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Tabori encena Mozart e evoca tolerância entre as culturas

(sv)3 de agosto de 2002

Aos 88 anos, o mestre do teatro leva a Berlim “O Rapto do Serralho”. O inusitado está na escolha dos palcos: a Igreja da Memória, a Nova Sinagoga e uma mesquita freqüentada por muçulmanos alevitas.

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O diretor húngaro George TaboriFoto: AP

A encenação, segundo Tabori, deve ser entendida como uma ode à tolerância e uma reação aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o que já fica claro para o espectador antes mesmo do início do espetáculo. O cartaz de divulgação da ópera traz o desenho de uma criança, em que um avião se desloca em direção a um arranha-céu.

Escrita em 1782 por Wolfgang Amadeus Mozart, O Rapto do Serralho (Die Entführung aus dem Serail) conta a saga do nobre espanhol Belmonte Lostados, que sai em busca de sua amada Constanze e dos criados Blonde e Pedrillo, raptados por piratas turcos. No final, são libertados graças à ajuda do turco Bassa Selim, interpretado pelo ator alemão Mathieu Carrièrre.

Minimalismo –

Tabori abdica de recursos cênicos, alinhavando mais um concerto musical do que uma ópera em si. Apenas cinco cadeiras foram postadas no altar da igreja, num gesto de renúncia à ostentação e à pompa. A orquestra, ao lado da pia batismal, é regida por Christoph Hagel, que é também o produtor do espetáculo. Na ausência de cenário e figurinos, seguindo uma interpretação quase minimalista, a história de O Rapto do Serralho é contada pela música. "A igreja não é um teatro e por isso tive que conduzir o espetáculo de uma forma diferente do que teria feito em um palco regular", explica o diretor.

Versões –

Tabori criou três versões diferentes para o espetáculo, levando em conta tanto os detalhes arquitetônicos quanto os aspectos culturais que envolvem a igreja, a sinagoga e a mesquita onde a ópera será encenada. A rotatividade entre os três "palcos" deverá transportar a idéia de tolerância e intercâmbio entre as três religiões e culturas, segundo o diretor.

O Rapto do Serralho terá 15 apresentações na Igreja da Memória (Gedächtniskirche), destruída na Segunda Guerra Mundial e parcialmente reconstruída nos anos 50, e oito na Nova Sinagoga, reconstruída no centro de Berlim nos anos 90. As duas edificações são ao mesmo tempo símbolos berlinenses e memoriais ao extermínio dos judeus e à destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial na cidade. As sete últimas apresentações do espetáculo serão feitas em uma mesquita no bairro de Kreuzberg, onde vivem milhares de turcos na capital alemã.

Trajetória –

George Tabori, considerado um dos maiores diretores teatrais da segunda metade do século 20, nasceu na Hungria em 1914. Depois de viver em Berlim e Dresden, voltou ao seu país, onde trabalhou como jornalista e tradutor. Em 1936, emigrou para Londres, vivendo depois na Bulgária e na Turquia.

Em 1941, tornou-se cidadão britânico e foi enviado como correspondente de guerra ao Oriente Médio. Em 1947, passou a viver nos EUA, onde encontrou Bertold Brecht e trabalhou como dramaturgo e roteirista para filmes de, entre outros, Alfred Hitchcock e Joseph Losey. Desde o início dos anos 70, vive na Alemanha.

O regente Christoph Hagel é conhecido por ter encenado Mozart em outros locais inusitados, como o clube tecno E-Werk, de Berlim, que serviu em 1997 de cenário para Don Giovanni, e uma barraca circense, onde foi apresentada A Flauta Mágica, um ano mais tarde.