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Trienal celebra renascimento do jazz no folclore imaginário

Augusto Valente17 de abril de 2004

A MusikTriennale de Colônia explora uma vasta palheta de estilos: da música clássica à eletrônica, de bandas de rua ao novíssimo jazz europeu, entremeado de elementos folclóricos.

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A MusikTriennale 2004 de Colônia promete sobretudo prazer. É preciso folhear seu programa para encontrar os tradicionais músicos de fraque, sérios, brandindo batutas e outros objetos contundentes. A capa mostra três rostos jovens, entre a alegria e o êxtase (o quarto é de Luigi Nono, homenageado especial). Embora o título Descobrimento Europa circunscreva seu âmbito geográfico, parece infinita a deliciosa palheta de formações e tendências musicais que o evento promete.

Jeffrey Tate
Maestro Jeffrey Tate

Um de seus quatro "capítulos", Kontinent Klang (som do continente), dedica-se aos grandes conjuntos intrumentais da Europa. Nomes como Jeffrey Tate, Ingo Metzmacher, Sylvain Cambreling e o jovem finlandês Sakari Oramo regem corpos orquestrais consagrados. Dentre eles: City of Birmingham Orchestra, Orchestre National de Lyon, Orquestra Nacional Russa e a Helsinki Festival Orchestra. O repertório vai de Joseph Haydn a Hans Werner Henze e Bruno Maderna, passando por Johannes Brahms e Claude Debussy. Já a Orquesta Sinfónica de Galicia oferece uma amostra da zarzuela, a ópera popular espanhola.

Mas o "som do continente" não são apenas orquestras: abrindo o festival, a Banda di Lecce, da Apúlia, na Itália, tomará as ruas da metrópole às margens do rio Reno, sendo seguida por outras duas bandas de rua, uma da região dos Abruzos e outra formada por italianos que moram em Colônia. Uma atração refinada é La Capella Reial de Catalunya, regida por Jordi Savall, que se especializa em música do Renascimento e Barroco espanhóis.

As várias idades do novo

Em Omaggio a Luigi Nono, concertos, filmes, exposições e um simpósio traçam um esboço da obra – e vida – do compositor italiano altamente politizado, que haveria completado 80 anos em 29 de janeiro de 2004. Dentre os 20 eventos, o mais espetacular é, sem dúvida, Prometeo. Essa "tragedia dell’ascolto", com duas horas e meia de duração, emprega quatro solistas vocais, dois narradores, coro, quatro grupos orquestrais e processamento eletrônico ao vivo. Com tamanha exigência de recursos e alto grau de dificuldade, cada (rara) execução desse monumento é sempre uma sensação para o mundo da música contemporânea. Como presença de honra, a viúva do compositor, Nuria Schoenberg Nono.

O programa deste "capítulo" é complementado por contemporâneos ou "parentes eletivos" de Nono, como Luigi Dallapiccola, Anton Webern, John Cage e György Ligeti. Surpreendente a riqueza do material cinematográfico sobre Nono. Ele inclui a filmagem de sua ópera Intolleranza e vários ensaios biográficos (inclusive Abbado – Nono – Pollini, registrando a colaboração estreita com o maestro Claudio Abbado e o pianista Maurizio Pollini), além do cubano Un hombre de éxito, única experiência do mago veneziano dos sons no cinema.

Mauricio Kagel
Compositor Mauricio KagelFoto: siemens musikstiftung

Immer jetzt

(Sempre agora) tem as estréias musicais como foco. "Do escândalo ao deleite auditivo", este núcleo temático da trienal tanto relembra primeiras audições históricas em Colônia – como a da Sinfonia nº 5, de Gustav Mahler, em 18 de outubro de 1904 – quanto destaca estréias "de verdade". Uma delas será Andere Gesänge, para soprano e orquestra, do argentino radicado na Alemanha, Mauricio Kagel. Amplify reúne 12 jovens compositores especializados em live-electronics, na fronteira entre a vanguarda e o pop, entre a música eletroacústica erudita e o scratching dos DJs.

O jazz mudou-se para a Europa

"Na fronteira" também define bem o foco do quarto capítulo que compõe a MusikTriennale 2004 de Colônia. Seu título, Folklore imaginaire, se refere a uma iniciativa lançada na década de 70 por músicos de jazz de Lyon, França. A Association à la recherche d’un folklore imaginaire (ARFI) propôs-se analisar o que constitui o folclore – comunicação, experiências e laços tradicionais comunitários – e, com base nestas categorias, formar um folclore próprio, não-real, imaginário.

A iniciativa rompeu qualquer muro estilístico que ainda protegesse o jazz de influências regionais. Seu programa: não fixar formas, apenas sugerir conteúdos, não defender um estilo, mas sim estar aberto por todos os lados. Paralelamente, presenças como do saxofonista norueguês Jan Gabarek ajudaram a impulsionar o jazz europeu em novas direções. E na década de 90, as fronteiras se tornaram definitivamente relevantes. Estamos ouvindo jazz? World music? Nujazz? Eurojazz?

"Jazz is not dead, it just has moved to Europe" (O jazz não morreu, ele apenas se mudou para a Europa). Inspirados nesta provocadora tese do crítico de jazz Stuart Nicholson, os organizadores da MusikTriennale aproveitaram o ensejo da ampliação da União Européia para reunir músicos da "velha", da "nova" Europa e mais além. Entre Alemanha, Armênia, Holanda, Itália, Islândia, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, Rússia e Turquia; e com direito a uma noite de gala em 30 de abril, véspera da cerimônia de ingresso dos dez novos países-membros.

A MusikTriennale se realiza de 17 de abril a 9 de maio.