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Sucessão francesa

7 de maio de 2007

Lideranças políticas européias não poupam elogios ao presidente eleito da França. Embora sintonize politicamente com Barroso e Merkel, Sarkozy tem planos que podem gerar atritos entre Paris, Bruxelas e Berlim.

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Sarkozy venceu o segundo turno com 53% dos votosFoto: AP

Depois da vitória do conservador Nicolas Sarkosy sobre a socialista Ségolène Royal por 53% a 47% dos votos, neste domingo (06/05), vários líderes políticos europeus esbanjaram elogios sobre o novo presidente francês e disseram esperar dele novos impulsos para a integração européia.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, que atualmente exerce a presidência rotativa da União Européia, disse acreditar que poderá "cooperar muito bem com ele para intensificar as relações teuto-francesas", consideradas uma locomotiva do bloco.

O presidente do grupo parlamentar teuto-francês no Bundestag, Andréas Schockenhoff (CDU), disse que, com Sarkozy, haverá um "bom eixo Berlim-Paris" tanto nas metas da política interna quanto na política européia. "Sua intenção de fortalecer a identidade européia em relação aos EUA coincide também com um desejo da Alemanha", afirmou.

Fã da política econômica de Blair

Sarkosy, por sua vez, deve inicialmente priorizar a política interna e considera a reforma econômica realizada por Tony Blair no Reino Unido como modelo para a França, cuja economia tem um dos índices de crescimento mais baixos da Europa (2,1% em 2006). A taxa de desemprego do país (8,7% em março passado) só é superada pela Polônia e a Eslováquia.

A França é o principal parceiro comercial da Alemanha – comprou cerca de 10% das exportações alemãs em 2006 –, mas o novo presidente já sinalizou que quer estreitar também as relações com o Reino Unido, abaladas no governo Chirac por causa do não francês à guerra no Iraque. Sarkosy "é suficientemente jovem para não ficar amarrado à tradicional aliança teuto-francesa na Europa", disse um porta-voz de Blair nesta segunda-feira.

EUA ou UE?

Um outro sinal de que Sarkosy não dará exclusividade às relações com a Alemanha é que em seu primeiro discurso após a eleição ele destacou a importância da parceria com os Estados Unidos. Na campanha eleitoral, ele prometeu um "diálogo sem arrogância" com Washington.

Mesmo assim, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, espera que o novo presidente francês também desempenhe o "papel de um motor", em se tratando de fortalecer as instituições da UE e de consolidar a política européia.

Innenminister Nicolas Sarkozy bei Angela Merkel in Berlin
Merkel e Sarkozy em 16/02/2006 em Berlim: reencontro em breveFoto: AP

Embora Sarkozy seja um conservador como Barroso e Merkel, alguns analistas prevêem ele poderá ser um parceiro difícil para Bruxelas e Berlim. Ele pretende se encontrar em breve com Merkel para falar sobre um tratado enxuto para a UE [que não mais se chamará Constituição] e sobre a "renovação do eixo teuto-francês e seu conteúdo".

Ceticismo da mídia

Sarkozy tem algumas propostas que prometem causar atritos com os vizinhos e a UE, como sua intenção de limitar a autonomia do Banco Central Europeu ou de sanear o conglomerado aeroespacial EADS em proveito dos acionistas franceses.

Além disso, ele espera que a UE sirva de escudo contra efeitos negativos da globalização e quer proteger a indústria francesa, principalmente a do setor energético, contra incorporações hostis. Pelo menos num ponto ele concorda com Merkel: é contra o ingresso da Turquia na União Européia.

Todos esses planos contrariam a política da Comissão Européia, embora no discurso da vitória Sarkozy tenha garantido que sempre foi um europeu convicto e que "a França está de volta à Europa".

A mídia européia vê essa retórica com ceticismo. Muitos jornais europeus questionaram, nesta segunda-feira, se o novo presidente francês realmente conseguirá cumprir suas promessas eleitorais tanto na política interna quanto na UE, cuja presidência a França assumirá em junho de 2008. (br/gh)