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Tráfico infantil

4 de fevereiro de 2010

Antes mesmo do terremoto, Haiti tinha 400 mil órfãos, dentre uma população de 9 milhões de habitantes. Ainda assim, adoção imediata é arriscada, devido ao perigo do tráfico de crianças.

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Sobrevivente da cidade de Gros MorneFoto: AP

Nas ruas da capital devastada, crianças brincam num balanço perto de uma escola destruída em Delmas 2, bairro pobre de Porto Príncipe. Quando um grupo de jornalistas se aproxima, as crianças estendem a mão na esperança de conseguir água ou alguma coisa pra comer.

Perto dali, uma mulher desconhecida segura nos braços uma criança que chora desesperadamente – a mãe da pequena Marylin está fora, à procura de água. O pai desapareceu depois do terremoto, talvez esteja morto.

Diante de tantas crianças que se tornaram órfãs, ou que foram entregues por pais que não têm condições de criar os filhos, a vontade de ajudar é quase irresistível. Antes mesmo do terremoto, milhares de crianças trabalhavam como escravas para famílias menos pobres.

Haiti Erdbeben Flash-Galerie
Crianças brincam num campo de refugiados em Porto PríncipeFoto: AP

Escravidão e tráfico

Mikel-Ange é uma dessas crianças. A menina conta que agora vive nas ruas com a família que lhe empregava, e que continua trabalhando como antes. Mikel diz que gostaria de dormir mais, mas que tudo parece muito tenso depois do terremoto – a criança é que enfrenta as filas, busca água, lava a roupa na sarjeta.

Mikel-Ange, com seus olhos grandes atentos, é uma daquelas crianças que dá vontade de levar pra casa. Talvez esse tenha sido o sentimento que moveu os dez americanos presos no final de janeiro na fronteira com a República Dominicana, com 33 crianças dentro de um ônibus. "Nós queríamos salvá-los", disseram. "Eles podem ser traficantes de crianças", respondeu as autoridades haitianas.

Ninguém sabe dizer quantos órfãos existem em decorrência da tragédia no Haiti – antes da catástrofe eram 400 mil, dentre uma população de 9 milhões de habitantes. A adoção é uma possibilidade, mas há sempre o temor da ação de traficantes.

Rubén Wedel, da Kindernothilfe – agência de apoio ao desenvolvimento de crianças e adolescentes – acompanha há anos a situação do trabalho escravo infantil no Haiti e se preocupa com o quadro atual. "Eu alerto para o perigo, porque o tráfico infantil pode aumentar. Há menos controle sobre o desaparecimento de crianças. A situação é muito caótica. O primeiro passo é registrar as crianças. Se ninguém sabe da existência das crianças, ninguém irá notar a falta delas."

Flash-Galerie Impressionen aus Haiti
Ainda não se sabe quantos órfãos existem no HaitiFoto: Aktion Deutschland Hilft/Tim Freccia

Falta de informações básicas

Pelo menos um terço das crianças no Haiti não possui certidão de nascimento. O governo haitiano, agora, alerta para o perigo do tráfico – mas antes do terremoto mal falava sobre o tema. Ao lado da Guatemala, o Haiti sempre foi o paraíso para o tráfico humano no continente americano.

Centenas de crianças foram adotadas legalmente, o que é bom. Mas um número elevado e desconhecido de crianças desapareceu. Um "negócio" que pode custar 10 mil dólares por bebê, calcula o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

O Haiti é um país não signatário da Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, de 1993. O país com cerca de 250 mil crianças em trabalho escravo, segundo o governo, até agora não fez nada para mudar a situação.

Depois do terremoto, problemas como tráfico infantil, abuso e escravidão ficaram mais acentuados. A diferença é que agora há mais atenção sobre o assunto.

Um processo rápido de adoção, no momento, é perigoso: primeiramente, a criança tem que receber ajuda ainda no Haiti, é preciso fazer uma busca pelos pais, lidar com documentação, reconstruir um lar. Num momento posterior, a adoção supervisionada legalmente será bem-vinda – porque é assustadoramente alto o número de crianças órfãs, com histórico de sofrimento e trabalho escravo que precisam ser libertadas no Haiti.

Autor: Michael Castritius (np)

Revisão: Carlos Albuquerque