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Ucrânia enfrenta deficiências no planejamento energético

27 de novembro de 2012

País do Leste Europeu desperdiça cerca de 30% da energia que produz, sobretudo por falta de infraestrutura no setor imobiliário. Mas colapso industrial dos anos 1990 deixou saldo positivo nas emissões de CO2.

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Foto: picture-alliance/dpa

Gregor Postl trabalha na Ucrânia como delegado comercial da Câmara Federal Econômica da Áustria. Seu escritório costuma estar ou quente demais ou gelado. "Não é muito fácil regular a temperatura do ambiente, quando o aquecedor não possui termostato", explica, "a gente abre ou fecha a janela de acordo com a necessidade". Seu escritório fica num prédio recém-construído na capital Kiev. "Mas a construção tem os erros antigos: isolamento ruim, calefação com controle central".

A maioria dos edifícios da cidade é abastecida por um sistema central de calefação á distância. Um aquecedor movido a gás, instalado no porão, atende a todas as salas, mas apenas de meados de outubro a meados de abril. Nos meses de verão, o sistema permanece desligado, como é comum em muitos dos antigos Estados soviéticos.

Porém na Ucrânia a situação é ainda mais grave, pois o país está na lista dos maiores desperdiçadores de energia da Europa. Segundo dados da agência Germany Trade and Invest, em proporção ao rendimento econômico nacional, o consumo energético na Ucrânia é três ou quatro vezes maior do que a média da União Europeia. O setor de construção demanda, sozinho, 30% desse total, em mais um recorde negativo para o país.

Edifícios precários, gás barato

O desperdício está diretamente relacionado às condições de prédios e casas: calafetação imperfeita dos telhados, janelas de vidros simples, quase nenhum isolamento térmico. As redes de calefação, energia elétrica e água quente estão obsoletas.

Lebensmittelgeschäft, L'viv, Ukraine
Isolamento térmico de edifícios é precário no paísFoto: CC/point of lviv

"Se não fizermos logo algo, corremos o risco de, daqui a cinco, dez anos, termos um colapso da infraestrutura", alerta Elena Rybak, diretora executiva da Agência Euro-Ucraniana de Energia (EUEA, na sigla em inglês). "Há pouco incentivo para que se economize energia", aponta Postl. "O gás custa pouco e continua a ser subsidiado. Isso é um convite ao desperdício."

No entanto, a situação pode mudar. Ao conceder créditos para a Ucrânia durante a crise econômica mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vinculou o empréstimo à redução dos subsídios no setor energético. Assim, em 2010 o governo elevou em 50% o preço do gás. Mas agora hesita em aplicar o novo aumento marcado para abril próximo, pois se trata de medidas impopulares entre os eleitores.

Parques industriais obsoletos, dependência de Moscou

Fábricas com estruturas obsoletas são verdadeiros escoadouros de energia, sobretudo em setores de intensa produção, como o de ferro, aço e fertilizantes minerais. A Ucrânia não possui praticamente nenhuma fonte de energia, por isso importa da Rússia até 80% do gás que consome, e isso tem sido fonte conflitos.

Sérias desavenças irromperam entre os dois Estados, por exemplo, depois que os russos aumentaram os preços do gás natural em 2005. Os bloqueios de abastecimento decorrentes afetaram até mesmo os países da União Europeia, já que a maior parte do gás exportado pela Rússia para o oeste do continente tem que passar por território ucraniano.

"A Ucrânia precisa dar novos rumos a sua política de energia, até mesmo por razões políticas", afirma Gregor Postl, "Existe vontade de agir, mas não no que se refere à eficiência energética." No campo das energias renováveis, têm-se visto mais mudanças. Postl explica por quê: "Uma turbina de vento é algo politicamente apresentável, uma parede de casa termicamente isolada, nem tanto".

Desde 2009, energia eólica e solar se tornaram negócios lucrativos na Ucrânia, que é o único país da antiga União Soviética a subvencionar a produção de energia verde. Isso explica a criação de parques de energia solar, por exemplo, na Península da Crimeia.

Marcas ruins para política climática

Na opinião de Postl, contudo, a urgência maior é de leis que regulamentem, na prática, a eficiência energética. Como aponta a Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ): "Não existem programas que apoiem os cidadãos no saneamento dos prédios".

É nessa lacuna que entram tanto as agências ocidentais de desenvolvimento quanto a União Europeia, com seu Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD). Estes organizam conferências e feiras para investidores europeus, e fornecem às comunidades verbas para iniciativas de saneamento. Até 2015, o BERD planeja investir 73 milhões de euros em 40 projetos de eficiência energética.

De acordo com a Agência Euro-Ucraniana de Energia, "existe um potencial incrível para projetos de eficiência energética". Mas quando eles são realizados, a justificativa costuma ser "redução de custos". Empresários e políticos raramente falam de proteção do clima. Não é à toa que Climate Action Network Europe reserva para a Ucrânia os piores índices em defesa ambiental.

Logo Europäisch-Ukrainischen Energieagentur
Agência Euro-Ucraniana de Energia procura atrair novos investidores para o setor

A política de proteção climática é geralmente vista como um luxo caro, de que o país não precisa. Afinal, assim como ocorreu na Rússia, a redução das emissões de CO2 da Ucrânia em relação a 1992 chegou a superar as exigências do Protocolo de Kyoto. Tal se deveu ao colapso das indústrias nos anos 90.

A queda foi tão drástica, que o país conseguiu acumular excedentes de direitos de emissão, com base no mecanismo internacional de comércio de emissões. Tanto Kiev quanto Moscou querem transferir esse "capital" para um novo acordo internacional de proteção do clima. A decisão a respeito está prevista para o fim deste ano, na próxima Conferência Mundial do Clima, na cidade sul-africana de Durban.

Autoria: Torsten Schäfer (ie)
Revisão: Augusto Valente