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Tel Aviv, um oásis em meio à violência

Dana Regev (ca)12 de outubro de 2015

Enquanto em Jerusalém cresce a tensão entre palestinos e israelenses, a apenas uma hora dali a realidade é outra. Na cidade secular, moradores podem viver como numa bolha, alheios ao clima de medo de outras regiões.

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Palestino joga pedra contra a polícia na cidade de Hebron, na Cisjordânia, durante protesto da semana passada
Foto: Getty Images/AFP/H. Bader

Jerusalém está em ebulição, não há outra forma de descrever a situação. Nos últimos dias, foram registrados diversos ataques por parte de jovens israelenses usando utensílios caseiros, como facas, chaves de fenda e até um descascador de legumes.

Judeus israelenses patrulham a cidade em pequenos grupos, em busca de pessoas com sotaque árabe para começar uma briga. De ambos os lados, ouve-se uma só palavra: caos. Quase ninguém vai às compras, e os restaurantes estão sem clientes.

"As ruas estão vazias", afirma um dono de bar. "É como se a cidade estivesse sofrendo um cerco."

As pessoas estão claramente com medo. Os clientes dizem que se sentem mais seguros dentro de shoppings do que nas ruas. Em espaços fechados vê-se pessoal de segurança patrulhando todo o dia. Enquanto isso, somente a uma hora dali, o dia a dia parece totalmente diferente na vibrante Tel Aviv.

Israel Tel Aviv
Cotidiano não parece ter mudado em Tel Aviv, a "cidade que nunca dorme"Foto: picture alliance/DUMONT Bildarchiv/E. Wrba

A cidade que nunca dorme

Nos últimos anos, Tel Aviv sofreu poucos ataques terroristas: em Israel, os principais conflitos ocorrem ao longo da Faixa de Gaza ou em torno da Cisjordânia. Jerusalém – cidade sagrada tanto para judeus quanto para muçulmanos e considerada capital por israelenses e palestinos – sempre foi um grande ponto de confrontos. Já a secular Tel Aviv é a cidade israelense que "nunca dorme."

"Tel Aviv e Jerusalém não são a mesma coisa. Nunca o foram", explica Shirley Mandel, uma professora de pilates em Tel Aviv. "É verdade que aqui também acontecem esfaqueamentos, mas a bolha em que vivemos sempre se manteve forte – e isso não é diferente nos dias de hoje."

Muitos israelenses acham que os moradores de Tel Aviv estão completamente alienados da realidade de outras regiões do país, como no sul, onde foguetes disparados da Faixa de Gaza são algo relativamente comum.

"Não me interpretem mal, minha realidade diária mudou", diz Shirley. "Eu já não ando mais a pé para todos os lugares, olho à minha volta o tempo todo para ver se há alguém por trás, fico alerta quando escuto alguém falando árabe, mas – e esse é um grande 'mas' – não deixei de fazer as coisas. Não fico em casa cancelando planos."

Isso não poderia estar mais distante das vivências dos residentes de Jerusalém, onde nesta segunda-feira (12/10), um policial israelense matou um palestino que o teria atacado com uma faca. A onda de violência levanta temores de uma nova intifada (levante popular palestino).

Também houve muitos protestos da minoria árabe israelense, com manifestantes mascarados enfrentando forças policiais. E os jovens por trás dos ataques a faca não possuem – que se saiba – nenhuma relação com grupos armados e eles têm como alvos soldados e civis israelenses, o que complica os esforços para prever ou prevenir seus atos.

"Temos uma filha de dois meses, e às vezes tentamos evitar as mais simples tarefas diárias, quando elas envolvem pegar um trem ou caminhar ao redor por muito tempo", diz a moradora Kineret Nassi. "Meu marido vem daqui, mesmo que diga que a cidade se tornou estranha para ele. Ele não confia em mais nada ou ninguém."

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Violência em Hebron, na Cisjordânia: a poucas horas dali, em Tel Aviv, o clima é outroFoto: Getty Images/AFP/H. Bader

Longe dos olhos, longe da mente

A nova onda de violência começou em 1º de outubro, quando um casal de colonos judeus foi morto diante de seus filhos na Cisjordânia ocupada, e já custou a vida de quatro israelenses e de 24 palestinos, incluindo oito crianças.

É difícil para um estrangeiro entender como duas cidades, situadas a 70 quilômetros de distância uma da outra, podem ter realidades tão diferentes. E, para alguns israelenses, isso é difícil de acreditar.

"No geral, eu não acredito neste mito da bolha de Tel Aviv", afirma Yovel Zim, de 27 anos, moradora de Tekoa, na Cisjordânia. "Acho que eles têm tanto medo quanto nós. Suponho isso porque as coisas estão, na verdade, acontecendo por aqui, em nossa região, então as pessoas estão mais em alerta. Nos últimos dias, me ofereceram ao menos quatro ou cinco vezes a compra de gás lacrimogêneo."

No entanto, muitos em Tel Aviv sentem, na realidade, que o fato de a maioria dos conflitos estar longe dos olhos ajuda a mantê-los também longe da mente.

"O verdadeiro problema que todos nós sentimos – tanto em Jerusalém quanto em Tel Aviv, mas praticamente em todos os lugares – é a falta de liderança", diz Shirley Mandel. "Há uma sensação de decadência, de incerteza, de uma sociedade que perdeu o seu rumo. Desta vez, a situação parece ser pior que uma guerra, já que isso é algo externo. Agora, a batalha pode estar na sua rua", completa a professor de pilates.

Embora as autoridades militares e de inteligência estejam fazendo o melhor para tranquilizar os israelenses de que o país não está enfrentando uma terceira intifada, sente-se uma falta de esperança generalizada.

"Este é um país que tem negligenciado quase todas as minorias possíveis", opina Sherley. "Sejam elas formadas por pobres, idosos, sobreviventes do Holocausto ou palestinos."

Vendo assim, não há de fato tentas diferenças entre Tel Aviv e Jerusalém.