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Todos falam dos soldados. E os "civis"?

dw/lk31 de agosto de 2003

No debate sobre novas tarefas para as Forças Armadas, fica de fora a questão dos jovens que prestam serviço social alternativo ao militar e contribuem para o funcionamento do sistema social na Alemanha.

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Assistência a idosos, uma das tarefas dos que prestam serviço civil alternativoFoto: AP

Um visitante desinformado se surpreenderia, num lar de idosos na Alemanha, ao registrar entre os profissionais a presença de rapazes entre 18 e 23 anos que se destacam pelo visual e jeito descontraídos. Eles ajudam a levantar e deitar os que têm dificuldade de locomoção, dão comida na boca, lavam, acompanham ao banheiro, medem a temperatura e a pressão arterial, levam para passear nas cadeiras de roda.

Utilidade pública

Não são auxiliares de enfermagem nem voluntários, e sim jovens que estão prestando o serviço social alternativo ao militar, que é obrigatório na Alemanha. São conhecidos por todos pelo nome abreviado de "civis". Oito horas por dia, cinco dias por semana, também em horário noturno e plantões de fim de semana, hoje eles são um complemento importante à atividade dos profissionais em hospitais, asilos de idosos, centros de assistência a dependentes químicos, no transporte de doentes, na assistência domiciliar a enfermos, em entidades que se dedicam à proteção ambiental.

Sua remuneração é um modesto soldo, mas dois terços dos que optaram por esta alternativa se declaram satisfeitos. Satisfação existe também por parte das entidades que lhes possibilitam prestar esse serviço, bem como das pessoas de quem eles cuidam, na maioria das vezes idosos. O contato entre as gerações faz bem a ambas as partes.

Questão de consciência

Ao ser instituída a obrigatoriedade do serviço militar na Alemanha do pós-guerra, em 1956, a Constituição previu também a possibilidade de recusa para o jovens que não quisessem pegar em armas por motivos de consciência. Somente em 1961, porém, criou-se o serviço social alternativo, a princípio com apenas 6850 postos em todo o país.

Nos anos 60 e 70, não era fácil a um jovem optar por ser um "civil". Precisava submeter-se a sabatinas sobre seus verdadeiros "motivos de consciência", era visto por muitos como "covarde". E, para não tentar ninguém a optar por esta alternativa por comodismo, o serviço civil sempre teve duração mais longa que o militar obrigatório. Nos primeiros anos, um "civil" precisava servir 20 meses, tempo que agora foi reduzido à metade, apenas um a mais que o serviço dos recrutas.

Demanda maior que a oferta

Não apenas o aumento do prestígio de suas atividades, mas também a satisfação pessoal que os jovens sentem servindo ao próximo contribuíram para que o serviço civil com o tempo passasse a atrair mais jovens. Em fins dos anos 90, 60% dos cadastrados para um serviço obrigatório optavam por ser "civis", contra 40% que preferiam ir para o Exército. Hoje os recrutadores atentam para dividir os jovens eqüitativamente entre as duas atividades. Atualmente há 100 mil "civis" em atividade, número inferior aos 162.500 postos existentes em toda a Alemanha. Desde 1961, dois milhões de rapazes optaram por essa alternativa.

Reflexos da reforma militar

Por ter sido criado em função do serviço militar obrigatório, o serviço civil está indelevelmente ligado a ele. Decisões a respeito da redução do contingente dos recrutas alistados para o Exército por meio do serviço militar obrigatório refletem-se também no contingente de "civis" — justamente por causa da divisão eqüitativa. No entanto, o debate político vem ocorrendo até agora apenas no setor militar. Uma solução ou alternativa para o serviço civil é urgente, diante das conseqüências que sua abolição — ou mesmo apenas a redução — teria para o sistema social na Alemanha.