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Taylor deixa escombros e marionete na Libéria

Estelina Farias12 de agosto de 2003

O exílio do ditador Charles Taylor não quer dizer o fim da guerra na Libéria. Os rebeldes não aceitam a marionete que ele deixou no poder e o país precisa de forte engajamento dos EUA, segundo a imprensa alemã.

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Liberianos dão adeus ao ex-ditador no aeroporto de MonróviaFoto: AP

A renúncia do presidente Taylor e a posse do seu vice Moses Blah, em Monróvia, é vista com muito ceticismo pela imprensa alemã, pois o novo mandatário seria uma mera marionete do antecessor e não possuiria qualidades políticas para promover uma pacificação nacional. Para desgraça dos liberianos, os chefes dos dois movimentos rebeldes não seriam melhores que o novo presidente. Por isso, o diário Die Welt estima que o fim da guerra ainda vai demorar.

E a guerra civil com crianças soldados é muita barata, como lembra o Neue Osnabrücker Zeitung. Esperança de um armistício só com a presença maciça de soldados americanos, avalia o matutino, ressalvando que, por causa dos custos operacionais, as tropas dos EUA não permanecerão por muito tempo no país africano. Vai demorar anos até que a Libéria tenha um Estado viável com um governo civil e infra-estruturas.

Alternativa internacional

- O sucessor de Taylor, Blah, assumiu com um tom conciliador, mas é um sanguinário e os chefes dos dois movimento rebeldes assemelham-se mais a mafiosos do que a líderes idealistas, segundo o jornal Fuldaer Zeitung. A alternativa seria, portanto, um engajamento da comunidade internacional a longo prazo na Libéria. Como os Estados do oeste africano dificilmente poderiam impor a paz sozinhos, até porque estão muito envolvidos no conflito, sobretudo os EUA têm de mostrar especial apreço e atenção aos seus ex-escravos, sugere o diário alemão.

Golpe em cima de golpe

- Taylor partiu para um exílio de luxo na Nigéria, nesta segunda-feira (11) deixando só escombros, fome e muitas incertezas na Libéria. É como se o diabo tivesse deixado o inferno, como observou o jornal Weser-Kurier. Forçado por Washington, ele deixou o país após 14 anos de guerra e 2.500 marines americanos a bordo de navios na costa liberiana prontos para desembarcar a qualquer momento para tentar restabelecer a paz na ensangüentada Libéria. Taylor havia assumido o poder em 1989, como líder de uma revolta em que foi morto o ditador Samuel Doe, empossado após um golpe contra o presidente William Tolbert, em 1980.

Mais de 200 mil pessoas morreram antes do acordo de paz de 1996 e outras mil tombaram nos últimos três anos de luta entre as tropas de Taylor e os dois grupos rebeldes. A maioria dos soldados era de crianças com fuzis AK-47, drogadas e alcoolizadas. As três facções saquearam a população, criaram uma legião de famintos e usaram o estupro como arma de guerra.

Riquezas naturais e miséria

humana- Para o Die Welt, só os próprios liberianos podem libertar-se de sua própria miséria, mas o resto do mundo deve ajudá-los, sobretudo os Estados Unidos. A Libéria é rica em ouro, diamantes e minérios de ferro e possui uma vegetação admiravelmente verde para o clima africano. Numa análise sobre os numerosos conflitos na África, com destaque para o do Estado liberiano criado no século 19 por escravos recém-libertados nos EUA, o semanário alemão lembra que o continente negro nunca foi um idílio de paz.

Desde 1945 foram travadas 54 guerras ao sul do Saara, um balanço incomparável com os outros quatro continentes. Mas o jornal alemão rejeita o pretexto de que a hostilidade crônica seria obra dos colonizadores europeus, pois antes da era colonial a África era uma ilha de violência, castigada por guerras entre estirpes, clãs, etnias, regiões e Estados.