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Torcida brasileira ocupa Casa da Alemanha para ver a final

Roberta Jansen, do Rio21 de agosto de 2016

Muitos torcedores brasileiros escolhem justamente as areias do adversário no Leblon para assistir à disputa pela medalha de ouro no futebol. O clima dominante, porém, é de amizade e descontração.

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Torcedores se reuniramFoto: DW/R. Jansen

Foi uma decisão ousada, especialmente para quem ainda amargava a derrota por 7 a 1 na Copa do Mundo. Mas a torcida brasileira resolveu tomar de assalto a Casa da Alemanha, na praia do Leblon, para assistir à final do futebol masculino nos Jogos Olímpicos. Era um mar de camisetas e bandeiras verdes e amarelas cercando uns poucos torcedores alemães. Se o Brasil perdesse, seria uma humilhação extra estar ali, em areias alemãs, sob a bandeira dourada, vermelha e preta. Mas, se ganhasse, seria a revanche perfeita.

O cônsul-geral da Alemanha, Harold Klein, bem que tentou organizar a festa. Estava lá, desde o início da tarde, junto com alguns amigos e um isopor cheio de cervejas, a despeito da chuva que caía desde às 16h. Klein estava confiante na vitória de sua seleção por 3 a 1 e também estranhou o número baixo de compatriotas no local. "A Casa da Alemanha é para os alemães, mas também para os brasileiros e para outros estrangeiros que estão no Rio. É um espaço para música, cultura, gastronomia, comunicação e encontro", resumiu, olimpicamente diplomático.

Olympia Rio Fans schauen das Olympia-Endspiel Deutschland gegen Brasilien in Rio
Aline Amorim e Daniela Santos lembram que rivalidade com os alemães não é como a com os argentinosFoto: DW/R. Jansen

Encontro foi o que faltou para as brasileiras Aline Amorim, de 34 anos, e Daniela Santos, de 31, ambas vestidas de verde e amarelo dos pés à cabeça e com ares de torcedoras ferrenhas. "A gente achava que ia ter um monte de alemão aqui para azarar", lamentou Aline. "E também para zoar com eles, lógico."

"Mas acho que o clima é de amizade, eles convidaram os brasileiros para estarem aqui", lembrou Daniela. "A despeito do 7 a 1, não temos aquela rivalidade que temos com os argentinos."

Astrud Lehmann, de 38 anos, e Marc Wilhelm, de 50, que estão no Rio desde o início dos jogos, eram dois dos poucos alemães na torcida. Ela estranhou a ausência de mais compatriotas, mas logo acrescentou: "A vitória vai ser ainda melhor assim".

Olympia Rio Fans schauen das Olympia-Endspiel Deutschland gegen Brasilien in Rio
Marc Wilhelm e Astrud Lehmann eram dois dos poucos alemães na torcidaFoto: DW/R. Jansen

A chuva parou por volta das 17h, e mais gente foi se reunindo em volta do telão: mais brasileiros. Um alemão, todo paramentado com as cores de sua bandeira, se destacava na multidão. "Acho que hoje vamos vencer de 8 a 2", provocou Charly Maurath, de 66 anos, que vive no Brasil há mais de 20 anos.

A seu lado, um brasileiro, Anderson Xavier, de 36 anos, decidiu dar uma força para os adversários e vestiu a camisa da seleção alemã. "Eu torço sempre pelo bom futebol, e o deles é melhor", explicou.

Do lado deles, o paulista Daniel Brant, de 32 anos, com a camisa do Brasil, resolveu participar da conversa: "A gente escolheu vir ver o jogo aqui para devolver o 7 a 1", disse. "Vamos vencer."

E o espírito era esse mesmo. Desde o início do jogo, os brasileiros fizeram a festa, cantando o Hino Nacional a plenos pulmões, entoando gritos de torcida e vaiando a cada vez que um jogador alemão tocava na bola. O gol de Neymar veio confirmar a convicção da torcida na vitória e fez aumentar a cantoria. "O campeão voltou, o campeão voltou", berravam, em coro.

Um alemão gaiato passou em frente ao telão fazendo o sinal do 7 com os dedos: vaias e mais vaias, mas num clima de festa. A cada chance de gol perdida para o Brasil, um outro alemão, cercado de verde e amarelo por todos os lados, levantava as mãos para o céu e agradecia. "Chucrute", berravam os brasileiros.

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Brasileiro Anderson Xavier vestiu as cores alemãs para dar uma força aos adversários, como Charly MaurathFoto: DW/R. Jansen

O gol de empate da Alemanha silenciou momentaneamente a torcida brasileira. Mas por pouco tempo. "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", voltaram a cantar os torcedores, a plenos pulmões, conforme o time pressionava por mais um gol. "Leleô, leleô, leleô, leleô." O sofrimento durante a prorrogação e as várias chances de gol desperdiçadas não abalaram a fé dos torcedores, que gritavam "Brasil, Brasil, Brasil".

Acusados por vários meios de comunicação estrangeiros de terem um estilo de torcida desleal e desrespeitoso, os brasileiros não estavam nem aí. E na hora da disputa por pênaltis reforçaram o estereótipo, vaiando em coro e gritando "vai perder, vai perder, vai perder" a cada vez que um jogador adversário se preparava para chutar a gol. Gritos, abraços, palmas e urros selaram a vitória e a conquista da inédita medalha de ouro.

E os alemães entraram no clima e aplaudiram também, entusiasmados, a vitória do Brasil. No melhor espírito olímpico, nas areias alemãs no Leblon.