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Um metrô para Veneza

(ns)15 de junho de 2003

Os trabalhos do artista punk Martin Kippenberger e da fotógrafa Candida Höfer representam a Alemanha na Bienal de Veneza. Inclusive a "estação de metrô" que o talento multimídia esboçou.

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Instalação de Martin KippenbergerFoto: Albrecht Fuchs, Köln

Os dois artistas alemães escolhidos pelo curador do Pavilhão Alemão em Veneza, Julian Heyen, não poderiam ser mais diferentes. Filha de fotógrafos, Candida Höfer destaca o ser humano em seu ambiente cultural e social nas suas fotografias.

Depois de documentar como pessoas se comportam em lugares públicos em Liverpool, Candida dedicou-se, nos anos 70, a fotografar trabalhadores turcos na Alemanha. Desde a década de 80, sua lente enfoca principalmente espaços públicos como salas de concertos, bibliotecas, cafés, ginásios de esportes. E foi com esses trabalhos destacando a arquitetura, e nos quais o ser humano é uma presença subentendida, que ela se tornou conhecida.

Já Martin Kippenberger, nascido em Dortmund em 1953, terá uma apresentação póstuma, pois faleceu em 1997. Ele é tido como um dos enfants terribles dos anos 80, que ajudaram a projetar a arte alemã no cenário internacional. Suas raízes estão fincadas na cultura pop. Artista multimídia, Kippenberger era pintor, desenhista, designer, fez arte conceitual, instalações e fotografias.

Metrô around the world

No início dos anos 90, teve a idéia de fazer uma "linha de metrô" artística, ligando várias partes do mundo, o "metro-net". Mas em vida conseguiu realizar apenas três estações: no Canadá, na ilha grega de Syros e na Feira de Leipzig. O curador Julian Heynen diz não ter nenhum problema em dar continuidade ao metro-net. "O espólio de Kippenberger, o arquiteto do projeto, que ainda é vivo, e eu, conviemos que é possível fazer isso", declarou a uma agência alemã. Além do mais, isso seria no sentido do artista, que gostava de delegar a outros a finalização de seus trabalhos. Mas Heynen fez suspense e não quis adiantar do que se trata.

Sobre a escolha dos dois nomes, ressaltou em primeiro lugar a excelente qualidade de suas obras e o fato de ambos não terem tido o devido reconhecimento, durante muito tempo, por parte dos museus e circuitos culturais oficiais. Somente à primeira vista os trabalhos de um não teriam nada a ver com os do outro. Enquanto as representações arquitetônicas vazias de Candida Höfer colocam a questão do ser humano "por supressão, através de pistas", Martin Kippenberger ressaltou o aspecto social, tematizando constantemente a identidade artística, em sua obra experimental e irreverente. Em busca de um estilo próprio, ele acabou optando por uma ausência proposital de estilo.

Elementos alemães na obra

Embora características nacionais não tenham desempenhado nenhum papel na escolha, Heynen identifica alguns elementos que classifica como tipicamente alemães. "Em Candida Höfer destaca-se uma mescla notória de observação extremamente precisa e poetização romântica dos seus motivos. Kippenberger está imbuído da idéia alemã do artista como gênio. Além do mais, suas últimas obras deixam entrever uma melancolia que chega a lembrar Dürer", declarou ao semanário Der Spiegel. A vida de artista é, de fato, tema de inúmeros desenhos, até em papel timbrado de hotel, e esboços dos vários apartamentos em que morou.

A profanação de Nefertite

Biennale Venedig 2003 Wettbewerbsbeitrag der Ungarn "Little Warsaw" Nosfretete
Vídeo "Nofretite", do grupo húngaro conhecido como "Little Warsaw". Foi nesta escultura de bronze que se encaixou o busto da raínha egípcia.Foto: AP

Entretanto, um vídeo que será exibido na Bienal de Veneza, está causando celeuma no Egito. Como se sabe, o busto da bela rainha Nefertite é uma das grandes atrações turísticas dos museus estatais de Berlim. Pois o Museu Egípcio, que tem a honra de contá-la em seu acervo, cedeu o busto por alguns momentos para a gravação de um vídeo, sob as mais estritas medidas de segurança. Um grupo de artistas húngaros colocou-o por alguns instantes sobre o torso nu de uma mulher, o que motivou o bafafá.

Tal irreverência com a esposa do faraó Akhenaton – que aliás foi um "faraó herege", por ter-se afastado dos deuses antigos – despertou a santa ira dos egípcios, que protestam com veemência pela "profanação", desde que o caso tornou-se público, no início de junho. Nos jornais egípcios não faltaram vozes indignadas pedindo a restituição da obra esculpida por Thutmoses em 1372 a.C.. Nefertite, aliás, foi encontrada em 1912 nas escavações chefiadas pelo arqueólogo alemão Ludwig Borchart, sendo atribuída legalmente pelos egípicos aos alemães na partilha. Por via das dúvidas, até o embaixador egípcio em Berlim foi dar uma olhada na rainha, certificando-se que tudo estava em ordem.

Aberta no domingo 15 de junho, a Bienal de Veneza vai até 2 de novembro.