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Tráfico de crianças é problema global

ef22 de novembro de 2003

No mínimo 1,2 milhão de crianças são vendidas por ano no mundo. O Unicef exige uma reação global para combater o tráfico em franca expansão por meio da internet.

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Mão-de-obra barataFoto: AP

Os negócios com seqüestro e escravização de crianças, muitas das quais são forçadas a praticar a prostituição, cresceu também nos países ricos da União Européia nos últimos anos. Segundo o juiz italiano Ferdinando Imposimato, que trabalha para a ONU na questão do comércio de crianças, são várias as causas dessa tragédia infantil. Uma delas seria a procura crescente por mão-de-obra barata, e a globalização se encarregaria do resto.

Reação global

– São vendidas anualmente cerca de 120 mil crianças da Europa Oriental para a Ocidental, avalia o Unicef. E Imposimato vê nisso uma evolução assustadora a exigir uma estratégia internacional, que deve compreender um acordo entre os órgãos públicos dos países de origem, dos que servem de corredor do tráfico e também das nações de destino das crianças vendidas ou seqüestradas. Só uma estreita cooperação entre estes Estados poderia evitar o tráfico humano.

A ONG Terre des Hommes confirma que mais de um milhão de crianças são vendidas anualmente. Como mão-de-obra barata, elas são obrigadas a tecer tapetes, a trabalhar em pedreiras ou na agricultura. Muitas são forçadas à prostituição e sofrem abusos sexuais e violência. A maioria é levada para longe de sua pátria e muitas são aprisionadas e maltratadas.

Oferta e procura

– As crianças vendidas para a Alemanha são em muitos casos exploradas sexualmente e forçadas a atividades criminosas, como roubar ou vender drogas, segundo a Terre des Hommes. Em muitas cidades grandes existe o problema cada vez maior dos trombadinhas – crianças trazidas do Leste Europeu especialmente para bater carteiras. Outro ramo de trabalho dos traficantes é a adoção ilegal. Como mercadorias, crianças são oferecidas em catálogos na internet. As preferidas para adoção são brancas, saudáveis e recém-nascidas.

Existem muitos traficantes poderosos em vários países europeus. O juiz Imposinato cita a Rússia e a Albânia como exemplos. Como se trata de um mercado que atua conforme a lei de oferta e procura, a responsabilidade, na sua opinião, é também das nações européias ocidentais; pois se a oferta das máfias russa e albanesa é grande na internet, a procura também é enorme nas nações ocidentais ricas. Daí a razão de o juiz italiano exigir um combate eficaz do crime organizado tanto nos países de origem quanto na Europa Ocidental "como mercado consumidor".

Negócio complicado

– Na maioria dos casos, o tráfico de crianças não é a simples venda de A para B. Ele percorre muitas estações em diversos países e existe uma ação recíproca entre os diferentes ramos do crime organizado. As atividades dos traficantes de drogas, armas e pessoas são estreitamente entrelaçadas e contam com a ajuda da corrupção, que é especialmente grave em países europeus orientais como a Rússia e a Albânia, segundo o juiz.

Meios modernos e impunidade

– Tudo isso dificulta o combate ao tráfico humano por parte da polícia, que em muitos países também é corrupta. Além do mais, os criminosos contam com os meios mais modernos de comunicação. A internet é uma plataforma confortável para oferecerem seus produtos além fronteiras e, com freqüência, faltam possibilidades de perseguir e punir tais criminosos, lamenta Imposimato.

Daí o juiz insistir na necessidade urgente de se encontrar um sistema para rastrear os que usam a internet como plataforma no comércio de mulheres e crianças. Ele exige também uma cooperação mais estreita entre os países europeus e ajuda dos mais ricos aos que não podem lutar com meios próprios.

"Nós temos também de fazer com que haja leis mundiais para combater o tráfico de mulheres e crianças. Temos igualmente de fomentar uma sensibilidade social, a fim de combater a lei do silêncio que existe em torno do tráfico humano", concluiu Imposimato. Há estimativas de que 500 mil mulheres são contrabandeadas por ano do Leste Europeu para os países ocidentais.