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Tecnologia alemã no solo de Marte

Daryl Lindsey (am)25 de dezembro de 2003

Em entrevista exclusiva à DW-WORLD, o diretor da Agência Aeroespacial Alemã (DLR), Sigmar Wittig, falou da missão Mars Express e do seu significado para o futuro da pesquisa espacial européia.

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O lançamento da missão Mars Express em junho passadoFoto: AP

Neste Natal, os cientistas da Agência Espacial Européia (ESA) e das agências nacionais dos 15 países membros comemoram o sucesso parcial da primeira missão em Marte. Depois de seis meses de viagem pelo espaço, a sonda Mars-Express atingiu nesta quinta-feira (25/12) sua órbita no planeta vermelho. Já a perda de contato com o módulo Beagle-2, que deveria aterrissar na manhã de hoje em Marte, não é vista com pessimismo.

Antes disso, a DW-WORLD conversou com Sigmar Wittig, diretor da Agência Aeroespacial Alemã (DLR), sobre a missão Mars Express e outros importantes planos da ESA e da DLR para o futuro.

Qual é a importância da missão Mars Express para o programa espacial europeu?

A missão científica para constatar a existência de água e de vida em Marte é de fundamental importância. Do ponto de vista alemão, existem alguns instrumentos na sonda Mars Express e no módulo Beagle-2 que são muito significativos. Há uma câmera estéreo de alta resolução que, esperamos, nos enviará imagens e fotografias fantásticas, o que nos ajudará a determinar a aparência da superfície de Marte. Ao mesmo tempo, serão feitas medições do solo e do subsolo marcianos, a fim de possibilitar uma descrição altamente precisa do planeta. A broca utilizada para a pesquisa das camadas abaixo da superfície foi desenvolvida pela Agência Aeroespacial Alemã. Não se pode analisar o solo marciano apenas através dos efeitos causados pelas influências externas da atmosfera e do espaço sobre a superfície do planeta. É preciso perfurar pelo menos até 1,5 metro de profundidade para constatar como é realmente o solo e para averiguar, conforme esperamos, como era esse solo há um milhão de anos. Houve vida em Marte? Existiu ou ainda existe água lá?

Essa missão é um sinal de evolução no programa espacial da Europa?

Essa missão nos coloca na primeira classe da perfeição em engenharia. Significa também que conquistamos o mais elevado padrão tecnológico em muitos setores, inclusive o de técnica da informação e de navegação.

A missão traz algum lucro comercial para a Alemanha e para a Europa?

O aspecto comercial não é o mais importante, mas sim o científico. Mas, considerando o lado comercial, a câmera de alta resolução, por exemplo, pode ser usada também para fotografar outros planetas e ainda na Terra, para checar áreas remotas e fornecer uma visão total do nosso planeta, utilizável para os projetos de observação contínua da Terra. Ou seja, há um aspecto comercial, mas ele não é predominante.

A Nasa sempre foi muito admirada pelas tecnologias que desenvolveu e que transferiu posteriormente para a indústria privada. Existe uma transferência de tecnologia similar a partir do programa espacial europeu ou alemão?

No contexto alemão, um grande número de tecnologias foi transferido do nosso programa espacial para a indústria. Materiais resistentes a altas temperaturas, desenvolvidos no programa espacial, são usados na indústria. Da mesma forma como material de carbono, que pode ser encontrado hoje nos freios de carros. Muitas coisas são provenientes da pesquisa espacial alemã, inclusive dos trabalhos executados para desenvolver os materiais de reentrada atmosférica do sistema europeu de lançamento Ariane. Houve assim uma transferência considerável nas áreas de materiais leves, de sistemas de navegação, de sistemas ópticos – como as nossas câmeras de alta resolução –, de sistemas de detecção de incêndios e da técnica de robôs.

Como se vê o desenvolvimento do programa espacial europeu após essa missão? A ESA vai lançar vôos tripulados?

O próximo passo será o lançamento da sonda Rosetta, no próximo ano, com a qual esperamos visitar um cometa. Nós também trabalhamos em estreita cooperação com os nossos colegas americanos em vôos espaciais tripulados. Ou seja, a ESA e a DLR estão muito bem sintonizadas com a Nasa. Pois a observação da Terra é uma das questões predominantes para a Europa. Tome, por exemplo, a questão da navegação global. Estamos tentando lançar o nosso sistema Galileo, que competirá com o sistema de navegação americano GPS. Outras áreas que incluem observação do que ocorre no planeta são as da previsão do tempo, de análise das catástrofes naturais etc. Uma missão que começamos na Alemanha é a do satélite Bird, que detecta incêndios na superfície da Terra. Também estamos trabalhando em lançamentos futuros, que objetivam transportar cargas, satélites e similares para o espaço. Mas, antes de tudo, continuaremos a aperfeiçoar o nosso sistema Ariane, de lançamento de satélites.