não havia mais motivo político. Mas isso é só uma suposição, que não posso fundamentar.

Como o senhor pretende levar a vida agora. Vai retomar o trabalho? O senhor pretende voltar novamente ao Saara?

Viajar para o Saara não. Por dois motivos. De um lado, a região é muito insegura. Pelo menos se discute muito isso agora na Suíça. De outro lado, a minha mulher está grávida. Fiquei muito tempo no cativeiro sem saber disso. Esperamos o bebê para novembro e vou ter um novo papel como pai de família.

Pretendo retomar a vida normal. Espero voltar ao trabalho na semana que vem. Eu acho que é também importante para mim poder iniciar um cotidiano, uma vida regulada. Isto vai, com certeza, me ajudar.