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Tentativa de conter oposição ameaça Moscou

12 de junho de 2012

No dia de protestos na Rússia, opositores tiveram de depor e, assim, foram impedidos de participar das manifestações contra presidente Putin. Observadores falam em sinal equivocado do governo à população.

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Foto: DW/Wladimir Izotow

Manifestantes tomaram as ruas de Moscou e São Petersburgo nesta terça-feira (12/06), em protesto contra o presidente russo, Vladimir Putin. A marcha reuniu milhares, apesar da intimação para os líderes de oposição deporem, justamente neste dia de protestos, e das buscas realizadas em suas casas na véspera.

Os investigadores haviam realizado batidas nas residências de cerca de uma dezena de líderes da oposição. Entre os alvos estavam o blogueiro Alexei Navalny, o líder de esquerda Serguei Udaltsov, e Ilia Yashin, do movimento Solidarnost.

De acordo com a oposição, foram revistadas também as casas do ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov e da apresentadora de TV Sobtchak, que se juntou ao movimento de protesto após as polêmicas eleições parlamentares de dezembro de 2011. Os opositores foram acusados de incitar à desordem durante a chamada Marcha de Milhões, realizada em 6 de maio, que reuniu 20 mil pessoas contra a posse iminente de Putin.

Cerca de 15 mil pessoas saíram às ruas de Moscou nesta terça-feira, segundo a polícia. Mikhail Fedotov, Comissário para Direitos Humanos junto ao presidente da Rússia, e Udaltsov, da oposição, falaram em cerca de 100 mil participantes. A administração municipal havia autorizado uma manifestação para 50 mil pessoas. Em São Petersburgo, cerca de 6 mil protestaram contra o governo.

"A manifestação realizada foi menor do que as anteriores, tanto quanto à quantidade dos participantes, como quanto ao sentido. Ao contrário da Marcha de Milhões, só se reuniram alguns milhares de pessoas", declarou Alexei Tchesnakov, membro do Conselho Geral do partido controlado por Putin.

Os participantes da manifestação da oposição "Por uma Rússia sem Putin", em Moscou, aprovaram o Manifesto Rússia Livre, no qual exigem novas eleições gerais e uma revisão da Constituição. Os opositores exigiram também que tribunais, procuradoria e polícia "sejam limpos de pessoas que cometeram crimes". As ações de protesto vão continuar até que o poder dê uma resposta.

Direito de protesto

A ação da oposição nesta terça-feira ganhou mais destaque com a assinatura de Putin de um enrijecimento da legislação sobre a liberdade de reunião no último sábado. Ela prevê multas significativamente mais altas para violações do direito de manifestação. Por exemplo, se num protesto, pessoas forem feridas ou propriedades danificadas, os participantes estarão sujeitos a pagar entre 250 e 7 mil euros.

Eberhard Schneider, Zentrum EU Russland, Brüssel
Eberhard Schneider, do Centro UE-RússiaFoto: Eberhard Schneider

Ainda não se pode dizer quais serão as consequências dessa nova lei, considera Eberhard Schneider, do Centro UE-Rússia, em Bruxelas. "Uma grande manifestação foi autorizada, de modo que acredito que a ação contra os líderes de oposição tem como objetivo a não participação deles nos protestos." Evidentemente se queria enfraquecer a oposição, afirma o especialista.

Mas o ato contra a oposição não atingiria o efeito esperado, disse Schneider. Para ele, as pessoas não iriam às ruas somente por causa dos líderes da oposição. E as autoridades não proibirão completamente protestos da oposição futuramente, "pois provavelmente temem as críticas do exterior". Schneider acredita, porém, que o Kremlin pretenda canalizar ou controlar o movimento de oposição.

Caminho tortuoso

O professor Gerhard Mangott, especialista em Rússia do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Innsbruck, na Áustria, vê a abordagem mais dura contra a oposição como uma medida equivocada. "Se Putin acredita que, com isso, contribuirá para a estabilização da situação, está enganado, e dá razão àqueles que dizem que ele não compreende mais o que ocorre em seu próprio país." O tratamento concedido à oposição indica um mau entendimento da realidade ou um alto nível de incerteza e nervosismo por parte do governo, avalia Mangott.

Prof. Dr. Gerhard Mangott
Gerhard Mangott, professor da Universidade de InnsbruckFoto: Gerhard Mangott

"É claro que a situação não será mais fácil nos próximos meses", afirma o professor. Há decisões políticas com consequências sociais pela frente. A insatisfação aumentará, em parte por conta da elevação das tarifas para serviços municipais.

A liderança russa teme que os protestos políticos possam ser combinados com os sociais. "Há algumas semanas temos observado uma desvalorização significativa do rublo russo devido aos preços do petróleo em queda", aponta Mangott. Para ele, o governo está nervoso e sob pressão.

Andreas Schockenhoff, encarregados de assuntos russos do governo alemão, também vê as repressões conta líderes de oposição como um sinal equivocado aos cidadãos do país. O Kremlin estaria entrando em confronto com a própria sociedade em vez de dialogar.

Andreas Schockenhoff
Andreas Schockenhoff, comissário da Rússia pelo governo alemãoFoto: DW/E.Winogradow

"Poucos dias após a assinatura do enrijecimento da lei de reunião pelo presidente Putin, temos uma nova prova de que a situação política interna está se polarizando na Rússia", diz Schockenhoff. Para ele, é preocupante a possibilidade de a nova legislação ser aplicada com dureza e rigor – o que serviria somente para aumentar a insatisfação entre a população.

"Uma pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos de Moscou mostra que o desejo de mudança na Rússia não diminuiu após as eleições. Pelo contrário: a demanda por transformações e reformas cresce em todos os cantos do país. Por isso, uma ação desse tipo é algo perigoso", alerta o especialista.

LPF/ dw/lusa/afp
Revisão: Augusto Valente