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Turquia intensificou espionagem na Alemanha, diz Berlim

8 de março de 2017

Em meio a tensões diplomáticas, governo alemão denuncia "aumento significativo" de atividades da inteligência turca no país. Ministro do Exterior turco diz que Alemanha deve decidir "se a Turquia é um país amigo ou não".

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Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV)
Em janeiro, presidente do BfV disse que não iria tolerar operações da inteligência turca em seu territórioFoto: picture-alliance/dpa

Num momento de tensões acirradas entre Berlim e Ancara, a poucas semanas do referendo sobre a reforma constitucional na Turquia, o governo alemão afirmou nesta quarta-feira (08/03) haver um incremento da espionagem por parte do governo turco na Alemanha.

Em comunicado, o Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV) disse  ter observado "um aumento significativo das atividades de inteligência turca" em solo alemão, sem dar mais detalhes.

Leia mais: Quem são os fãs de Erdogan na Alemanha?

As já desgastadas relações entre os dois países sofreram novos abalos neste mês em razão do cancelamento de eventos políticos promovidos pelo governo turco na Alemanha. Os comícios tinham como objetivo angariar apoio à reforma constitucional a ser decidida em referendo, que visa introduzir o sistema presidencialista na Turquia. Cerca de 1,4 milhão de cidadãos turcos residentes em solo alemão estão aptos a votar no pleito.

Numa tentativa de acalmar os ânimos, o ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, se reuniu como seu homólogo turco, Mevlüt Çavusoglu, em Berlim. Ambos concordaram com a importância de preservar as relações bilaterais. O representante de Ancara, porém, acusou a Alemanha de agir de modo hostil contra seu país e o Islã.

"Na Alemanha, vemos que muitos políticos e a imprensa [...] são muito severos e muito anti-Turquia, e vemos até sentimentos islamofóbicos", disse Çavusoglu. "Isso é inaceitável". Berlim, segundo o ministro, deve decidir se "se a Turquia é um país amigo ou não".

Gabriel rejeita comparações com o nazismo

Gabriel adotou um tom conciliatório, lembrando que a Alemanha precisa da Turquia para ajudar a frear o fluxo migratório rumo à Europa. Ele disse que apenas por meio do diálogo será possível normalizar as "amigáveis relações entre Alemanha e Turquia".

Gabriel (esq.) e Cavusoglu se reúnem em Berlim
Gabriel (esq.) e Çavusoglu se reúniram em Berlim para tentar apaziguar tensõesFoto: picture-alliance/AA/C. Ozdel

O ministro, porém, disse que "há alguns limites que não devem ser cruzados". Um deles, afirmou, "são as comparações com a Alemanha nazista". No último domingo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a Alemanha de "práticas nazistas" em razão do cancelamento dos eventos políticos no país. As declarações foram prontamente rechaçadas pelo governo alemão.

Após o encontro com Çavusoglu, Gabriel disse que as disputas internas da Turquia não devem ser importadas para a Alemanha. O ministro turco disse que deve receber seu colega alemão para novas rodadas de conversação "assim que possível".

Atritos após golpe de Estado

As relações bilaterais têm sofrido diversos abalos desde o fracassado golpe de Estado na Turquia, em julho passado, após o qual a Alemanha e outras nações europeias criticaram as duras medidas repressivas adotadas pelo governo de Erdogan.

A prisão na Turquia do jornalista teuto-turco Deniz Yücel, correspondente do jornal Die Welt, gerou revolta na Alemanha. Erdogan o acusou de ser agente alemão e membro do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Em breve, Erdogan deve viajar pessoalmente à Alemanha para realizar um comício, na tentativa de angariar apoio às reformas previstas no referendo do próximo mês. Seus críticos alertam que o sistema presidencialista proposto pelo governo, deverá expandir demasiadamente os poderes do presidente.

Divisões entre cidadãos turcos na Alemanha

Em razão do agravamento das tensões entre cidadãos turcos de extrema direita na Alemanha e apoiadores do PKK, o presidente do BfV, Hans-Georg Maassen ordenou em janeiro uma investigação sobre possíveis atos de espionagem praticados por agentes enviados à Alemanha pelo governo turco.

"Existe o risco de que essas disputas entre os apoiadores do PKK e os turcos nacionalistas e extremistas de direita possam se acirrar, uma vez que há um alto e contundente potencial de perigo em ambos os grupos", disse Maassen.

Sem se referir especificamente às possíveis espionagens turcas, o presidente do BfV disse em janeiro que a Alemanha não iria tolerar operações da inteligência turca em seu território.

RC/rtr/afp/dpa