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Transparência demais prejudica

3 de maio de 2006

Os dois alemães seqüestrados no Iraque durante 99 dias foram finalmente libertados. O jornalista Peter Philipp, da Deutsche Welle, critica as especulações da mídia sobre um possível pagamento de resgate.

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René Bräunlich e Thomas Nitzschke, que foram seqüestrados no IraqueFoto: AP

Após a libertação dos dois reféns alemães no Iraque, restam diversas questões que prometem ficar em aberto. E é bom mesmo que elas não sejam esclarecidas. Afinal, apesar de toda a defesa da liberdade de imprensa e de informação, transparência demais prejudica.

Não prejudica mais os libertados, mas sim os outros alemães que se encontram no Iraque – e talvez em outras regiões em crise. Não foi por acaso que os dois engenheiros de Leipzig foram seqüestrados imediatamente após a libertação da refém alemã Susanne Osthoff no Iraque e das especulações e relatos da mídia sobre a suposta quantia de resgate.

Não interessa se são culpados ou inocentes

Em primeiro lugar, em se tratando de pagamento de resgate, transparência é uma questão que não se aplica. Não segundo a lei, mas por mera sensatez. A Alemanha não se envolveu na guerra do Iraque, mas isso não poupa a Alemanha e os alemães de possíveis conseqüências desta guerra.

Seqüestradores são terroristas – independentemente de estarem exercendo seu ofício por motivos políticos ou "apenas" para levantar dinheiro. E terroristas não ponderam a escolha de suas vítimas. Culpados? Inocentes? Envolvidos no conflito ou não? Isso é indiferente aos terroristas. O principal é atingir a meta a que eles se propuseram, algo que dá manchetes e dá dinheiro.

Qual a responsabilidade do Estado?

Diante deste quadro, não é indicado publicar ou deixar escapar pormenores sobre seqüestros e libertações de reféns. O fato de o governo alemão ter que fazer e de fato fazer tudo para ajudar os reféns está fora de questão e foi também desta vez mais uma vez comprovado. Mas uma outra coisa também não indicada é, após o retorno dos reféns, discutir séria e intensamente se o Estado não deveria impedir que acontecessem seqüestros como este.

Recomendações do Ministério do Exterior visivelmente não são suficientes para impedir cidadãos alemães de viajar a determinadas regiões de risco. Sejam turistas aventureiros, empresários ou – como neste último caso – funcionários de alguma empresa, sempre haverá quem não hesite em arriscar a vida, apesar das recomendações governamentais.

Risco é assunto pessoal

Um sistema político livre nunca estará na situação de garantir que isso jamais aconteça. Mas é preciso haver meios de reduzir os riscos e de punir os responsáveis. A confiança na ajuda do governo é positiva, em caso de emergência, mas não é pertinente abusar desta ajuda como uma carta branca.

Fernschreiber Autorenfoto, Peter Philipp

Mesmo diante da urgência em reconstruir o Iraque e do interesse das firmas alemãs em participar deste processo, os alemães não têm nada a ganhar se mantendo no país, até que a segurança e a estabilidade possam ser garantidas.

Peter Philipp, jornalista da Deutsche Welle, especialista em Oriente Médio, trabalhou durante 23 anos como correspondente em Israel.